“JESUS VIU UMA GRANDE MULTIDÃO E COMPADECEU-SE DELA, PORQUE ERA COMO
OVELHAS QUE NÃO TEM PASTOR. E COMEÇOU A ENSINAR-LHES MUITAS COISAS” (MC 6,34).
“Em nome da
comunidade, venho saudar Dom Paulo César, que está aqui nesse XVI Domingo do
Tempo Comum em que Jesus olha com compaixão para todos, o qual recebemos com
alegria e amor, e queremos agradecer o dom da vida porque amanhã é o seu aniversário
natalício, dia 20 de julho.
Bem vindo a Igreja Matriz de São Conrado, já com os
seus 101 anos, com uma comunidade que caminha com amor e que acolhe os bispos
auxiliares para poder conhecê-los e rezar com eles. Bem vindo Dom Paulo e muito
obrigado por aceitar meu convite”. Padre Marcos
Belízario
A liturgia do
16º Domingo do Tempo Comum dá-nos conta do amor e da solicitude de Deus pelas
“ovelhas sem pastor”. Esse amor e essa solicitude traduzem-se, naturalmente, na
oferta de vida nova e plena que Deus faz a todos os homens.
Na primeira leitura, pela voz do profeta Jeremias, Deus
condena os pastores indignos que usam o “rebanho” para satisfazer os seus
próprios projetos pessoais; e, paralelamente, anuncia que vai, Ele próprio,
tomar conta do seu “rebanho”, assegurando-lhe a fecundidade e a vida em
abundância, a paz, a tranquilidade e a salvação.
O Evangelho recorda-nos que a proposta salvadora e libertadora de Deus para os homens, apresentada em Jesus, é agora continuada pelos discípulos. Os discípulos de Jesus são – como Jesus o foi – as testemunhas do amor, da bondade e da solicitude de Deus por esses homens e mulheres que caminham pelo mundo perdidos e sem rumo, “como ovelhas sem pastor”.
A missão dos discípulos tem, no entanto, de ter sempre Jesus como referência… Com frequência, os discípulos enviados ao mundo em missão devem vir ao encontro de Jesus, dialogar com Ele, escutar as suas propostas, elaborar com Ele os projetos de missão, confrontar o anúncio que apresentam com a Palavra de Jesus.
Na
segunda leitura, Paulo fala aos cristãos da cidade de Éfeso da solicitude de
Deus pelo seu Povo. Essa solicitude manifestou-se na entrega de Cristo,
que deu a todos os homens, sem exceção, a possibilidade de integrarem a família
de Deus.
Reunidos na família de Deus, os discípulos de Jesus são agora irmãos, unidos pelo amor. Tudo o que é barreira, divisão, inimizade, ficou definitivamente superado.
Homilia de Padre Marcos Belizário
"As pessoas nunca
incomodam Jesus. Ele fixa seu olhar na multidão. Sabe olhar não só as pessoas
concretas e próximas, mas também essa massa de gente formada por homens e
mulheres sem voz, sem rosto e sem importância especial. Imediatamente desperta
nele a compaixão. Não a pode evitar . “Sentiu compaixão deles”. Traz a todos
bem dentro do coração .
Jesus nunca os
abandonará . Ele os vê “como ovelhas sem pastor”: pessoas sem guias para
descobrir o caminho , sem profetas para ouvir a voz de Deus. Por isso , “pôs-se
a ensinar-lhes muitas coisas”, com calma, dedicando-lhes tempo e atenção para
alimentá-los com sua palavra curadora.
Um dia teremos que revisar diante de Jesus, nosso único Senhor, a maneira como olhamos e tratamos essas multidões que estão abandonando silenciosamente a Igreja, talvez porque não podem ouvir entre nós seu evangelho ou porque já não lhes dizem nada nossos discursos, comunicados e declarações.
Pessoas simples e boas que estamos decepcionando porque não veem em nós a compaixão de Jesus. Crentes que não sabem a quem recorrer nem que caminho seguir para encontrar-se com um Deus mais humano do que aquele que percebem entre nós. Cristãos que se calam porque sabem que sua palavra não será levada em conta por ninguém importante na Igreja.
Um dia o rosto desta Igreja mudará. Ela aprenderá a agir com mais compaixão; esquecer-se -á de seus próprios discursos e pôr-se-á a ouvir o sofrimento das pessoas. Jesus tem força para transformar nossos corações e inovar comunidades. Precisamos voltar para ele."
Como a ovelha do
Salmo da Missa de hoje, que confia totalmente no seu pastor, ainda mesmo que
passe pelo vale tenebroso, porque sabe que o pastor é fiel, que o pastor haverá
de defendê-la, assim também nós, ovelhas do seu pasto, confiemo-nos ao Senhor,
sigamo-lo, nele coloquemos a nossa existência. E que ele, cheio de amor e
misericórdia, nos conduza às campinas verdejantes, nos faça descansar, restaure
nossas forças, guie-nos no caminho mais seguro, nos prepare a mesa eucarística,
unja-nos com o suave óleo do seu Espírito, faça transbordar a taça da nossa
exultação e nos dê habitação na sua casa pelos tempos infinitos. Amem.
