A
belíssima catedral gótica de Orvieto, na Itália, que já visitei, conserva o
relicário com o corporal sobre o qual caíram gotas de sangue da Hóstia
Consagrada, durante uma Santa Missa, celebrada em Bolsena, cidade próxima, onde
vivia Santo Tomás de Aquino, que testemunhou o milagre. Estamos no século XIII.
O Papa Urbano IV, que residia em Orvieto, ordenou ao Bispo Giacomo que levasse
as relíquias de Bolsena a Orvieto, em procissão. Quando o Papa encontrou a
Procissão na entrada de Orvieto, pronunciou diante da relíquia eucarística as
palavras: “Corpus Christi (o Corpo de Cristo)”. O Papa prescreveu então, em
1264, que na 5ª feira após a oitava de Pentecostes fosse oficialmente celebrada
a festa em honra do Corpo de Deus, sendo Santo Tomás de Aquino encarregado de
compor o texto da Liturgia dessa festa. O Papa, que havia sido arcediago de
Liège, na Bélgica, e conhecido Santa Juliana de Mont Cornillon, atendia assim
ao desejo manifestado pelo próprio Jesus a essa religiosa, pedindo uma festa
litúrgica anual em honra da Sagrada Eucaristia. Em 1247, em Liège, já havia
sido realizada a primeira procissão eucarística, como festa diocesana, sendo
estabelecida mundialmente pelo Papa Clemente V, que confirmou a Bula de Urbano
IV. Em 1317, o Papa João XXII publicou na Constituição Clementina o dever de se
levar a Eucaristia em procissão pelas vias públicas.
Por que tão solene festa? Porque “a Eucaristia é o coração e o ápice da
vida da Igreja, pois nela Cristo associa sua Igreja e todos os seus membros a
seu sacrifício de louvor e ação de graças oferecido uma vez por todas na cruz a
seu Pai; por seu sacrifício ele derrama as graças da salvação sobre o seu
corpo, que é a Igreja. A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo: isto é,
da obra da salvação realizada pela Vida, Morte e Ressurreição de Cristo, obra
esta tornada presente pela ação litúrgica. Enquanto sacrifício, a Eucaristia é
também oferecida em reparação dos pecados dos vivos e dos defuntos, e para
obter de Deus benefícios espirituais ou temporais” (C.I.C. nn.1407, 1409 e
1414). “O Sacrifício Eucarístico, memorial da morte e ressurreição do Senhor,
em que se perpetua pelos séculos o Sacrifício da cruz, é o ápice e a fonte de
todo o culto e da vida cristã, por ele é significada e se realiza a unidade do
povo de Deus, e se completa a construção do Corpo de Cristo. Os outros
sacramentos e todas as obras de apostolado da Igreja se relacionam intimamente
com a santíssima Eucaristia e a ela se ordenam” (C.D.C. cân. 897).
Por ser tão importante e digna da nossa
honra e culto, o Papa São João Paulo II, na sua Encíclica “Ecclesia de
Eucharistia”, nos advertia contra os “abusos que contribuem para obscurecer a
reta fé e a doutrina católica acerca deste admirável sacramento” e lastimava
que se tivesse reduzido a compreensão do mistério eucarístico, despojando-o do
seu aspecto de sacrifício para ressaltar só o aspecto de encontro fraterno ao
redor da mesa, concluindo: “A Eucaristia é um dom demasiado grande para
suportar ambiguidades e reduções”.
Fonte: Dom Fernando Arêas Rifan
Fonte: Dom Fernando Arêas Rifan