(Jo 12,31b-32)
Naquele tempo, Jesus voltou para casa com os seus discípulos. E de novo
se reuniu tanta gente que eles nem sequer podiam comer. Quando souberam disso,
os parentes de Jesus saíram para agarrá-lo, porque diziam que estava fora de
si. Os mestres da Lei, que tinham vindo de Jerusalém, diziam que ele estava
possuído por Belzebu, e que pelo príncipe dos demônios ele expulsava os
demônios. Então Jesus os chamou e falou-lhes em parábolas: “Como é que Satanás
pode expulsar a Satanás?
Se um reino se divide contra si mesmo, ele não poderá
manter-se. Se uma família se divide contra si mesma, ela não poderá manter-
-se. Assim, se Satanás se levanta contra si mesmo e se divide, não poderá
sobreviver, mas será destruído. Ninguém pode entrar na casa de um homem forte
para roubar seus bens, sem antes o amarrar. Só depois poderá saquear sua casa. Em
verdade vos digo: tudo será perdoado aos homens, tanto os pecados, como
qualquer blasfêmia que tiverem dito. Mas quem blasfemar contra o Espírito
Santo, nunca será perdoado, mas será culpado de um pecado eterno.” Jesus falou
isso, porque diziam: “Ele está possuído por um espírito mau.” Nisso chegaram
sua mãe e seus irmãos. Eles ficaram do lado de fora e mandaram chamá-lo. Havia
uma multidão sentada ao redor dele. Então lhe disseram: “Tua mãe e teus irmãos estão
lá fora à tua procura.” Ele respondeu: “Quem é minha mãe, e quem são meus
irmãos?” E olhando para os que estavam sentados ao seu redor, disse: “Aqui
estão minha mãe e meus irmãos. Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão,
minha irmã e minha mãe.”
Homilia
de Padre Marcos Belizário Ferreira
O Espírito pode
despertar em nós desejo de lutar por algo mais nobre e melhor do que o trivial
de cada dia. Pode dar-nos audácia necessária para iniciar em nós um trabalho
interior.
O Espírito pode
fazer brotar uma alegria diferente em nosso coração; pode vivificar nossa vida
envelhecida; pode acender o amor inclusive para com aqueles com os quais não
sentimos hoje o menor interesse.
O Espírito é
"uma força que atua em nós e que não é nossa". É o próprio Deus
inspirando e transformando nossa vida.
Ninguém pode
dizer que não esta habitado por esse Espírito. O importante é não apagá-lo,
avivar seu fogo, fazer com que arda purificando e renovando a nossa vida. Talvez precisemos começar invocando a Deus com o salmista: "Não afaste
de mim seu Espírito".
O Evangelho de
João chama o Espírito Santo com o termo “defensor”, aquele que ajuda sempre e
em qualquer circunstância, aquele que dá paz e liberdade interior, o Espírito
da verdade, que mantém vivo no crente o espírito, a mensagem e o estilo de
vida do próprio Jesus. Se Jesus nos alerta severamente sobre “a blasfêmia
contra o Espírito Santo” é porque este pecado consiste precisamente em fechar-se
à ação de Deus em nós, ficando nós desamparados, sem ninguém que nos defenda
do erro e do mal.
Desde o pecado
original, o homem e a mulher como que ficaram sem rumo na vida. Em vez de
decidir, permitiram que a serpente os enganasse e decidisse em seu lugar. Surge
um mundo e uma sociedade onde vale tudo: corrupção, injustiças, violências,
mentira e morte. Mas Deus, que não suporta ver o homem errando na vida, aponta
outro caminho; um caminho de esperança, de bondade e de convivência fraterna.
Para torná-lo viável envia seu Filho, o homem novo, que repele, afasta e cura
as feridas do pecado.
A ação divina, em Jesus Cristo, pretende refazer a
criação do homem, criando uma nova geração; uma nova humanidade, que não cede
ao mal, mas vive alimentando-se com o bem e com a bondade. Deus não quer a vida
humana marcada pelo pecado, pela desordem e pelo desrespeito de uns para com os
outros, mas uma família humana capaz de viver a fraternidade e a solidariedade
de modo fraterno. Quem assim se aproxima de Deus reconhece, juntamente com o
salmista, a grandeza da misericórdia divina, pois se Deus levar em conta as
nossas faltas, quem poderá sobreviver? Mas, não, ele não considera nosso
pecado, perdoa e possibilita a vida ser vivida na liberdade no amor.
Jesus não aceita
o mal na vida humana e nem mesmo na sociedade. Sua missão é libertar todas as
pessoas de qualquer tipo de opressão que não permite que elas sejam humanas ou
não vivam de modo humano. Libertar até mesmo de opressões religiosas, se for o
caso. Ele liberta de qualquer tipo de opressão, como a alienação social, o
descaso para com a vida, do egoísmo que tanto mal faz em nossos dias, a ponto
de plantar em milhões de pessoas a falta de esperança e de perspectivas de
vida.
Diante de tais fatos, a decisão é sempre de cada um de nós; da pessoa.
Deus não obriga, mas alerta para os efeitos devastadores do pecado e do mal na
vida humana. Deus pede que nos afastemos do mal e que assumamos a sua vontade,
a exemplo de Jesus, para viver livre da opressão do pecado e da maldade. O
final do Evangelho mostra quem faz parte da família de Jesus: aquele que faz a
vontade do Pai. Se fazemos a vontade do mal, se vivemos no pecado e concordamos
com o pecado, não pertencemos à família de Jesus. Se vivermos fazendo a vontade
do Pai somos membros da família de Jesus e viveremos longe do mal, da maldade e
do pecado. Amém!
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