O Papa encerrou no Paraguai a viagem à América Latina iniciada no último domingo, com passagens pelo Equador e Bolívia, na qual deixou mensagens centradas na necessidade de “mudança”, nos pobres e na força “revolucionária” da fé.
Papa Francisco ora aos pés de imagem da Virgem Maria de Caacupê, padroeira do Paraguai, em templo a 50 quilômetros de Assunção |
Milhões de pessoas acompanharam Francisco em dezenas de encontros e celebrações, com passagens simbólicas por bairros pobres, prisões, hospitais ou lares de idosos, para além de reuniões com chefes de Estado e representantes da sociedade civil que tiveram como pano de fundo a “dignidade” de cada pessoa e capacidade de a mensagem cristã inspirar mesmo quem está fora da Igreja.
O pontífice argentino visitou uma ‘favela’ da região norte da capital do Paraguai, onde afirmou que a “fé sem solidariedade é uma fé sem Cristo”, sem Deus e sem irmãos. Mais tarde, presidiu à última Missa da sua viagem à América Latina, com mais de um milhão de pessoas, e afirmou que a “hospitalidade” é a marca que distingue os católicos.
Já no primeiro discurso em solo paraguaio, esta sexta-feira, o Papa pediu um “lugar prioritário” para “os pobres e necessitados”.
Um exemplo histórico foi dado por Francisco, primeiro Papa jesuíta da história, ao elogiar as “reduções”, promovidas neste território por missionários católicos, em particular da Companhia de Jesus, entre os séculos XVI a XVIII, considerando-as “uma das experiências de evangelização e organização social mais interessantes da história”.
“Somos os que lutam, combatem, defendem o valor de toda a vida humana, desde o nascimento até os anos serem muitos e poucas as forças”, afirmou depois, num encontro com membros do clero e institutos religiosos.
Francisco visitou o principal santuário mariano do Paraguai, em Caacupé, onde afirmou sentir-se “em casa”, uma ideia reforçada ao longo dos oito dias passados na América Latina.
Antes, tinha passado cerca de 48 horas na Bolívia, onde apresentou uma fé comprometida com os “últimos”, “fermento de um mundo melhor”, e contrária a manipulações ideológicas.
Já em Santa Cruz de la Sierra, onde passou a maior parte da estadia para fugir à altitude de La Paz, inaugurou o Congresso Eucarístico Nacional da Bolívia e encerrou o II Congresso Mundial dos Movimentos Populares, num encontro em que proferiu o discurso mais longo da viagem.
O pontífice argentino propôs uma “mudança positiva” no panorama mundial, uma “globalização da esperança” que coloque a economia ao serviço das pessoas, defenda o meio ambiente e supere a “tristeza individualista”.
O Equador foi a primeira etapa desta viagem, que começou com alertas para a situação dos “irmãos mais frágeis e minorias mais vulneráveis”, a “dívida que toda a América Latina ainda tem”.
Francisco falou perante milhões de pessoas numa Igreja que quer “construir pontes” e “curar as feridas” provocadas pela exclusão e as desigualdades.
Mais de um milhão de pessoas estiveram com o Papa na Missa a que Francisco presidiu em Quito, na qual recordou o “grito de independência” da América Latina, para a qual pediu mais protagonismo – repetindo em várias ocasiões a expressão ‘Pátria Grande’ para definir a região - e a força revolucionária da fé católica.
“Isto é evangelizar, esta é a nossa revolução – porque a nossa fé é sempre revolucionária – este é o nosso grito mais profundo e constante”, declarou.
Esta foi a segunda visita do Papa Francisco à América Latina e a primeira após a publicação da encíclica ‘Laudato si’, pelo que as preocupações ecológicas estiveram sempre presentes.
Papa Francisco celebra no Parque de Ñu Guazú, altar especial para ocasião especial |
O altar no Parque Ñu Guazú, onde o Papa Francisco celebrou para milhares de pessoas no domingo (12/07), última etapa de sua viagem à América Latina, teve uma particularidade: a ornamentação. O “altar de milho” escolhido para a ocasião, faz parte das tradições da Semana Santa em Tañarandy, localidade situada nas proximidades da cidade de Santo Ignácio, Província de Missiones, antiga Redução jesuítica do Paraguai.
