sexta-feira, abril 03, 2015

LAVA-PÉS, SERVIÇO, AMOR E TRAIÇÃO - 02 DE ABRIL DE 2015


Foi no contexto da Paixão psicológica, sofrendo pressões sociais, políticas e religiosas que Jesus instituiu a Eucaristia. A instituição Eucarística, portanto, não nasceu em contexto festivo e de festejos, mas do coração angustiado de Deus, na pessoa de Jesus. 
A Eucaristia tem no seu “DNA” a angústia do coração divino e o sofrimento do coração humano, que se tornam, pela ação do Espírito Santo, alimento de vida nova e caminho de Ressurreição. O lado festivo da Eucaristia também é uma Paixão que alimenta a vida humana: a Paixão do amor imensurável de Jesus Cristo com sua vida renovada pela vitória de Deus, capaz de vencer a morte e fazer triunfar a vida. 
Por isso, a Eucaristia não deixa os sofrimentos da Paixão de Cristo, presentes na vida humana, fora da igreja, mas os leva para dentro da igreja e os coloca sobre o altar para que, invocando a ação do Espírito divino, torne-se alimento de vida nova e renovada, fruto da Ressurreição do Senhor. A Eucaristia, portanto, é capaz de transformar o sofrimento humano em vida renovada e isso é motivo para ser festejado em cada celebração Eucarística.
 Antes que a Paixão se consumasse no corpo de Jesus, porque em sua alma ela já o atormentava, Jesus instituiu a Eucaristia e lavou os pés de seus discípulos (Jo 13,3- 5). Desde então, o lava-pés, gesto humilhante reservado aos escravos, tornou-se gesto tipicamente cristão, de quem se inclina e se faz irmão e irmã através do serviço.
 O coração angustiado de Jesus não se entregou ao choro, ao desespero, às lamentações ou à fúria da raiva, mas ao serviço. Lição de humildade e ensinamento de que o serviço está acima da injustiça humana, promotora da agressividade. Não é pela luta violenta que Jesus venceu o mundo, mas pelo serviço. 
Não se muda o coração das pessoas com espada em punho, como pretendia Pedro (Jo 18,10), mas fraternalmente lavando os pés uns dos outros. 
Jesus não incentiva seus discípulos à luta, mas à disposição para servir e colocar-se a serviço de todos.
Elemento importante para entender o alcance serviçal do lava-pés é a disputa dos discípulos sobre quem deles ocuparia os primeiros lugares (Jo 13,2-5). Como referido acima, bem ao seu modo, Jesus não ensina apenas com palavras e doutrinas, mas com o gesto do lava-pés. No gesto de lavar os pés, Jesus se opõe aos prepotentes, aos incapazes de sequer abaixar os olhos para ver os necessitados e os pequenos. 
 Elege como servo, colocando-se a serviço, pois veio para servir e não para ser servido (Mc 10,45). Este é o modelo cristão da liderança e da autoridade. 
Mesmo estando com o coração extremamente angustiado (Jo 12,27), como o de Jesus, o cristão que recebeu algum encargo de autoridade, na comunidade ou na sociedade, jamais poderá trocar a força do lava-pés pela violência do chicote.
Na cena que segue ao lava-pés, depois da Ceia, Jesus vai ao Getsemani (Jo 18,1), onde é preso. 
Na sua prisão, visualiza-se o oposto do lava-pés e do acolhimento fraterno na agressividade de quem machuca o corpo, deforma o rosto e mata a vida (Jo 19,1-3). Se o lava-pés embeleza a mão de quem se coloca a serviço do outro, a agressividade de quem segura um chicote a ensangüenta de forma vil e covarde. 
Quem se ajoelha pela fraternidade, eleva-se diante de Deus e da vida, quem agride, rebaixa-se porque coloca sua força no poder capaz de matar e eliminar a vida.
Foi no gesto de lava-pés, ainda mais, que Jesus indicou como viver a fidelidade da Aliança com Deus pelo serviço fraterno, colocando-se a serviço da vida plena. Fidelidade ao projeto divino rima com relacionamento fraterno, no amor. O egoísmo é um modo de trair a proposta divina. Foi o que aconteceu com Judas, egoísta e ganancioso, traiu a fidelidade divina, ao entregar Jesus por 30 moedas de prata (Mt 26,15). 
Interessante perceber que a traição, gesto e atitude de infidelidade, já fervia no coração humano de Judas, no contexto da instituição da Eucaristia. Judas estava presente de corpo, mas celebrava aquela Páscoa com um coração traidor, um coração infiel. Mais.
 Na traição tudo se inverte, como por exemplo, atitude de carinho e de partilha da paz, como é o caso do beijo, são usados para aprisionar e matar a vida (Mt 26, 48-50). Mesmo conhecendo o motivo do beijo traidor, Jesus continua chamando Judas de amigo (Mt 26,50). Ele continua fiel e amigo ao homem e à mulher que o traem. De outro lado, do ponto de vista humano, não é fácil suportar o peso de ter traído Deus, como demonstra a trágica decisão de Judas (Mt 27,3-5).
É preciso, portanto, deixar que Jesus lave nossos pés para ter parte com Ele (Jo 13,8), para participar do projeto divino que consiste em cultivar a vida plena, fruto da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus, na fidelidade e no amor. Este projeto divino, Jesus, antes de sua morte, insiste em mostrar que se realiza pelo serviço e pelo amor fraterno do Mandamento novo: “amai-vos como eu vos amei” (Jo 15,4). 
Mesmo sofrendo a Paixão psicológica, Jesus não abandona o projeto divino e insiste no serviço e no amor fraterno. É o caminho para se chegar a Deus e ter parte com ele.
Jesus eterniza na Eucaristia a renovação da Aliança eterna com a humanidade,
 celebrada em sua Paixão, Morte e Ressurreição. Quem celebra devotamente a Eucaristia jamais estará do lado de Judas, sinal da infidelidade humana e da traição do projeto divino, condenando a vida à morte. 
É o paradoxo da Paixão: a grandeza do amor divino sujado pelo desamor humano, capaz de trair o próprio Deus. O Evangelho da Última Ceia atribui a traição de Judas a Satanás, aquele que coloca o homem contra Deus e o entrega à morte.
 Por isso, quem celebra devotamente a Eucaristia renega e não ouve as seduções de Satanás, mas renova o compromisso de se colocar a serviço da vida em todas as circunstâncias, mesmo quando esta passa pelo sofrimento e pelo caminho da Paixão, como aconteceu com Jesus.
“Este é o Corpo que será entregue por vós, este é o cálice da nova aliança no meu Sangue, diz o Senhor. Todas as vezes que os receberdes fazei-o em minha memória” 

(1Cor 11,24.25)

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Paróquia São Conrado
Pároco Padre Marcos Belizário Ferreira
Imagens Marcio Nogueira

As 65 imagens que aqui apresentamos são da celebração da Quinta-feira Santa, 1º dia do Tríduo Pascal.

Venha participar da Semana Santa conosco!! 

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