Para completar a
reflexão deste Domingo, vale a pena retomar a homilia de Papa Francisco, na
Missa Crismal deste ano de 2015, celebrada na manhã da Quinta-feira Santa, na
Basílica Vaticana. Retomo alguns pensamentos, mas a íntegra poderá ser lida no
site do Vaticano. O Papa falou assim:
"Gostaria agora
de partilhar convosco alguns cansaços, em que meditei.
Temos aquele que podemos chamar “o cansaço do povo, das multidões”: para o Senhor, como o é para nós, era desgastante – diz o Evangelho (deste 16DTC-B) – mas é um cansaço bom, um cansaço cheio de frutos e de alegria. O povo que o seguia, as famílias que lhe traziam os seus filhos para que os abençoasse, aqueles que foram curados e voltavam com os seus amigos, os jovens que se entusiasmavam com o Mestre… Não Lhe deixavam sequer tempo para comer. Mas o Senhor não Se aborrecia de estar com a gente.
Antes pelo contrário, parecia que ganhava nova energia (cf. Evangelii gaudium, 11). Este cansaço habitual no meio da nossa atividade é uma graça que está ao alcance de todos nós, sacerdotes(cf. ibid., 279). Como é belo tudo isto: o povo amar, desejar e precisar dos seus pastores! O povo fiel não nos deixa sem atividade direta, a não ser que alguém se esconda num escritório ou passe pela cidade com vidros escuros. E este cansaço é bom, é saudável. É o cansaço do sacerdote com o cheiro das ovelhas, mas com o sorriso de um pai que contempla os seus filhos ou os seus netinhos. Isto não tem nada a ver com aqueles que conhecem perfumes caros e te olham de cima e de longe (cf. ibid., 97).
Somos os amigos do noivo: esta é a nossa alegria. Se Jesus está
apascentando o rebanho no meio de nós, não podemos ser pastores com a cara
azeda ou melancólica, nem – o que é pior – pastores enjoados. Cheiro de ovelhas
e sorriso de pais... Muito cansados, sim; mas com a alegria de quem ouve o seu
Senhor que diz: “Vinde, benditos de meu Pai!” (Mt 25,34).
Existe depois aquele que podemos chamar “o cansaço dos inimigos”. O
diabo e os seus sectários não dormem e, uma vez que os seus ouvidos não
suportam a Palavra de Deus, trabalham incansavelmente para a silenciar ou
distorcer. Aqui o cansaço de enfrentá-los é mais árduo.
Não se trata apenas de
fazer o bem, com toda a fadiga que isso implica, mas é preciso também defender
o rebanho e defender-se a si mesmo do mal (cf. Evangelii gaudium, 83). O
maligno é mais astuto do que nós e é capaz de destruir num instante aquilo que
construímos pacientemente durante muito tempo. Aqui é preciso pedir a graça de
aprender a neutralizar: neutralizar o mal, não arrancar a cizânia, não
pretender defender como super-homens aquilo que só o Senhor deve defender.
Tudo isto ajuda a não nos deixar cair os braços à vista da espessura da iniqüidade, frente à zombaria dos malvados. Eis a palavra do Senhor para estas situações de cansaço: “Tende confiança! Eu já venci o mundo” (Jo 16,33).
E, por último (para que esta homilia não vos canse!), há também “o cansaço de nós próprios” (cf. Evangelii gaudium, 277). É talvez o mais perigoso. Porque os outros dois derivam do fato de estarmos expostos, de sairmos de nós mesmos para ungir e servir (somos aqueles que cuidam).
Diversamente, este cansaço é mais auto-referencial: é a desilusão com nós mesmos, mas sem a encararmos de frente, com a alegria serena de quem se descobre pecador e carecido de perdão; é que, neste caso, a pessoa pede ajuda e segue em frente.
Trata-se do cansaço que resulta de “querer e não querer”, de ter apostado tudo e depois pôr-se a chorar pelos alhos e as cebolas do Egito, de jogar com a ilusão de sermos outra coisa qualquer. Gosto de lhe chamar o cansaço de “fazer a corte ao mundanismo espiritual”.
E, quando uma pessoa fica sozinha, dá-se conta de quantos setores da vida foram impregnados por este mundanismo e temos até a impressão de que não há banho que o possa lavar. Aqui pode haver um cansaço mau.
A palavra do Apocalipse indica-nos a causa deste
cansaço: “Tens constância, sofreste por causa de mim, sem te cansares. No
entanto, tenho uma coisa contra ti: abandonaste o teu primeiro amor” (Ap
2,3-4). Só o amor dá repouso. Aquilo que não se ama, cansa; e, com o passar do
tempo, torna-se um cansaço mau.
Papa Francisco
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