Duas
mulheres se saúdam no pórtico da Nova Aliança (Lc 1,39-45). Uma já idosa, a
outra ainda jovem. Ambas sintetizam toda a História Sagrada. Isabel enrugada
pela idade era bem o sinal de longos séculos de preparação para a vinda do
Messias prometido. Maria, a cheia de graças, imaculada em sua conceição,
prognosticava a vinda de Jesus. Em comum nelas brilhava a esperança e a
maternidade de ambas as engajara no plano de Deus ao qual deram total adesão.
Viveriam a missão a elas confiadas pelo Todo-poderoso. As duas crianças que
nasceriam mostrariam que para o Criador nada é impossível.
Com
efeito, Isabel era estéril e Maria era virgem. Num encontro singular Isabel se
torna a primeira teóloga do novo Testamento: “Donde me é dada a graça que venha
visitar-me a mãe de meu Senhor?” Maria faz resplandecer sua gratidão para com
Deus: “Minha alma glorifica ao Senhor”. Havia, contudo, uma diferença profunda
entre os filhos de Isabel e Maria. Um, pelo milagre, era filho de Zacarias, o
outro, também por um prodígio maravilhoso, era o próprio Filho de Deus,
concebido do Espírito Santo. Maria saudou sua ditosa prima e desde que sua voz
chegou a Isabel o menino exultou de alegria em seu seio. No mistério dos
encontros que marcam as existências humanas, jamais se veria cena tão
extraordinária, qual seja o encontro invisível de duas crianças ainda no ventre
materno. Naquele momento duas mulheres grávidas e dois meninos privilegiados
anunciavam ao mundo que a desgraça de Eva estava desterrada da humanidade.
Raiava, de fato, a expectativa da salvação.
A
beatitude de Maria se enraíza na fé e, mais tarde, diante dos prodígios
operados por Cristo. Perante as sublimes palavras de Jesus outra mulher
exclamaria no meio da multidão: “Feliz aquela que te trouxe e te alimentou” (Lc
11,27). Maria foi aquela que acolheu a mensagem divina e a guardou dentro de
seu coração com muito amor. Ao se aproximar o Natal nada melhor do que cada um
provar a experiência vivida pela Mãe de Jesus. Maria tinha consciência de que
Deus interviera na sua vida: “O Poderoso fez em mim grandes coisas”. Quantos
infelizmente não percebem a obra do Criador em suas existências. Pela fé é
preciso que todo aquele que crê descubra as maravilhas divinas em si e em seu
derredor. A exemplo do que ocorreu com Maria, Deus tem um projeto especial para
cada um em particular. A solenidade do Natal oferece clima propício para que o
cristão possa aquilatar as riquezas com as quais Deus o cumula. Maria tinha
certeza absolta e, por isto, pôde dizer que seu espírito exultava de júbilo. É
claro que ninguém pode se comparar com ela, mas a experiência de Maria tem
pontos comuns com os nossos, pois a seu exemplo nossa vida gira ou deve
circular em torno de Jesus. A missão da Mãe de Jesus foi única, singular, a
cada um dos remidos por seu Filho divino impende uma tarefa específica a ser
executada nesta terra.
As
experiências espirituais que a cada ciclo litúrgico cada um vive, precisa
contribuir para sua própria perfeição no cumprimento do encargo profissional,
familiar e na sociedade em geral. Quando, porém, a fé parece obnubilada, a
esperança se esvai e o coração se esvazia, Maria está a proclamar: “Animo, o
Senhor está próximo e Ele restabelecerá o significado sublime da missão que Ele
te confiou”. Como Isabel e Maria que em tudo acolheram os planos divinos.
imersos nos mistério de um Deus que se encarnou e habitou entre nós. Novas
luzes brilharão. É que o reencontro com Jesus no seu Natal é sempre um momento
privilegiado para se tomar consciência da importância do serviço de cada um
para o bem próprio e da sociedade. Quem bem entender o sentido do encontro de
Isabel e de Maria sentirá a graça de Deus mobilizando todo o seu ser e dando
novas perspectivas para o futuro. Trata-se da experiência da conversão para uma
disponibilidade semelhante a que tiveram Isabel e Maria. Elas cumpriram o que
Deus delas pediu. Seus filhos João Batista e Jesus deixariam um exemplo de
total correspondência aos desígnios divinos. Fundado na experiência de tão
extraordinários personagens o cristão redescobre a realidade do itinerário que
Deus propõe no curso de sua vida. Isabel deu ao mundo o Precursor do Salvador,
Maria foi a Mãe do Messias, o esperado das nações e marcaram História humana.
Ambas nos incitam a ir até Jesus no seu Presépio para reconhecer que nossas
atividades, por insignificantes que possam parecer, têm uma repercussão imensa
em toda a Igreja e em toda a sociedade. Tudo depende do modo como as
realizamos.
*Côn.
José Geraldo Vidigal de Carvalho