"Quero expressar meus sinceros bons votos para que a Turquia, a ponte natural entre dois continentes, que não seja apenas uma encruzilhada, mas também um lugar de encontro, de diálogo e convivência pacífica entre os homens e mulheres de boa vontade de cada cultura, etnia e religião.
O Santo Padre salientou que “as boas relações e o diálogo entre líderes religiosos revestem-se de grande importância. Constituem uma mensagem clara dirigida às respetivas comunidades” pois vivemos “num tempo de crises” em particular em algumas áreas do mundo onde acontecem “verdadeiros dramas para populações inteiras.” “Guerras que semeiam vítimas e destruições, tensões e conflitos interétnicos e inter-religiosos, fome e pobreza…” – declarou o Papa Francisco referindo-se às centenas de milhões de vítimas.
“Verdadeiramente trágica é a situação no Médio Oriente, especialmente no Iraque e na Síria. Todos sofrem com as consequências dos conflitos, e a situação humanitária é angustiante. Penso em tantas crianças, nos sofrimentos de tantas mães, nos idosos, nos deslocados e refugiados, nas violências de todo o gênero.”
O Santo Padre afirmou então que a responsabilidade dos chefes religiosos é a de “denunciar todas as violações da dignidade e dos direitos humanos”. O Papa Francisco considerou ainda que “a denúncia deve ser acompanhada pelo trabalho comum para se encontrarem soluções adequadas. Isto requer a colaboração de todas as partes: governos, líderes políticos e religiosos, representantes da sociedade civil e todos os homens e mulheres de boa vontade.”
Citando S. João Paulo II no discurso proferido à comunidade católica de Ancara em 1979 o Papa Francisco afirmou que: “Reconhecer e desenvolver esta convergência espiritual – através do diálogo inter-religioso – ajuda-nos também a promover e defender, na sociedade, os valores morais, a paz e a liberdade”. Neste particular o Santo Padre citou o exemplo do povo turco:
“A este respeito, queria exprimir o meu apreço por quanto está a fazer o povo turco inteiro, muçulmanos e cristãos, pelas centenas de milhares de pessoas que fogem dos seus países por causa dos conflitos. São dois milhões -isto é um exemplo concreto de como trabalhar em conjunto para servir os outros, um exemplo que deve ser incentivado e apoiado.”
No final do seu discurso o Papa Francisco declarou a sua satisfação a propósito das boas relações e da cooperação entre o Diyanet e o Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso fazendo votos para que continuem e se consolidem como autêntico sinal de esperança para um mundo tão necessitado de paz, segurança e prosperidade.
Na manhã de sábado, dia 29 de novembro o Santo Padre viajou de avião de Ankara para Istambul. E visitou o Museu de Santa Sofia e a Mesquita Sultão Ahmet conhecida também como Mesquita Azul, uma mesquita otomana construída entre 1609 e 1616.
O Museu de Santa Sofia, antiga basílica dedicada à Divina Providência, em cujo livro de Ouro, escreveu em grego "Santa Sofia de Deus" e em latim: “Quam dilecta tabernacula tua Domine!” (Como são amáveis as vossas moradas, Senhor dos exércitos!). Contemplando a beleza e a harmonia deste lugar sagrado, a minha alma se eleva ao Todo-poderoso, fonte e origem de toda beleza, e peço ao Altíssimo para guiar sempre os corações da humanidade no caminho da verdade, da bondade e da paz”. (Sl 83)
MISSA CELEBRADA NA CATEDRAL DO ESPÍRITO SANTO, EM ISTAMBUL
“O Espírito Santo é a alma da Igreja. Ele dá a vida, suscita os diversos carismas que enriquecem o povo de Deus e sobretudo cria a unidade entre os crentes”, afirmou o Papa Francisco neste sábado, 29, durante sua viagem à Turquia. O Santo Padre presidiu a Santa Missa na Catedral do Espírito Santo em Istambul e, em sua homilia, destacou a ação do Espírito Santo na vida da Igreja e de cada fiel.
“Quando rezamos, fazemo-lo porque o Espírito Santo suscita a oração no coração. Quando rompemos o círculo do nosso egoísmo, saímos de nós mesmos e nos aproximamos dos outros para encontrá-los, escutá-los, ajudá-los, foi o Espírito de Deus que nos impeliu. Quando descobrimos em nós uma capacidade inusual de perdoar, de amar a quem não gosta de nós, foi o Espírito que Se empossou de nós.
Quando deixamos de lado as palavras de conveniência e nos dirigimos aos irmãos com aquela ternura que aquece o coração, fomos de certeza tocados pelo Espírito Santo”, explicou.
Francisco disse ainda que a Igreja e as Igrejas são chamadas a deixarem-se guiar pelo Espírito Santo, colocando-se numa atitude de abertura, docilidade e obediência.
E nós, cristãos, tornamo-nos autênticos discípulos missionários, capazes de interpelar as consciências, se abandonarmos um estilo defensivo para nos deixamos conduzir pelo Espírito”, esclareceu.
MESQUITA SULTAN AHMET - ISTAMBUL
Ao chegar a Istambul na manhã de sábado (29), o Papa se dirigiu para a Mesquita Sultan Ahmet, conhecida como Mesquita Azul, uma das mais importantes de Istambul.
Na Mesquita o Pontífice foi recebido pelo Grão-Mufti, por outro Mufti e por dois Imames. Em respeito à tradição, entrou sem calçados. Na Mesquita, o Grão Mufti explicou ao Papa alguns versículos do Alcoorão.
