É o segundo aniversário do Papa emérito depois da renúncia. Papa
Francisco assegurou-lhe que tinha orado por ele durante a Santa Missa.
A ligação entre os dois Papas, reinante e emérito, ocorreu hoje através
do cabo telefônico. No aniversário de 87 anos do Papa Bento XVI, de fato, o
Papa Francisco chamou-o para cumprimentá-lo assegurando-lhe de ter orado por
ele de maneira especial esta manhã na celebração da Santa Missa.
Conforme anunciado pela Assessoria de Imprensa do Vaticano, o Papa
emérito decidiu passar o dia do seu aniversário no habitual clima de meditação
e oração, próprio da Semana Santa, sem formas especiais de celebração.
Joseph Ratzinger nasceu no dia 16 de abril de 1927 em Marktl am Inn, uma
pequena cidade da Baviera, está vivendo o seu segundo aniversário após a
renúncia.
Até no ano passado, quando ele ainda estava em Castel Gandolfo,
recebeu um telefonema do Papa Francisco, que já o tinha recordado durante a
Missa diária celebrada na Casa Santa Marta. “O Senhor esteja com ele,
conforte-o e lhe dê muito conforto”, tinha dito o pontífice.
É precisamente na residência de Castel Gandolfo que, no dia 23 de março
de 2013, pela primeira vez se encontraram o Papa Francisco e o Papa Bento XVI.
Os dois, depois do histórico abraço, ajoelharam-se em oração.
Depois do 2 de maio de 2013, terminado período passado em Castel
Gandolfo, Bento XVI foi morar no Mosteiro Mater Ecclesiae, no Vaticano.
Desde
essa data, tem aparecido em público duas vezes: 5 de julho, por ocasião da
inauguração de uma estátua de São Miguel Arcanjo nos jardins do Vaticano, e 22
de Fevereiro deste ano, quando, a convite de Francisco, participou do primeiro
consistório para a criação de novos cardeais.
LEMBRANDO A ÚLTIMA AUDIÊNCIA GERAL DO PAPA BENTO XVI.
“Também eu sinto
no meu coração o dever de principalmente agradecer a Deus” disse Bento XVI.
“Sinto de levar todos na oração, num presente que é aquele de Deus, onde coloco
cada encontro, viagem, cada visita pastoral”.
Lembrando o 19
de abril de 2005, momento da sua eleição, elevou aos céus essa oração “Senhor,
por que me pede isso e o que me pede? É um peso grande que me coloca nas
costas, mas se o senhor me pede, nas suas palavras lançarei as redes, com a
certeza de que me guiará, ainda com todas as minhas debilidades”.
A barca da
igreja, nesses oito anos, passou por “momentos de alegria e luz, mas também
momentos não fáceis”, porém, continuou Bento XVI “sempre soube que naquela
barca está o Senhor e sempre soube que a barca da Igreja não é minha, não é nossa,
mas é sua”, e disse “O Senhor não a deixa afundar; é Ele que a conduz, sem
dúvida também por meio dos homens que escolheu, porque assim o quis”.
Convidou todos a
“renovar a firme confiança no Senhor, a confiar-nos como crianças nos braços de
Deus, certos de que aqueles braços nos sustentam sempre e é o que nos permite
caminhar a cada dia, também no cansaço”. Que cada um de nós “sinta a alegria de
ser cristão”. “Um Papa não
está só na direção da barca de Pedro, ainda que seja a sua primeira
responsabilidade”, afirmou enquanto agradecia os seus colaboradores mais
próximos. “Eu nunca me senti só ao levar a alegria e o peso do ministério
petrino”.
Ele agradeceu
também: “Principalmente vós, caros
Irmãos Cardeais: a vossa sabedoria, os vossos conselhos, a vossa amizade foram
preciosos para mim; os meus Colaboradores, começando pelo meu Secretário de
Estado que me acompanhou com fidelidade
nestes anos; a Secretaria de Estado e toda a Curia Romana”.
“O coração de um
Papa se estende a todo o mundo”, disse Bento XVI referindo-se à natureza da
Igreja, que não “é uma organização, uma associação com fins religiosos ou
humanitários, mas um corpo vivo, uma comunhão de irmãos e irmãs no Corpo de
Jesus Cristo, que nos une a todos”.
Referindo-se à
sua renúncia assegurou que tomou “a decisão mais justa não para o meu bem, mas
para o bem da Igreja” porque “Amar a Igreja significa também ter a coragem de
fazer escolhas difíceis, sofridas, tendo sempre diante o bem da Igreja e não a
si mesmos”.