"Como é belo rezarmos as Vésperas todos juntos! Como não sonhar com uma Igreja que espelhe e repita, na vida quotidiana, a harmonia das vozes e do canto! Fazemo-lo nesta catedral que tantas vezes teve de ser começada de novo; esta catedral é sinal da Igreja e de cada um de nós: às vezes, as tempestades de fora e de dentro obrigam-nos a pôr de lado o que se construiu e começar de novo. Sempre, porém, com a esperança em Deus; e, se olharmos para este edifício, sem dúvida Ele não decepcionou os paraguaios. Porque Deus nunca desilude! E por isso O louvamos agradecidos". 11 de julho, celebrando as Vésperas na Catedral de Assunção
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Quem elaborou o projeto foi o artista Koki Ruiz. Ele planejou toda a montagem em Santo Ignácio (que fica a 226 quilômetros da capital) e o altar teve de ser transportado em três partes até o Parque de Ñu Guazú.
De acordo com a Rádio vaticano, o altar sustentável evoca os frutos da natureza, em sintonia com a encíclica “Laudato si”, publicada há poucas semanas por Francisco e dedicada à relação do homem com a Criação. A obra também evoca a cultura guarani. Após a missa, os frutos e grãos foram doados a instituições de caridade.
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Papa Francisco diante da imagem de Nossa Senhora, no Paraguai – 12/07/2015
“Nossa Senhora entrou no tecido da história dos nossos povos com as suas gentes. Como em muitos outros países da América Latina, a fé dos paraguaios está impregnada de amor à Virgem. Acodem confiadamente à sua Mãe, abrem-Lhe o seu coração e confiam-Lhe as suas alegrias e penas, as suas esperanças e sofrimentos. A Virgem consola-os e, com a ternura do seu amor, acende neles a esperança”
''A amizade é um dos presentes maiores que uma pessoa, um jovem pode ter e pode oferecer. É verdade! Como é difícil viver sem amigos. Vede se esta não é uma das coisas mais belas que Jesus disse: «Chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai» (Jo 15, 15). Um dos maiores segredos do cristão radica-se no fato de ser amigo, amigo de Jesus. Quando uma pessoa ama alguém, permanece ao seu lado, cuida dele, ajuda-o, diz-lhe o que pensa, mas sem o deixar caído por terra. Assim faz Jesus conosco, nunca nos deixa caídos por terra. Os amigos apoiam-se, fazem-se companhia, protegem-se. Assim procede o Senhor connosco. Serve-nos de apoio".12 de Julho de 2015 - Paraguai, Asunción – Litoral Costeiro
"Quando Jesus aparece na nossa vida. É isto que desperta a fé. A fé faz-nos próximos, aproxima-nos da vida dos outros. A fé desperta o nosso compromisso, a nossa solidariedade. O nascimento de Jesus desperta a nossa vida. A fé, que não se faz solidariedade, é uma fé morta. É uma fé sem Cristo, uma fé sem Deus, uma fé sem irmãos. O primeiro a ser solidário foi o Senhor, que escolheu viver entre nós, escolheu viver no nosso meio. Eu venho como aqueles pastores de Belém.
Quero fazer-me próximo. Quero abençoar a vossa fé, abençoar as vossas mãos, abençoar a vossa comunidade. Vim dar graças convosco, porque a fé se fez esperança, e esperança que estimula o amor. A fé que Jesus desperta é uma fé com capacidade de sonhar o futuro e de lutar por ele no presente. Por isso mesmo, quero encorajar-vos a continuar a ser missionários, a contagiar com a fé estas ruas, estas vielas. Fazendo-vos próximos especialmente dos mais jovens e dos idosos; fazendo-vos apoio das famílias jovens e de quantos estão a atravessar momentos difíceis".
Quero fazer-me próximo. Quero abençoar a vossa fé, abençoar as vossas mãos, abençoar a vossa comunidade. Vim dar graças convosco, porque a fé se fez esperança, e esperança que estimula o amor. A fé que Jesus desperta é uma fé com capacidade de sonhar o futuro e de lutar por ele no presente. Por isso mesmo, quero encorajar-vos a continuar a ser missionários, a contagiar com a fé estas ruas, estas vielas. Fazendo-vos próximos especialmente dos mais jovens e dos idosos; fazendo-vos apoio das famílias jovens e de quantos estão a atravessar momentos difíceis".
12 de julho, a comunidade do Bañado Norte, um bairro pobre da capital paraguaia
Radio Vaticano - Agência Ecclesia - News.va
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