terça-feira, junho 02, 2015

RESUMO HISTÓRICO SOBRE A ORIGEM DA SOLENIDADE DE CORPUS CHRISTI.


A festa de Corpus Christi iniciou-se a partir de um milagre eucarístico realizado em Bolsena, na Itália. 

Um sacerdote alemão chamado Pedro de Braga, tinha dúvidas sobre a presença real de Jesus no Santíssimo Sacramento da Eucaristia. Nesse momento histórico, a Igreja estava sofrendo muito com a heresia dos cátaros (puros).

Esse movimento iniciou-se no século XI.
Para esses hereges, o mundo era obra do demônio, irremediavelmente perdido. Por isso os “puros” deviam viver fora do mundo. 

O movimento atingia as raízes do cristianismo, pois, dizendo que o mundo era mau, a encarnação de Jesus e Sua redenção, a Igreja e seus sacramentos, acabavam sendo rejeitados. Repudiavam o matrimônio, a hierarquia eclesiástica e toda disciplina da Igreja.
Receberam também eles, o nome de albigenses, pois a cidade de Albi, no sul da França, guardava uma de suas maiores fortalezas.
A Igreja estava sendo bruscamente atingida pelas heresias destes grupos, que fizeram parte da Igreja, mas se separaram formando uma seita.

Os hereges também combatiam a presença real de Jesus na Eucaristia. Afirmavam que era apenas um símbolo, como muitos fazem até hoje. Vivia-se um tempo muito difícil em que Deus se utilizou da pobreza de fé deste sacerdote para provar o contrário do que dizia a heresia.

O pe. Pedro, precisamente em 1264, dirigia-se, em peregrinação, a Roma a fim de se aprofundar e conhecer a verdade, pondo um fim à sua angústia. Passando pela cidade de Bolsena resolveu se hospedar ali. Na manhã seguinte, antes de seguir em sua viagem, ele fez questão de celebrar a Santa Missa, não obstante as suas dúvidas. Na noite anterior, antes de deitar-se, pediu ao Senhor que o socorresse em sua dúvida, pois queria crer, apenas crer.
Enquanto celebrava o Santo Sacrifício, na hora da consagração, quando levantara a Hóstia, já transubstanciada (consagrada), ela começou a sangrar. A quantidade de sangue foi tão copiosa que transpassou o corporal, as toalhas e o mármore do altar, deixando ali suas marcas.
Tentando resolver aquela situação, o padre andou com a Hóstia, que em suas mãos, sangrava, pois nem sequer sabia onde pô-la. Assim, algumas gotas caíram pelo chão. Ainda hoje, naquela igreja, o chão está tinto das marcas do preciosíssimo sangue.
E o padre, de tão desnorteado que ficou, nem sequer concluiu a Missa.

O Papa Urbano IV estava na cidade de Orvieto, que não distava muito de Bolsena. Informado do que se passara pediu a um bispo que para lá se dirigisse, a fim de verificar o acontecido e apresentar-lhe o resultado. O Papa estava sendo cauto frente a tudo que então acontecia.

Uma monja cisterciense, Juliana de Cornillon, quase na mesma época, recebeu algumas revelações de Jesus, que pediu-lhe levasse alguns apelos ao Papa. Um deles era que após Pentecostes, em uma quinta-feira se celebrasse a festa de sua presença na Eucaristia, a festa de Corpus Christi.
O Papa levou muito a sério aquelas revelações, contudo as guardou no coração. Se instituísse imediatamente a festa, iria, indiretamente, aprovar aquelas revelações sem um exame mais apurado. Agiu com prudência, mas pediu que o Senhor lhe mostrasse a verdade.

O bispo foi a Bolsena e já estava voltando. Porém, sem conseguir esperá-lo, o Papa foi ao seu encontro. Saiu de Orvieto, e no meio do caminho, numa ponte, chamada “Ponte do Sol”, os dois encontraram-se. O Pontífice correu ao encontro do bispo que devotamente trazia o corporal ensangüentado. Quando o bispo abriu-lhe o corporal, o Papa caiu ajoelhado, proclamando: Corpus Christi! Corpus Christi!

O Papa voltou para Orvieto e colocou em sua catedral o sagrado linho. Instituiu então, na data em que Jesus havia pedido, por meio das revelações, na quinta-feira, após a Oitava de Pentecostes, a festa de Corpus Christi.

Para compor o ofício litúrgico da festa, o Papa convocou Tomás de Aquino, dominicano e Frei Boaventura, franciscano.
Antes de chegar a festa, os dois sacerdotes se apresentaram diante do Papa para a leitura dos textos. Boaventura, o franciscano, humildemente pediu ao Pontífice que Tomás fosse o primeiro a ler o seu trabalho. 

Enquanto Tomás lia com maestria e pulcritude, o ofício que havia composto, Boaventura ouvia, se encantava, e rasgava tudo o que havia escrito. Quando Tomás terminou, já não havia mais nada dos textos de Boaventura.

Quando Urbano IV lhe pediu que lesse o seu trabalho, Boaventura mostrou-lhe tudo rasgado. Sua pobreza era autenticamente franciscana. Ele percebeu que todo esforço era pequeno para expressar a beleza e o mistério da Eucaristia.

Por isso temos hoje na solenidade de Corpus Christi e na Benção do Santíssimo Sacramento, o ofício escrito por Santo Tomás de Aquino. Tudo partiu da fragilidade da fé daquele sacerdote, atingido pela heresia dos cátaros, mas que buscava a verdade. E, para gloriosa memória de tudo isso, as igrejas de Bolsena e Orvieto ainda conservam há mais de setecentos anos os preciosos sinais.
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