A Missão Popular é a visita de casa em casa, é o gesto concreto do Ano da
Esperança.
Convido todo o cristão, em qualquer lugar e situação que se encontre, a
renovar hoje mesmo o seu encontro pessoal com Jesus Cristo ou, pelo menos, a
tomar a decisão de se deixar encontrar por Ele, de o procurar dia a dia sem
cessar. Não há motivo para alguém poder pensar que este convite não lhe diz
respeito, já que «da alegria trazida pelo Senhor ninguém é excluído».
Cristo é a «Boa-Nova de valor eterno» (Ap 14,6), sendo «o mesmo ontem, hoje e pelos séculos» (Heb 13,8), mas a sua riqueza e a sua beleza são inesgotáveis. Ele é sempre jovem, e fonte de constante novidade. A Igreja não cessa de se maravilhar com a «profundidade de riqueza, de sabedoria e de ciência de Deus» (Rm 11,33). São João da Cruz dizia: «Esta espessura de sabedoria e ciência de Deus é tão profunda e imensa, que, por mais que a alma saiba dela, sempre pode penetrá-la mais profundamente.»
A alegria do
Evangelho, que enche a vida da comunidade dos discípulos, é uma alegria
missionária. Experimentam-na os setenta e dois discípulos, que voltam da missão
cheios de alegria (cf. Lc 10,17). Vive-a Jesus, que exulta de alegria no
Espírito Santo e louva o Pai, porque a sua revelação chega aos pobres e
aos pequeninos (cf. Lc 10,21). Sentem-na, cheios de admiração, os primeiros que
se convertem no Pentecostes, ao ouvir «cada um na sua própria língua» (At 2,6)
a pregação dos Apóstolos. Esta alegria é um sinal de que o Evangelho foi
anunciado e está a frutificar.
O anúncio de paz
não é a proclamação duma paz negociada, mas a convicção de que a unidade do
Espírito harmoniza todas as diversidades. Supera qualquer conflito numa nova e
promissora síntese para nós, cristãos, este princípio fala-nos também da
totalidade ou integridade do Evangelho que a Igreja nos transmite e envia a
pregar. A sua riqueza plena incorpora acadêmicos e operários, empresários e
artistas, incorpora todos.
A «mística popular» acolhe, a seu modo, o Evangelho inteiro e encarna-o em expressões de oração, de fraternidade, de justiça, de luta e de festa. A Boa-Nova é a alegria de um Pai que não quer que se perca nenhum dos seus pequeninos. Assim nasce a alegria no Bom Pastor que encontra a ovelha perdida e a reintegra no seu rebanho. O Evangelho é fermento, que leveda toda a massa, e cidade, que brilha no cimo do monte, iluminando todos os povos.
É preciso cultivar sempre um espaço interior que dê sentido cristão ao
compromisso e à atividade. Sem momentos prolongados de adoração, de
encontro orante com a Palavra, de diálogo sincero com o Senhor, as tarefas
facilmente se esvaziam de significado, abatemo-nos com o cansaço e as
dificuldades, e o ardor apaga-se. A Igreja não pode dispensar o pulmão da
oração, e alegra-me imenso que se multipliquem, em todas as instituições
eclesiais, os grupos de oração, de intercessão, de leitura orante da Palavra,
as adorações perpétuas da Eucaristia.
UMA MÃE DE CORAÇÃO ABERTO
A Igreja «em saída» é uma Igreja com as portas abertas. Sair em direção aos outros para chegar às periferias humanas não significa correr pelo mundo sem direção nem sentido. Muitas vezes é melhor diminuir o ritmo, pôr de parte a ansiedade para olhar nos olhos e escutar, ou renunciar às urgências para acompanhar quem ficou caído à beira do caminho.
Às vezes, é como o pai do filho pródigo, que continua com as portas abertas para, quando este voltar, poder entrar sem dificuldade.
A Igreja é chamada a ser sempre a casa aberta do Pai. Um dos sinais concretos desta abertura é ter, por todo o lado, igrejas com as portas abertas. Assim, se alguém quiser seguir uma moção do Espírito e se aproximar à procura de Deus, não esbarrará com a frieza duma porta fechada. Mas há outras portas que também não se devem fechar: todos podem participar de alguma forma na vida eclesial, todos podem fazer parte da comunidade, e nem sequer as portas dos sacramentos se deveriam fechar por uma razão qualquer. Isto vale sobretudo quando se trata daquele sacramento que é a «porta»: o Batismo. A Eucaristia, embora constitua a plenitude da vida sacramental, não é um prêmio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos.
--