A
mensagem mais nuclear de Jesus consistiu precisamente em convidar o ser humano
a confiar incondicionalmente no Mistério insondável que está na origem de tudo.
É isso que ressoa em seu anúncio : “Não tenhais medo. Confiai em Deus. Chamai-o
de “Abbá” , Pai querido . Ele cuida de vós. Até os cabelos de vossa cabeça
estão contados. Tende fé em Deus”.
Esta
fé radical em Deus está na base de toda oração. Orar não é uma ocupação a mais
entre muitas outras possíveis. É a ação mais séria e fundamental da pessoa, pois
na oração nos aceitamos a nós mesmos em nosso mistério mais profundo como
criaturas que têm sua origem e fundamento em Deus .
O
ser humano está se afastando hoje de Deus não porque esteja convencido de sua
não existência , mas porque não se atreve a abandonar-se confiantemente a Ele.
O primeiro passo para fé consistiria , para muitos, em prostrar-se diante do
Mistério insondável do universo e atrever-se a dizer com confiança: “Pai”.
Neste tempos em que esta confiança parasse debilitar-se , nossa oração deveria
ser a que os discípulos dirigem a Jesus; “Aumenta-nos a fé”.
A
primeira atitude não é encontrar respostas às minhas interrogações concretas,
mas perguntar-me que orientação quero dar à minha vida. Desejo realmente
encontrar a verdade? Estou disposto a deixar-me interpelar pela verdade do
Evangelho ?
A
fé brota do coração sincero que se detém para escutar a Deus. A fé não está em
nossas afirmações ou em nossas dúvidas . Esta além : no coração ...que ninguém
, exceto Deus, conhece. O importante é
ver se o nosso coração busca a Deus ou , ao contrário, o evita. Apesar de todo
tipo de interrogações e incertezas, se buscamos deveras a Deus, sempre podemos
dizer que do fundo de nosso coração brota essa oração dos discípulos : “Senhor
, aumenta-nos a fé”. Aquele que ora assim já é crente .
Hoje
não se pode crer em Deus como há alguns anos. Cabe a nós a apaixonante tarefa
de aprender caminhos novos para abrir-nos ao mistério de Deus, seguindo de
perto esse Jesus que sabia “ensinar o caminho de Deus conforme a verdade”. Como
reconstruir hoje a experiência religiosa ?
A
primeira coisa , hoje como sempre , é reconhecer e aceitar a própria finitude.
Não é tão difícil chegar a esta experiência. “Eu não posso dar-me a mim mesmo o
que estou buscando”. No fundo, a vida vai me dizendo de mil formas que eu não
sou tudo , não posso tudo, não sou a fonte do meu ser nem seu dono.
O
segundo passo é aceitar ser a parte dessa realidade que chamamos “DEUS”.
Aceitar com confiança esse Mistério que fundamenta nosso ser. Nesta confiança
radical consiste propriamente a fé, muito antes de o indivíduo integrar-se numa
religião ou numa Igreja determinada. A pessoa perde a fé quando se desliga
dessa Realidade suprema que fundamenta o seu ser.
Estes
passos não são dados com segurança absoluta . Há uma certeza de fundo, mas
acompanhada de obscuridade . A pessoa percebe que é bom confiar em Deus , mas
sua confiança não é resultado de um raciocínio nem a convicção provocada por
outros a partir de fora . A fé “acontece” em nosso interior como graça e dom
próprio Deus. A pessoa “sabe” que não está só e aceita viver dessa presença
obscura , mas inconfundível , de Deus .
O
importante então é deixar-se amar . . Não é o muito saber , mas saborear e
sentir as coisas internamente. Quanto bem faz aos que vivem em plena crise
religiosa repetir a oração dos apóstolos : “Aumenta-nos a fé”.