Eis o grande
mistério que hoje somos convidados a celebrar em nossa assembléia. Antes de
entrar na escuridão de sua paixão e morte, Jesus quis, por assim dizer, revelar
antecipadamente o significado com este milagre.
Da mesma forma, a Igreja,
hoje, antes de entrarmos no mistério litúrgico da Páscoa, quer que consideremos, como num esboço, a ideia a seguir: o que aconteceu para Lázaro em
particular, isto é, sua passagem da morte para a vida, a Páscoa de Cristo o
realiza em prol de toda a humanidade; sua morte vence a morte do homem; sua
ressurreição é penhor da ressurreição do homem.
Lázaro morto é, portanto, o símbolo de toda a humanidade morta
espiritualmente pelo pecado: por isso, “como por um homem entrou o pecado no
mundo, e pelo pecado a morte, assim a morte passou a todo o gênero humano,
porque todos pecaram” (Rm 5,12). Passou para todos os homens!
Como um
gadanho sobre a erva do campo, assim sobre o ombro de cada pessoa Jesus diz:
Vem!
Quando Lázaro estava para morrer, as irmãs mandaram avisar a Jesus:
“Aquele que tu amas está doente”, Jesus naquele momento se encontrava com seus
discípulos num lugar tranquilo, longe do ódio dos judeus que tinham decidido
matá-lo.
Por
isso, seus discípulos ficaram surpresos com a decisão de Jesus de querer
voltar para a Judeia para ver seu amigo Lázaro morto. “Mestre – lhe
disseram – há pouco os judeus te queriam
apedrejar, e voltas para lá? Jesus sabia bem o que o esperava em Jerusalém.
Ele mesmo o tinha predito: “eis, nós agora vamos a Jerusalém e lá o filho do
homem será entregue a seus inimigos e será morto.”
Por que então foi para
Jerusalém?
Foi seu amor ao
amigo. Eis a razão de tudo. Deus continuou a amar o homem , embora rebelde,
embora espiritualmente morto. Este grande amor de Jesus encontra no evangelho
de hoje uma das manifestações mais tocantes: diante do amigo morto – refere o
evangelista João – Jesus ficou interiormente comovido e chorou.
Jesus amou
também como homem, porque é próprio do homem comover-se e chorar. Experimentou
ele também aquele sofrimento interior, um doloroso aperto de coração e aquele
vazio angustiante da mente que invadem o homem diante da morte de uma pessoa
realmente querida.
Quem sabe quanta e que profunda dor se estampara em seu
rosto a ponto de arrancar dos presentes a exclamação: “Olhai como o amava!”
O que aconteceu no túmulo de Lázaro foi um sinal , foi o início de um
milagre que Jesus continua realizando ainda hoje na Igreja e no mundo. Ele
se enterneceu de compaixão e de amor também por mim, no dia em que, no batismo, me chamou da morte para a vida, das trevas para a luz; comove-se ainda hoje
de amor quando me levanta do mal e da queda com seu perdão. Também neste
momento ele está diante de nós, como estava diante do túmulo de Lázaro em Betânia.
Nós ainda não fomos ressuscitados completamente; não o seremos nunca enquanto
estivermos nesta terra. Toda nossa vida cristã é uma luta contínua contra o mal
e contra a morte.
Esta procura está sempre a nos engolir, como as ondas do
mar, que carregaram consigo tudo o que encontram na praia. A morte nos cerca.
E não apenas a morte física, que corrói minuto por minuto nossa existência.
Também a outra morte, que a Bíblia chama, “a segunda morte”, a morte do
espírito.
Na sociedade perversiva e pagã em que vivemos atualmente, o pecado
abunda, por todos os lados, insinua-se em todas as relações humanas... Mas o
pecado e a morte também nos tentam no interior de nossa casa; os germes mais
perigosos são, aliais, precisamente aqueles que carregamos em nós mesmos, em
nossa carne.
MAS
AGORA HÁ UM SALVADOR, HÁ JESUS CRISTO ENTRE NÓS. ELE ESTÁ DIANTE DE NÓS E NOS
CHAMA COMO A LÁZARO: VEM PARA FORA! VEM PARA FORA DE TUA INDIFERENÇA, DE TUA
PREGUIÇA, DE TEU EGOÍSMO, DA DESORDEM EM QUE VIVEREIS; VEM PARA FORA DE TUA
DISSIPAÇÃO, DE TEU DESESPERO.
As palavras proféticas da
primeira leitura se tornam com Cristo uma realidade. “Eis que abro os vossos
sepulcros, vos ressuscito, ó povo meu ...farei entrar em vós o meu espírito e
reaviveis”.
Cf
Cantalamessa, R
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