Homilia de Padre
Marcos Belizário Ferreira
Aquele que é o Vivente continua a ser para sempre o
Crucificado e que Sua história de sofrimento não foi anulada com a ressurreição,
mas que foi completada e tornada definitiva por ela.
Esse reconhecimento ajuda-nos a lançar um olhar completamente novo sobre a realidade e opera em nós uma profunda conversão do coração.
O ressuscitado traz sempre os sinais da Sua humilhação e da Sua rejeição, de modo que está para sempre solidário e próximo dos rejeitados, dos humilhados e dos pobres que nada contam:
“Todas as vezes que fizestes isto a um só destes irmãos mais pequenos, foi a Mim que o fizestes”(Mt 25,40). Jesus fica para sempre na mesma disponibilidade de amor que assinalou o dom de Si na Cruz. Ele
então oferece-nos o dom da comunhão e da paz, que torna a fraternidade
eclesial um sinal visível de Seu Amor.
Como no Evangelho de ontem, II Domingo da Páscoa, vimos que no centro do local onde estão reunidos os discípulos, está Jesus com as suas chagas: Ele conserva-as ainda no Seu corpo, não porque são Suas para sempre.
Elas são o sinal do amor do Pastor que se oferece sem medida e do amor do Pai que dá o seu Filho.
São por isso o “sinal” que Deus oferece à nossa fraqueza para nos conquistar e atrair a Si. Não devemos portanto ir procurar a outro lado, mas sim orientar a nossa vida para a contemplação daquele amor ferido de Deus para o acolhermos e fazê-lo nosso na alegria e na paz.
E esta procura não pode fazer-se senão na comunidade cristã.
A história de Cristo torna-se o caminho de salvação aberto também para nós e o paradigma no qual podemos modelar continuamente a nossa vida cristã: a escuta da palavra abre-nos o caminho da sequela e nós temos a responsabilidade de a acolher e de deixar-nos converter por ela.
A fé no Ressuscitado e no poder do seu Espírito torna os crentes atentos
e capazes de discernimento para perceber esses sinais e leva-os à maturidade de
uma adesão plena a Cristo.
A obediência confiante à Palavra do Ressuscitado é capaz de mudar os corações dos discípulos e os tornar instrumentos transparentes da ação salvífica do Senhor.
Nenhuma
palavra humana consegue preencher o vazio que sentimos com a ausência daqueles
que amamos. Somente Deus pode nos consolar com sua palavra de esperança: “Eu
sou a Ressurreição e a Vida, aquele que crê em mim, viverá eternamente.” Nós,
por isso mesmo, não acreditamos na morte, cremos na vida, e esta
vida tem um nome, uma face, um coração que bate por nós: Jesus Cristo. N’ele,
descobrimos que a morte não é o fim, “Ela é uma curva na estrada da vida” (Pascal).
Um dia, todos juntos, estaremos no Senhor, pois o céu, que é o encontro
daqueles que se amaram com Aquele que nos ama, mais do que um lugar, é uma
pessoa: Jesus, vencedor da morte e Senhor da vida!
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