“Tratou-se de uma adoração silenciosa”, precisou o Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Padre Federico Lombardi, destacando que durante a visita à Mesquita o Papa falou duas vezes “devemos adorar a Deus”, acrescentando que “não devemos somente louvá-lo e glorificá-lo, mas devemos adorá-lo”. “Foi um belo momento de diálogo inter-religioso”, destacou Padre Lombardi, “a mesma, idêntica coisa que fez Bento XVI há oito anos”. O primeiro Pontífice a entrar em um templo muçulmano, foi João Paulo II em 6 de maio de 2001, na Mesquita de Ommayadi, em Damasco.
FRANCISCO A BARTOLOMEU: "SOMOS IRMÃOS NA ESPERANÇA"
O Papa Francisco concluiu no segundo dia de atividades, em terras turcas, participando na igreja de São Jorge, no “Phanar”, sede do Patriarcado Ecumênico, de um encontro de Oração Ecumênica com o Patriarca Bartolomeu I. Durante a doxologia, o Patriarca de Constantinopla fez uma breve alocução de saudação ao Santo Padre. A seguir, o Papa pronunciou seu discurso dizendo, inicialmente, que “a noite traz sempre um sentimento misto de gratidão, pelo dia vivido, e de entrega trepidante pela noite que cai. E acrescentou:
“Nesta noite, o meu espírito transborda de gratidão a Deus, que me permitiu estar aqui para rezar junto com Vossa Santidade e com esta Igreja irmã, no final de um dia intenso de visita apostólica; ao mesmo tempo, o meu espírito anela por aquele dia, que, liturgicamente, começamos: a festa de Santo André Apóstolo, Patrono desta Igreja”.
Com as palavras do profeta Zacarias, disse o Pontífice, o Senhor nos deu, mais uma vez, nesta oração vespertina, o fundamento que está à base da expectativa, de um dia fixar sobre a rocha firme, os nossos passos juntos, com alegria e esperança. E, dirigindo-se ao venerado e querido Irmão Bartolomeu I, o Papa disse:
“Sinto que a nossa alegria é ainda maior, porque a fonte está mais além, não está em nós, nem no nosso empenho, nem nos nossos esforços, que existem, ... está na comum entrega à fidelidade de Deus, que lança as bases para a reconstrução do seu templo que é a Igreja. Eis a semente da paz! Eis a semente da alegria! Uma paz e uma alegria que o mundo não pode dar, mas que o Senhor Ressuscitado prometeu aos seus discípulos, no poder do Espírito Santo”.
André e Pedro ouviram esta promessa, receberam este dom. Eram irmãos de sangue, mas o encontro com Cristo transformou-os em irmãos na fé e na caridade. E nesta noite jubilosa, nesta oração de vigília, o Papa acrescentou: “irmãos na esperança”:
“Que grande graça, Santidade, poder ser irmãos na esperança do Senhor Ressuscitado! Que grande graça e que grande responsabilidade poder caminhar juntos nesta esperança, sustentados pela intercessão dos Santos irmãos Apóstolos, André e Pedro! E saber que esta esperança comum não desilude, porque está fundada, não sobre nós e nas nossas pobres forças, mas na fidelidade de Deus”.
Com esta jubilosa esperança, transbordante de gratidão e trepidante expectativa, o Santo Padre concluiu suas palavras, formulando, a Vossa Santidade, aos presentes e à Igreja de Constantinopla, seus votos cordiais e fraternos pela festa do Santo André, Patrono do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla.
"DIÁLOGO AUTÊNTICO É ENCONTRO ENTRE PESSOAS COM NOME E ROSTO"
O Papa Francisco iniciou
seu terceiro e último dia da viagem Apostólica à Turquia com uma Missa privada
na Representação Pontifícia de Istambul. Após, encontrou o
Grão-Rabino da Turquia, Isak Haleva, responsável pela segunda maior comunidade
judaica judaica em um país de maioria muçulmana, após o Irã.
Esse momento de
encontrou foi, segundo Francisco, uma das dimensões essenciais do caminho para
o restabelecimento da plena comunhão, caminho do qual também faz parte o
diálogo teológico.
O Santo Padre
ressaltou que, nesse caminho de comunhão, é importante respeitar não só as
tradições litúrgicas e espirituais, mas também as disciplinas canônicas que
regulam a vida dessas Igrejas. Não se trata de submissão ou absorção de um ao
outro, disse o Papa, mas de acolhimento dos dons que Deus deu cada um.
“Quero assegurar
a cada um de vós que, para se chegar à suspirada meta da plena unidade, a
Igreja católica não tem intenção de impor qualquer exigência, exceto a da
profissão da fé comum, e que estamos prontos a buscar juntos, à luz do
ensinamento da Escritura e da experiência do primeiro milênio, as modalidades pelas
quais garantir a necessária unidade da Igreja nas circunstâncias atuais: a
única coisa que a Igreja católica deseja e que eu procuro como Bispo de Roma,
«a Igreja que preside na caridade», é a comunhão com as Igrejas ortodoxas”.
DECLARAÇÃO
CONJUNTA: DIÁLOGO E RECONCILIAÇÃO PARA RESOLVER CONFLITOS
O Papa Francisco
e o Patriarca Bartolomeu I assinaram neste domingo, 30, uma declaração conjunta
reafirmando suas intenções e preocupações comuns. Eles abordam a situação no
Oriente Médio e a consequente necessidade de paz e também destacam que é
preciso solidariedade entre os povos. A assinatura do documento foi um dos
últimos compromissos do Santo Padre na Turquia, sua sexta viagem internacional.
Vatican.va
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