“Quem assume o
ministério petrino não tem mais privacidade”, afirmou também o Papa, pois a
partir do momento que se aceita o ministério Petrino o Papa “não se pertence
mais, pertence a todos e todos pertencem a ele”.
Para um Papa,
portanto, não existe a possibilidade de retornar mais à privacidade. Portanto,
“Não retorno à vida privada, a uma vida de viagens, encontros, recepções,
conferências, etc”, disse o Papa, porque “Não abandono a cruz, mas permaneço de
modo novo junto ao Senhor Crucificado”.
Bento XVI
esclareceu que continuará “a acompanhar o caminho da Igreja com a oração e a
reflexão, com aquela dedicação ao Senhor e à sua Esposa que sempre procurei
viver até agora a cada dia e que gostaria de viver sempre”.
“Deus guia a sua
Igreja, a sustenta sempre também e principalmente nos momentos difíceis. Não
percamos nunca esta visão de fé, que é a única verdadeira visão do caminho da
Igreja e do mundo”, conclui o Santo Padre.
MAIS UM POUCO DA INTENSIDADE DA CATEQUESE DO PAPA EMÉRITO EM UMA AUDIÊNCIA GERAL
“...Jesus não
nos diz algo sobre Deus, não fala simplesmente do Pai, mas é a revelação de
Deus, porque é Deus, e revela assim a face de Deus. No Prólogo do seu
Evangelho, São João escreve: Deus, ninguém jamais o viu: Ninguém jamais
viu Deus. O Filho único que está no seio do Pai foi quem o revelou” (Jo 1,18).
"Revelar a
face de Deus". A este respeito, São João, no seu Evangelho, relata um fato
significativo que ouvimos então. Aproximando-se a Paixão, Jesus tranqüiliza
seus discípulos, exortando-os a não terem medo e a ter fé, e depois, começa um
diálogo com eles no qual fala de Deus Pai (Jo 14,2-9). Em um determinado
momento, o apóstolo Filipe pede a Jesus: “Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos
basta” (Jo14, 8).
Filipe é muito prático e concreto, diz também o que nós
queremos dizer: "queremos ver, mostra-nos o Pai", pede para
"ver" o Pai, para ver a sua face. A resposta de Jesus é respondida
não só a Felipe, mas também a nós e nos introduz no coração da fé cristológica;
o Senhor diz: "Quem me viu, viu o Pai" (João 14, 9).
Esta expressão
contém em síntese a novidade do Novo Testamento, aquela novidade que apareceu
na gruta de Belém: é possível ver a Deus, Deus manifestou a sua face, é visível
em Jesus Cristo. “Deus está certamente acima de todas as coisas, mas se dirige
a nós, escuta-nos, vê-nos, fala, estabelece aliança, é capaz de amar.
A história da salvação é a história de Deus com a humanidade, é a história deste relacionamento de Deus que se revela progressivamente ao homem, que faz conhecer a si mesmo, a sua face”.
A história da salvação é a história de Deus com a humanidade, é a história deste relacionamento de Deus que se revela progressivamente ao homem, que faz conhecer a si mesmo, a sua face”.
Toda a nossa
existência deve ser orientada ao encontro com Jesus Cristo, ao amor por Ele; e,
nisso, um lugar central deve ter o amor ao próximo, o amor que, à luz do
Crucifixo, nos faz reconhecer a face de Jesus nos pobres, nos fracos, nos
sofredores. Isso é possível somente se a verdadeira face de Jesus tornou-se
familiar para nós na escuta da sua Palavra, no falar interiormente, no entrar
nesta Palavra de forma que realmente O encontremos, e, naturalmente, no
mistério da Eucaristia.
No Evangelho de São Lucas é significativo o passo dos
dois discípulos de Emaús, que reconhecem Jesus ao partir o pão, mas preparados
pelo caminho com Ele, preparados pelo convite que fizeram a Ele de permanecer
com eles, preparados pelo diálogo que fez arder seus corações; assim, ao final,
eles veem Jesus.
Também para nós a Eucaristia é a grande escola em que
aprendemos a ver a face de Deus, entramos em relacionamento íntimo com Ele e
aprendemos, ao mesmo tempo, a dirigir o olhar para o momento final da história,
quando Ele irá nos saciar com a luz da sua face. Sobre a terra nós caminhamos
para essa plenitude, na expectativa alegre que se realiza no Reino de Deus.”
Papa Emérito
Bento XVI
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