Mãe
que gera a maravilha da fé
“Tal
é o mistério de hoje, que suscita uma maravilha infinita: Deus uniu-se à
humanidade para sempre. Deus e o homem sempre juntos: eis a boa notícia no
início do ano. Deus não é um senhor distante que habita solitário nos céus, mas
o Amor encarnado, nascido como nós duma mãe para ser irmão de cada um. Está nos
joelhos de sua mãe, que é também nossa mãe, e de lá derrama uma nova ternura
sobre a humanidade. Nós compreendemos melhor o amor divino, que é paterno e
materno, como o duma mãe que não cessa de crer nos filhos e nunca os abandona.
O Deus-conosco nos ama independentemente dos nossos erros, dos nossos pecados,
do modo como fazemos caminhar o mundo. Deus crê na humanidade, da qual
sobressai, primeira e incomparável, a sua Mãe.”
“No
início do ano, pedimos-Lhe a graça de nos maravilharmos perante o Deus das
surpresas”, disse ainda Francisco. “Renovamos a maravilha das origens, quando
nasceu em nós a fé. A Mãe de Deus nos ajuda: a Theotokos, que gerou o Senhor,
gera-nos para o Senhor. É mãe e gera sempre de novo, nos filhos, a maravilha da
fé. A vida, sem nos maravilharmos, torna-se cinzenta, rotineira; e de igual
modo a fé. Também a Igreja precisa renovar a sua maravilha por ser casa do Deus
vivo, Esposa do Senhor, Mãe que gera filhos; caso contrário, corre o risco de
assemelhar-se a um lindo museu do passado. Mas, Nossa Senhora introduz na
Igreja a atmosfera de casa, duma casa habitada pelo Deus da novidade. Acolhamos
maravilhados o mistério da Mãe de Deus, como os habitantes de Éfeso no tempo do
Concílio lá realizado! Como eles, aclamemos a Santa Mãe de Deus! Deixemo-nos
olhar, deixemo-nos abraçar, deixemo-nos tomar pela mão… por Ela.”
Deixemo-nos
olhar
“Deixemo-nos
olhar”, frisou ainda o Papa, “sobretudo nos momentos de necessidade, quando nos
encontramos presos nos nós mais intrincados da vida, justamente olhamos para
Nossa Senhora. Mas é lindo, primeiramente, deixar-se olhar por Nossa Senhora.
Quando nos olha, Ela não vê pecadores, mas filhos. Diz-se que os olhos são o
espelho da alma; os olhos da Cheia de Graça espelham a beleza de Deus, refletem
sobre nós o paraíso. Jesus disse que os olhos são a lâmpada do corpo (Mt 6,
22): os olhos de Nossa Senhora sabem iluminar toda a escuridão, reacendem por
todo o lado a esperança. O seu olhar, voltado para nós, diz: Queridos filhos,
coragem! Estou aqui Eu, a sua mãe.”
Segundo
o Pontífice, “este olhar materno, que infunde confiança, ajuda a crescer na fé.
A fé é um vínculo com Deus que envolve a pessoa inteira, mas, para ser
guardado, precisa da Mãe de Deus. O seu olhar materno ajuda a vermo-nos como
filhos amados no povo fiel de Deus e a amarmo-nos entre nós, independentemente
dos limites e opções de cada um.”
“Nossa
Senhora nos enraíza na Igreja, onde a unidade conta mais que a diversidade, e
nos exorta a cuidarmos uns dos outros. O olhar de Maria lembra que, para a fé,
é essencial a ternura, que impede a apatia. Quando há lugar na fé para a Mãe de
Deus, nunca se perde o centro: o Senhor. Com efeito, Maria nunca aponta para Si
mesma, mas para Jesus e os irmãos, porque Maria é mãe.”
“Olhar
da Mãe, olhar das mães. Um mundo que olha para o futuro, privado de olhar
materno, é míope. Aumentará talvez os lucros, mas jamais será capaz de ver, nos
homens, filhos. Haverá ganhos, mas não serão para todos. Habitaremos na mesma
casa, mas não como irmãos. A família humana fundamenta-se nas mães. Um mundo,
onde a ternura materna acaba desclassificada a mero sentimento, poderá ser rico
de coisas, mas não rico de amanhã. Mãe de Deus, ensina-nos o seu olhar sobre a
vida e volte o seu olhar para nós, para as nossas misérias.” “Esses vossos
olhos misericordiosos a nós volvei”, disse o Papa, citando um trecho da oração
da Salve Rainha.
Deixemo-nos
abraçar
“Deixemo-nos
abraçar”, sublinhou ainda Francisco. “Depois do olhar, entra em cena o coração,
no qual Maria, diz o Evangelho de hoje , «conservava todas estas coisas,
meditando-as» (Lc 2, 19). Por outras palavras, Nossa Senhora tinha tudo no
coração, abraçava tudo, eventos favoráveis e contrários. E tudo meditava, isto
é, levava a Deus. Eis o seu segredo. Da mesma forma, tem no coração a vida de
cada um de nós: deseja abraçar todas as nossas situações e apresentá-las a
Deus.”
“Na
vida fragmentada de hoje, onde nos arriscamos a perder o fio à meada, é
essencial o abraço da Mãe. Há tanta dispersão e solidão por aí! O mundo está
todo conectado, mas parece cada vez mais desunido. Precisamos nos confiar à
Mãe. Na Sagrada Escritura, Ela abraça muitas situações concretas e está
presente onde há necessidade: vai encontrar a prima Isabel, socorre os esposos
de Caná, encoraja os discípulos no Cenáculo... Maria é remédio para a solidão e
a desagregação. É a Mãe da consolação, a Mãe que “consola”: está com quem se
sente só. Ela sabe que, para consolar, não bastam as palavras; é necessária a
presença. E Maria está presente como mãe. Permitamos-lhe que abrace a nossa
vida. Na Salve Rainha, chamamos Maria de vida nossa: parece exagerado, porque a
vida é Cristo (cf. Jo 14, 6), mas Maria está tão unida a Ele e tão perto de nós
que não há nada melhor do que colocar a vida em suas mãos e reconhecê-la vida,
doçura e esperança nossa.
Deixemo-nos
tomar pela mão
Por
fim, “deixemo-nos tomar pela mão”, disse o Papa. “As mães tomam pela mão os
filhos e os introduz amorosamente na vida. Mas hoje, quantos filhos, seguindo
por conta própria, perdem a direção, creem-se fortes e extraviam-se, livres e
tornam-se escravos! Quantos, esquecidos do carinho materno, vivem zangados e
indiferentes a tudo! Quantos, infelizmente, reagem a tudo e a todos com veneno
e maldade! Mostrar-se maus, às vezes, até parece um sinal de força; mas é só
fraqueza! Precisamos aprender com as mães que o heroísmo está em doar-se, a
força em ter piedade, e a sabedoria na mansidão.”
“Deus
não prescindiu da Mãe: por esta razão nós precisamos dela”. Ele nos doou a sua
Mãe “e não num momento qualquer, mas quando estava pregado na cruz: Eis a tua
mãe (Jo 19, 27), disse Ele ao discípulo, a cada discípulo. Nossa Senhora não é
opcional: deve ser acolhida na vida. É a Rainha da paz, que vence o mal e guia
pelos caminhos do bem, que devolve a unidade entre os filhos, que educa para a
compaixão.”
Francisco
concluiu, pedindo a Maria para que nos tome pela mão, nos ajude a superar “as
curvas mais fechadas da história”, a “descobrir os laços que nos unem”, a nos
reunir “sob o seu manto, na ternura do
amor verdadeiro, onde se reconstitui a família humana”.