São
Justino era filho da Terra Santa, nascido no ano 100, não muito longe de
Jerusalém e Belém. Professor de filosofia em Alexandria, um dos grandes centros
culturais do Império Romano, converteu-se por uma conversa providencial com um
ancião, passeando na praia. Tornou-se um dos principais escritores cristãos,
enumerado entre os chamados “Padres da Igreja”. Entre suas obras, conservamos
duas “Apologias” em favor dos cristãos, endereçadas ao Imperador Filósofo,
Marco Aurélio, sob cujas ordens viria a ser martirizado. No texto selecionado
para nossa oração, ele explica ao Imperador o que é e como se celebra a divina
Eucaristia. Sua veneração não se limita á Igreja Católica, mas é praticada
entre Ortodoxos, Luteranos, Anglicanos. Sua celebração litúrgica é em 1º de
junho.
Da Primeira Apologia (Ofício das
Leituras – 30 de abril – cc. 66-67; PG 427-431)
A celebração da Eucaristia
A
ninguém é permitido participar da Eucaristia, a não ser àquele que, admitindo
como verdadeiros os nossos ensinamentos e tendo sido purificado pelo Batismo
para a remissão dos pecados e a regeneração, leve uma vida como Cristo ensinou.
Jesus,
bem sabes que não levo uma vida evangélica e, frequentemente, percebo que não a
desejo lá no fundo de mim, porque, infelizmente, ainda sou atraído pela sedução
das coisas deste mundo. Limpa e muda meu coração! Faze meu coração semelhante
ao Teu! Que Teu Sangue me lave! Que o Divino Espírito me prepare para receber
humilde e dignamente a Ti no Santíssimo Sacramento! São Justino teve a honra de
morrer mártir. Não peço a mesma grandeza, mas suplico ser um discípulo fiel e
missionário!
Pois
não são pão e vinho comuns que recebemos. Com efeito, do mesmo modo como Jesus
Cristo, nosso Salvador, se fez homem pelo Verbo de Deus e assumiu a carne e o
sangue para nossa Salvação, também nos foi dado como alimento sobre o qual foi
pronunciada a Ação de Graças com as mesmas palavras de Cristo e que, depois de
transformado, nutre nossa carne e nosso sangue, é a própria carne e o sangue de
Jesus, que se encarnou.
Não
sabemos se o Imperador leu esta Apologia. Mas admiro que esta exata exposição
lhe tenha podido impressionar. Imagino que São Justino punha sua esperança não
tanto no testemunho que dava, mas, sobretudo, na ação do Teu Espírito. Como já
se exprimia São João Batista, nossas palavras soam no deserto, mas, como
disseste, Jesus, o Espírito sopra onde quer! Ele sopra agora e sempre e gera
novos cristãos por toda parte, impele filhos pródigos na volta à casa, e nos
regenera também no Sacramento do Perdão. E é Ele, por quem falaram os Profetas
e foram inspirados os Escritores Sagrados da Bíblia, é Ele quem nos inspira e
conduz por Ti, Jesus, o Caminho para o Pai! Dá-nos crer, esperar e amar!
Os
Apóstolos, em suas memórias, que chamamos “Evangelhos”, nos transmitiram a recomendação
que Jesus lhes fizera. Tendo Ele tomado o pão e dado graças, disse: “Fazei isto
em memória de mim. Isto é meu Corpo” (Lc 22,19; Mc 14,22). Tomando, igualmente,
o cálice e dando graças, disse: “Este é meu Sangue” (Mc 14,24). Então os deu
somente a eles (os Apóstolos). Desde então, nunca mais deixamos de recordar
essas coisas entre nós.
Fico
profundamente agradecido porque o que nos dás, de geração em geração, não são
coisas, mas és Tu mesmo, Tua Carne e Teu Sangue, que nos alimentam, ó Pão Vivo,
Pão descido dos Céus! Que todos os cristãos Te adorem e amem no Santíssimo
Sacramento! Que a Divina Eucaristia, Teu Corpo dado, Teu Sangue derramado, nos
congreguem na mesma Igreja, Teu Corpo Místico, sem ciúmes, discórdias,
divisões!
Com
o que possuímos, socorremos os necessitados e estamos sempre unidos uns aos
outros. E por todas as coisas com que nos alimentamos, bendizemos o Criador do
universo, por Seu Filho Jesus Cristo e pelo Espírito Santo.
Que
vergonha se nos desinteressamos de socorrer os desvalidos e necessitados! Que
vergonha nossas mútuas desconfianças, nossa “economia” de bondade, nossas
brigas e desunião! Converte-nos pela força do Teu Dom! Faze-nos, pelo Teu
imenso Amor, dignos de participar, de consciência tranquila dos Teus Altares!
No
dia chamado “do Sol (“Sunday”, domingo), reúnem-se no mesmo lugar, todos os que
moram nas cidades e nos campos. Lêem-se as memórias dos Apóstolos (ver acima:
Evangelhos) ou os escritos dos Profetas (Antigo Testamento), na medida em que o
tempo o permite. Terminada a leitura, aquele que preside toma a palavra para
aconselhar e exortar os presentes à imitação de tão sublimes ensinamentos
(“homilia”). Depois, nós nos levantamos e elevamos nossas preces (“preces da
comunidade”). Como já dissemos acima, quando acabamos de rezá-las,
apresentam-se o pão, o vinho e a água (“ofertório”). Então, o que preside eleva
ao céu, com todo seu fervor, preces e ações de graça (“oração eucarística” ou
“anáfora”), e o povo aclama: “Amém!”. Em seguida, se faz entre os presentes a distribuição
e a partilha dos alimentos, que foram eucaristizados (“consagrados”), que
também são enviados aos ausentes, por meio dos diáconos (hoje, mais comumente,
pelos ministros extraordinários da comunhão eucarística).
Gestos
tão simples! Maná que parece tão sem gosto para tantos, mas que, para os
abençoados, tem sabor do céu! Senhor Jesus, dá-nos amar a Santa Missa!
Os
que possuem muitos bens dão livremente o que lhes agrada. O que se recolhe é
colocado à disposição do que preside. Ele socorre os órfãos, as viúvas e os
que, por doença ou por qualquer outro motivo, se acham em dificuldade, bem como
os prisioneiros, e os hóspedes, que estão em viagem. Numa palavra, ele assume o
encargo de todos os necessitados.
Jesus,
que Tua Caridade continue atuando, livremente, entre todos os cristãos! Que
nossos corações e mãos se abram para servir-Te nos pobres, nos enfermos, nos
que vamos encontrando caídos à beira do caminho de nossas vidas! Que não faltem
à Igreja missionários e missionárias da caridade!
Nós
nos reunimos todos no Dia do Sol, não só porque foi o primeiro dia em que Deus,
transformando as trevas e a matéria, criou o mundo, mas também porque, nesse
mesmo dia (o primeiro da semana), Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dos
mortos. Crucificaram-no na véspera do Dia de Saturno (“Saturday”, sábado) e no
dia seguinte a este (o Dia do Sol, domingo) aparecendo a Seus discípulos,
ensinou-lhes tudo o que também nós vos propusemos como digno de consideração.
Parece
que nada disto tocou o Imperador. Nem sabemos se ele leu estas palavras. Mas
nós, que agora as rezamos, levemos em séria consideração as Escrituras, em
particular os Santos Evangelhos! Que estas “memórias” dos Teus Apóstolo, sejam
nosso alimento cotidiano! Que continuemos fiéis em nos reunir, cada domingo,
para celebramos a Ti e a Teu dom eucarístico: Corpo dado, Sangue derramado!
Amém! Aleluia!