sexta-feira, agosto 28, 2015

DOM HELDER CÂMARA - "PASTOR DA PAZ E DA PROMOÇÃO HUMANA" - 27/08


O mais novo candidato brasileiro aos altares, Dom Helder Pessoa Câmara, que teve seu processo diocesano aberto no dia 3 de maio pela arquidiocese pernambucana de Olinda e Recife, foi por sete vezes indicado ao Prêmio Nobel da Paz e teve centenas de condecorações por suas atividades, que promoveram, entre muitas outras coisas, a educação e a igualdade social.
No Rio de Janeiro, durante 28 anos que esteve como bispo auxiliar da arquidiocese, participou ativamente da Ação Católica Brasileira (ACB), um movimento fundado pelo Cardeal Sebastião Leme da Silveira Cintra, em 1935, com o objetivo de formar leigos para colaborar com a missão da Igreja de salvar as almas pela cristianização dos indivíduos, da família e da sociedade.
Desse trabalho surgiu a base para a criação do Banco da Providência e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

 O fato de a Ação Católica ter uma estrutura hierárquica bem definida e ajudar a criar diretrizes para a ação da Igreja no Brasil antes da década de 1950, facilitou a fundação da CNBB, através da percepção da necessidade de um organismo que assumisse o direcionamento da Igreja no país.
Em uma reunião no Palácio São Joaquim, na Glória, que até hoje abriga os arcebispos, foi fundada a CNBB, em outubro de 1952. Dom Helder, que escreveu a ata daquela reunião, foi incumbido de assumir a secretaria geral, cargo no qual permaneceu por 12 anos.
Este cargo permitiu que ele organizasse o 36º Congresso Eucarístico Internacional, ocorrido no Rio de Janeiro, em 1955.
Durante os 28 anos em que esteve bispo auxiliar de Dom Jaime de Barros Câmara na Arquidiocese do Rio de Janeiro, de 1936 a 1964, se tornou símbolo da luta contra a pobreza no Brasil.
Dom Helder faleceu no dia 27 de agosto de 1999, em Recife, aos 90 anos. Nascido em Fortaleza, no dia 7 de fevereiro de 1909, em uma família pobre, de 13 filhos, dos quais ele era o décimo primeiro, e tendo perdido cinco irmãos por causa de uma epidemia de gripe devido às condições precárias de saúde em que vivia. Conhecia bem o que era ser pobre. ArqRio.org
"Quando, em 20 de abril de 1952,  aquele frágil sacerdote nordestino foi nomeado bispo escolheu como lema do seu ministério episcopal "IN MANUS TUAS". Provavelmente intuía, mas não sabia que era ao mesmo tempo uma profecia e um programa de vida.  As três palavras latinas queriam significar sua entrega confiante nas mãos de Deus, seu único Senhor. Essa entrega levou-o longe pelos caminhos de um serviço criativo e profético ao povo de Deus, pelo qual pagou seu preço, mas que desempenhou alegre até o fim.
A vida no seminário e os estudos do jovem Helder foram marcados pela firmeza vocacional e o brilho intelectual.  Ordenado aos 22 anos, antes da idade mínima requerida para tal e com licença especial da Santa Sé, Pe. Helder reuniu desde o principio qualidades raras em uma mesma pessoa: inteligência, cultura e liderança incontestáveis ao lado de um imenso amor e dedicação integral aos mais pobres.
Ao mesmo tempo em que organizava reuniões com lavadeiras e operarias e assessorava a Juventude Operaria Brasileira (JOC), escrevia artigos em revistas, planejava a catequese a nível estadual e assumia cargos públicos na secretaria de educação do Ceara.  A habilidade política  foi uma constante em sua vida, assim como a naturalidade que desde sempre teve frente aos meios de comunicação, sendo uma das primeiras personalidades eclesiásticas brasileiras a aparecer constantemente na televisão. 
 A sagração episcopal multiplicou à enésima potencia a personalidade fulgurante do nordestino magro e franzino, vestido com uma  eterna batina bege.  Sua criatividade e  capacidade de trabalho inventavam e implantavam sem cessar novas coisas  na Igreja do Brasil.  Deve-se a Dom Helder quase todas as iniciativas pioneiras em termos eclesiais que o país conheceu durante o século XX, entre elas a criação da Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil, da qual foi fundador e secretário geral.

Ao mesmo tempo, no Rio de Janeiro onde era bispo auxiliar, criava  a Cruzada São Sebastião, conjunto habitacional situado no coração do Leblon, bairro mais chique da cidade.  Também se deve a sua iniciativa o Banco da Providencia, órgão que existe até os dias de hoje e que atende os pobres da diocese do Rio de Janeiro a vários níveis.
No plano internacional, Dom Helder não teve mãos a medir diante dos múltiplos convites que recebia e atendia.  Enchia auditórios e praças em Paris, Sidney, Londres, levando até o abastado primeiro mundo a quase sempre ignorada realidade sofrida e oprimida dos pobres brasileiros. Sua presença fez o país e a Igreja conhecidos e respeitados em outras latitudes.

A partir de 1964 o governo militar criou um rígido sistema de censura nos meios de comunicação brasileiros.  Pretendia assim calar as vozes daqueles que defendiam os direitos humanos e denunciavam a barbárie perpetrada pelas torturas nos porões da ditadura.  Dom Helder foi confinado a um penoso ostracismo. Sobre ele não se falava ou noticiava. Seu acesso à mídia fechou-se. Ele, perplexo com as acusações de comunista que lhe faziam, cunhou uma frase que ficou famosa: "Quando ajudo os pobres dizem que sou santo.  Quando pergunto sobre as causas da pobreza, me chamam de comunista".
Homem universal, parece não existir um só campo de atividade que Dom Helder não tenha tocado, vivido, atuado.  Recebeu inúmeras homenagens e títulos pelo mundo afora:  de cidadão honorário, de “doutor honoris causa”.  Poeta e místico ardente, desde seu pequeno quarto no Recife levantava-se durante a madrugada para renovar seu lema de bispo: “In manus tuas”.  A entrega incondicional a Deus e a seu povo expressava-se em belos poemas e livros que receberam traduções em vários idiomas. Escreveu sobre a paz, a cidade e o desafio da pastoral urbana, sobre a justiça, sobre a Igreja que nascia das chamadas minoras abraamicas.  Organizou espetáculos no Maracanã sobre os sete pecados capitais, a paixão de Cristo.  Gravou discos onde declamava poemas em honra de Nossa Senhora- "Mariama", na Missa dos Quilombos composta por Milton Nascimento e Dom Pedro Casaldaliga.

Nas incursões na calada da noite, olhando o céu do Recife coalhado de estrelas, sua alma se expandia em louvor e adoração.  Ali estava seu segredo.  Ali estava a força da marca indelével que deixou por onde passou. In manus tuas.  Nas mãos de seu Senhor, a alma do bispo descansava e cobrava forças para um novo amanhecer. Hoje, o Brasil agradece, comovido.  E invoca sua proteção para estes tempos tão diferentes e igualmente complexos".
Maria Clara Lucchetti Bingemer – “Dom Helder Câmara: profeta brasileiro”



Imagens:
Instituto Dom Hélder Câmara
PUC - Rio

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