Visita de Dom Juarez Delorto Secco as comunidades de Pedra Bonita e Vila
Canoa por ocasião da festa de São José de Anchieta, em 08 de junho de 2019.
São
José de Anchieta
O
primeiro missionário evangelizador em terras brasileiras
O
sacerdote Jesuíta José de Anchieta nos remete, de maneira quase que inevitável,
ao passado da nossa nação. É impossível falar desse Apóstolo do Brasil, como é conhecido,
sem recordar fatos históricos da colonização desta Terra de Santa Cruz. O
reconhecimento da sua santidade vinha sendo aguardado pela Igreja do Brasil por
mais de 400 anos. O Papa Francisco pôs fim a essa espera ao assinar, no dia 3
de abril de 2014, o decreto de santidade de José de Anchieta.
O
santo, de origem espanhola, desembarcou no Brasil, vindo de Portugal, em 1553,
na flor de sua juventude, aos 19 anos. Ainda não era sacerdote, contudo já
havia professado os votos de pobreza, castidade e obediência. “Com coração
juvenil, amou, desde o primeiro contato, o povo brasileiro. A ele, dedicou sua
grande inteligência, cultura e erudição, a capacidade de amar e de sofrer por
amor. A ele, consagrou suas qualidades humanas, a capacidade de lutar, de ser
destemido e a sua espiritualidade”, assim o descreveu o Cardeal Raymundo
Damasceno na santa Missa em ação de Graças pela canonização de José de
Anchieta, celebrada em Roma no dia 24 de abril de 2014.
A
arte de evangelizar
Em
terras brasileiras, José de Anchieta vivia a pobreza e a simplicidade entre os
índios, os marginalizados e os negros. Da sua primeira vivência entre os
índios, descreve numa carta enviada à Europa o costume apresentado por eles de
colocar folhas de bananeiras como toalha sobre a mesa, observando que não sabia
ao certo a razão desse cuidado, considerando que o alimento eles não tinham.
Ainda assim, assegurava que ele e os demais padres Jesuítas estavam felizes e
que não sentia saudades da vida confortável que tinha na Europa.
Foi
um incansável evangelizador em nossas terras e sua criatividade é notória.
Catequizava os índios com a poesia e o teatro. Ousadia que “nos interpela sobre
os métodos de evangelização que usamos hoje”, aponta Dom Damasceno. Por isso, o
santo Anchieta é para nós inspiração, já que hoje se faz urgente uma autêntica
evangelização inculturada, ou seja, capaz de evangelizar as culturas para
inculturar o Evangelho.
A
trilha do Santo
Amante
e observador da natureza, José de Anchieta escreveu a conhecida Carta de São
Vicente contendo a primeira descrição detalhada da Mata Atlântica, importante
bioma brasileiro. Anchieta costumava abrir picadas pela mata litorânea entre
Iriritiba e a ilha de Vitória, com pequenas paradas para a oração e o repouso
nas localidades de Anchieta (que foi chamada também Benevente e Reritiba),
Guarapari, Setiba, Ponta da Fruta e Barra do Jucu.
Mais
recentemente, na década de 70, o professor, arquiteto e historiador Benedito
Lima de Toledo decidiu desbravar o caminho criado pelo santo. “O que se sabia
há 40 anos atrás é que aquele sacerdote havia vencido a Serra do Mar por um
caminho às margens do Rio Perequê”. Curioso por saber o que o padre Anchieta
experienciou mata adentro, o professor montou uma equipe que, munidos de kits
para expedições, partiu para resgatar essa história. Deparam-se com “uma das
paisagens mais belas da região: a conjunção de três afluentes formando, o que,
se presume, seja a Grota do Perequê, ponto de um caminho conhecido por Caminho
do Monge, outra denominação do Caminho do Padre José de Anchieta”. [1]
Um
dos resultados dessas expedições do padre Anchieta pela serra do mar deu origem
à cidade de São Paulo. O santo registrou numa carta enviada ao seu superior
provincial, em Portugal, que ao chegar ao planalto de Piritininga encontraram
“ares frios e temperados como os da Espanha” e “uma terra mui sadia, fresca e
de boas águas”. E esse foi o local adequado para se iniciar um novo povoado:
numa colina alta e plana, cercada por dois rios, o Tamanduateí e o Anhangabaú.
