quarta-feira, maio 20, 2015

UM MANUSCRITO POLÊMICO por Dom Fernando Arêas Rifan


Foi encontrado no Oriente, em escavações arqueológicas, um “manuscrito” em aramaico, dos fins do século I, atribuído a um grupo de cristãos reacionários, oriundos das seitas dos fariseus (críticos radicais) e dos saduceus (incrédulos).

 Por isso, esse documento, cuja autenticidade ainda está sendo estudada, foi classificado como CrisFarSad I, do qual citamos alguns trechos. 

O que é interessante é que o texto coincide com muitos fatos narrados nos Evangelhos e nos Atos dos Apóstolos.

“Em nossa comunidade tem acontecido alguns problemas e desuniões. Respeitamos os Apóstolos, os primeiros discípulos de Jesus, mas questionamos o tal ‘colégio apostólico’, pois, apesar de ter em seu seio muitos homens bons, é conivente com falhas, posições erradas e heterodoxas e com membros deletérios”.

“O pior deles foi Judas Iscariotes, o avarento que traiu Jesus. Além dele, Pedro é pessoa desqualificada para o cargo, pois, negou conhecer Jesus na hora mais difícil, e, depois de ter sido escolhido como seu representante na terra, vacilou várias vezes, especialmente na questão das nossas tradições judaicas. Simão, o zelotes, ligado aos radicais anti-romanos, é bom. 
Tiago é o mais firme. Mas todos eles são culpados de cumplicidade e omissão, por terem sido covardes e consentido em seu meio, sem protestar, a presença do traidor. Foram covardes, talvez com medo de perder o cargo”.

“Um problema crucial aconteceu no último Concílio, reunião dos Apóstolos em Jerusalém, do qual questionamos até a legitimidade, pois ali a divisão ficou patente entre os conservadores, representados por Tiago, e os avançados, cujos porta-vozes foram Paulo e Barnabé, favoráveis a uma abertura aos gentios. 

Estes dois últimos e sua ala acabaram vencendo, inclusive contrariando a prática de Jesus, que observou as tradições judaicas da circuncisão e do sábado. 

É por isso que, em nome da nossa tradição e de Jesus, nós resistimos às resoluções desse Concílio”.

“Além disso, Paulo é reconhecidamente vacilante, um vai-e-vem, pois, depois de ter resistido a Pedro nesta questão e ter escrito aos nossos irmãos Gálatas que não seria necessário guardar tais ritos, ele mesmo circuncidou Timóteo, com medo dos judeus. É um conciliador, alguém que quer estar bem com os dois lados”.

“Alguns de nós, estão questionando até a própria divindade de Jesus, pois não é possível que ele, sendo Deus, tenha escolhido Judas Iscariotes, que ele sabia, ou devia saber, ser um ambicioso e traidor, e o conservado até o fim, além de ter escolhido para Apóstolos esses homens fracos, e confiado a eles a sua Igreja”.

“E Jesus, ao invés de se mostrar forte e atacar os Romanos pagãos que nos oprimiam e oprimem, não disse nada contra eles, foi conivente com esse poder dominante a ponto de lhes pagar o imposto e dizer que devíamos o tributo a César, pagão e opressor do cristianismo. 

Afinal, o paganismo não é condenável?!” Como ser conivente com ele, sustentando-o pelo tributo?!

Até aqui o tal “manuscrito”.
Na história da Igreja sempre apareceram esses “críticos radicais reformadores”, que trilham um triste caminho: começam a atacar a Igreja, olhando-a como uma instituição humana, querendo reformá-la, e terminam por perder a fé no seu Divino Fundador, que a assiste infalivelmente através do Espírito Santo e estará presente nela até a consumação dos séculos.

Mas, os inimigos, externos e internos, passam e, apesar das nossas fraquezas, “a Igreja, que reúne em seu seio os pecadores, é, ao mesmo tempo, santa e sempre necessitada de purificação”, e “continua o seu peregrinar entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus (Santo Agostinho)... 
No poder do Senhor ressuscitado encontra a força para vencer, na paciência e na caridade, as próprias aflições e dificuldades, internas e exteriores, e para revelar ao mundo, com fidelidade, embora entre sombras, o mistério de Cristo, até que no fim dos tempos ele se manifeste na plenitude de sua luz” (LG 8). 



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