O Evangelho sublinha a ideia de que Jesus vivo e
ressuscitado é o centro da comunidade cristã; é à volta d’Ele que a comunidade
se estrutura e é Dele que ela recebe a vida que a anima e que lhe permite
enfrentar as dificuldades e as perseguições. Por outro lado, é na vida da
comunidade (na sua liturgia, no seu amor, no seu testemunho) que os homens
encontram as provas de que Jesus está vivo.
Jesus vem e está no meio dos discípulos. Diz-lhes: “A paz esteja
convosco!” Podemos compreender a saudação de Jesus como um desejo. Mas podemos
também traduzir: “A paz para vós!” Isto é, segundo as próprias palavras de
Jesus na tarde de Quinta-Feira Santa: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz!”
Estas palavras são, doravante, realizadas, eficazes. Jesus não deseja somente
que os seus discípulos estejam em paz. Dá-lhes verdadeiramente a sua paz. Não é
a paz que o mundo dá. A paz do mundo é a ausência de guerra e de violência,
muitas vezes a paz dos cemitérios! A paz que Jesus dá é a plena realização da
vontade criadora do Pai.
Deus cria os seres humanos, para que eles
sejam “à sua imagem”, isto é, em dependência de amor com Ele. É construindo
entre eles relações de amor que os seres humanos permitirão a Deus imprimir
nessas mesmas relações a imagem do que é em si mesmo, no mistério do Pai, do
Filho e do Espírito Santo.
Enfim, a vontade criadora de Deus é também que os
seres humanos “dominem a terra”, que façam do seu próprio corpo e do mundo
material o lugar cósmico onde o amor pode espalhar-se e encarnar-se. A paz
realiza-se apenas quando se cumpre esta tríplice harmonia:
harmonia dos seres humanos na sua relação com
Deus,
harmonia nas suas relações mútuas,
harmonia com o seu corpo e o cosmos.
A paz é uma totalidade de luz. É isso que
Jesus veio cumprir: reconciliar os homens com Deus, reconciliá-los entre si e, no
seu corpo de Ressuscitado, fazer entrar o próprio cosmos nesta luz. A paz
acontece, assim, plenamente dada na sua Presença, pela força do Espírito.
Resta-nos, apenas, acolhê-la! Ora, o que é obstáculo à paz é a recusa da
vontade criadora, a recusa do amor. Eis porque Jesus dá aos Apóstolos o poder
de absolver os pecados, isto é, de afastar o obstáculo que impede a “livre
circulação do amor”. Acolhendo a presença de Jesus, deixando-o depositar em nós
a fonte de toda a reconciliação, para reaprender a amar, permitimos que Ele
continue em nós a sua ação de paz.