Em 25 de janeiro de 1554, o sacerdote Manoel da Nóbrega, na presença do
seminarista José de Anchieta, celebrou a primeira Missa no local do Colégio São
Paulo de Piratininga, fundado pelos Jesuítas, e que deu origem ao povoado que
se formou ao redor.
Atualmente
a trilha do santo Anchieta, com cerca de 105 quilômetros, vem sendo percorrido
a pé por turistas e peregrinos.
Onde
houver ódio que eu leve o amor…
Como
bom devoto de São Francisco de Assis, José de Anchieta atuou também como
mediador da paz. Em 1563 ele intermediou as negociações da Confederação dos
Tamoios entre os portugueses e os indígenas. Permaneceu por vários meses como
refém dos índio, período no qual compôs um conhecido poema dedicado à
Bem-Aventurada Virgem Maria – expressão máxima do seu amor e devoção à Mãe de
Deus. Conta-se que ele teria escrito esse poema nas areias da praia; memorizou
cada palavra e, mais tarde, passou para o papel.
Certamente
esse período de confinamento foi para ele um dos mais difíceis. Já que teve que
passar dias sem a Eucaristia e as visitas diárias que fazia ao Santíssimo
Sacramento. Apenas quando um sacerdote chegava à aldeia indígena é que Anchieta
podia participar da santa Missa e receber o sua amado Jesus-hóstia. O seu amor
e saudade pela Sagrada Eucaristia está registrada em diversos poemas que
compôs. Num deles declamou: “Oh que pão, oh que comida, oh que divino manjar Se
nos dá no santo altar cada dia”.
Anos
depois (1566), Anchieta foi à Capitania da Bahia a fim de informar ao
governador Mem de Sá sobre o andamento da guerra contra os franceses,
possibilitando o envio de reforços portugueses ao Rio de Janeiro. Nesta mesma
época, aos 32 anos, José de Anchieta foi ordenado sacerdote. O santo,
apaixonado pela Eucaristia, tratou logo de providenciar um altar portátil, e
dessa maneira, nem mesmo em suas viagens marítimas pela costa do Brasil ele
deixou de celebrar a santa Missa. Descia em cada porto, montava o seu altar
portátil e ali adorava a Jesus Eucarístico.
Em
1569, José de Anchieta participou da fundação do povoado de Reritiba, atual
Anchieta, no Espírito Santo. Dirigiu o Colégio dos Jesuítas do Rio de Janeiro
de 1570 a 1573. E em 1577 foi nomeado Provincial da Companhia de Jesus no
Brasil, função que exerceu por dez anos. Em 1587 foi para Reritiba, manteve-se
à frente do Colégio dos Jesuítas em Vitória – ES.
O
primeiro devoto do Coração de Jesus no Brasil
Atualmente,
o maior conhecedor da vida do santo Anchieta é o padre Hélio Abranches Viotti,
SJ, professor de história do Brasil nas Faculdades dos Jesuítas, membro de
institutos históricos e academias de letras que desde 1922 pertence à Companhia
de Jesus. Padre Hélio conta que José de Anchieta foi um grande devoto do
Sagrado Coração de Jesus. “Ele já se antecipava nessa devoção”, comenta o
sacerdote ao falar do verso “a lança que abriu-lhe o peito…” de um dos poema de
Anchieta. O seu amor e devoção pelo ao Coração de Jesus são lindamente
expressas também com estas palavras, parte de um poema: “Ei-lo, rasgado jaz
nesse tronco inimigo, e com sangue a escorrer paga teu furto antigo! Vê como
larga chaga abre o peito, e deságua misturado com sangue um rio todo d’água”.
No
fim de sua vida, o sacerdote Anchieta retirou-se para Reritiba, local onde
faleceu em 1595. Nesse mesmo ano foi aberto o processo informativo para a sua
beatificação. Em 1980 – o Papa João Paulo II declara-o bem-aventurado, e nesse
ano de 2014, por fim, foi finalizado o processo de canonização, mesmo sem a
comprovação dos milagres alcançados por sua intercessão.
“São
José de Anchieta soube comunicar aquilo que experimentou na comunhão com o
Senhor, aquilo que tinha visto e ouvido Dele; essa é a razão de sua santidade.
Não teve medo da alegria”, apontou o Papa Francisco na Missa em ação de graças
pela canonização desse santo.
BÊNÇÃO COM A RELÍQUIA DE SÃO JOSÉ DE ANCHIETA