A
Solenidade hodierna recorda a proteção da Virgem Maria, sua presença materna e
consoladora, experimentada em 1717, por três pobres pescadores, na aurora de
nossa história nacional. As redes vazias dos pobres quase se romperam pela abundância
de peixes, após o “aparecimento” da imagem enegrecida da Imaculada Conceição.
Desde então, aquela imagenzinha humilde e feiosa recorda ao povo brasileiro a
presença materna da Mãe do Senhor na nossa história e na nossa terra. Sim, hoje
a festa é nossa, do povo brasileiro; hoje, por todo o território nacional,
gente de todas as raças que fazem esta Nação, canta com devota gratidão: “Viva
a Mãe de Deus e nossa, sem pecado concebida! Salve a Virgem Imaculada, a
Senhora Aparecida!”
Esta
presença materna, carinhosa, providente e atuante da Virgem Santíssima é
ilustrada de modo admirável nas leituras da Palavra de Deus, que acabamos de
ouvir. Primeiramente, a Virgem é evocada pela rainha Ester, que arriscou a vida
para salvar o seu povo da condenação à morte. Quem não se comove com o apelo da
Rainha? “Se ganhei as tuas boas graças, ó rei, e se for de teu agrado,
concede-me a vida – eis o meu pedido! – e a vida do meu povo – eis o meu
desejo!” Como tais palavras cabem na boca da Mãe do Senhor! Ela, perfeita e
completamente salva e redimida de todo pecado por pura graça de Deus; ela, a
Agraciada! Mais que ninguém, ela pode cantar as palavras de Isaías, que o
Missal coloca no início da Eucaristia deste dia: “Com grande alegria
rejubilo-me no Senhor, e minha alma exultará no meu Deus, pois me revestiu de
justiça e salvação, como a noiva ornada de suas jóias”. Maria Virgem,
totalmente agraciada, totalmente salva por Deus, não esquece de nós, filhos que
o Filho lhe deu ao pé da cruz: “Salva a vida do meu povo – eis o meu desejo!”
Ela é a Mulher do Apocalipse, em luta constante contra a serpente, o antigo
Inimigo, que ameaça o povo de Deus; ela é a Mulher que, em Caná, intercede
pelos esposos, ensina-nos a fazer o que o Filho disser e cuida para que a água
das nossas pobrezas e das nossas angústias seja transformada no vinho da
alegria, fruto da ação do Espírito do Cristo ressuscitado.
A
Festa de hoje recorda-nos a presença constante de Nossa Senhora na vida da
Igreja, na vida do povo brasileiro e na vida de cada um de nós. Não poderia ser
diferente! Foi o próprio Cristo quem lhe deu essa missão materna em relação a
nós, seus discípulos amados. Recordemo-nos da cena dramática no Calvário. Jesus
diz à sua Mãe, indicando o Discípulo Amado, que é cada um de nós, cada cristão,
católico ou não: “Mulher, eis o teu filho!”(Jo 19,26). Não foi ela quem
escolheu ser nossa Mãe. Não! Foi o Filho mesmo quem lhe deu a missão: “Eis o
teu filho, os teus filhos, Virgem Maria! Tu és a Mulher do Gênesis, inimiga da
serpente; tu és a Mãe dos viventes, a verdadeira Eva!” Fidelíssima à vontade do
Senhor, como sempre foi, a Virgem vela por todos os cristãos; até por aqueles
que não lhe têm amor e veneração, chegando mesmo a difamá-la! Mãe dos
discípulos do Senhor Jesus, Mãe da Igreja, Virgem Maria! Foi esta maternidade
tão amorosa, fecunda e providente que o povo brasileiro experimentou às margens
do rio Paraíba do Sul, quando a imagem enegrecida da Imaculada apareceu nas
redes dos pescadores. É esta maternidade que nós experimentamos continuamente
em nossa vida. Quem de nós não tem uma história para contar a respeito da
presença da Virgem no nosso caminho? “Filho, eis a tua Mãe!” (Jo 19,27). Não
fomos nós que escolhemos Maria por Mãe. Cristo mesmo, no-la deu como aconchego
materno. Na cruz, ele olhou para o Discípulo Amado, para cada um de nós, e
deu-nos sua Mãe: “Filho, eis a tua Mãe!” Que generosidade, a do Senhor: deu-nos
tudo, seu corpo, seu sangue, sua vida… deu-nos sua Mãe! Realmente, amou-nos até
o fim (cf. Jo 13,1). Jesus olha para todo cristão – católico ou não – e indica:
“Eis a tua Mãe!” E o Evangelho diz qual deve ser a atitude do discípulo ante um
dom tão generoso, tão belo, tão grande: “A partir daquele momento, o discípulo
a levou para sua casa” (Jo 19,27). Todo discípulo de Cristo tem o dever de
acolher o dom do Senhor, o dever de levar a Mãe de Jesus – agora Mãe de cada
cristão – para sua casa. Não fazê-lo é desobedecer a um preceito expresso e
claro do Senhor, é privar-se de tão grande dom! Por isso, mil vezes tem razão o
povo brasileiro em orgulhar-se hoje de ter Maria por Mãe. Tem razão o nosso
povo de tê-la proclamado Rainha e Padroeira do Brasil!
Virgem
Mãe Aparecida, Mãe de Deus e nossa! Vela pelo povo brasileiro, acolhe nosso
brado filial!
Intercede
com tua oração materna por nossos governantes: que sejam retos, justos,
servidores do bem comum, sobretudo dos mais necessitados!
Sê
consolo para quem chora, força para quem se encontra alquebrado, inspiração e
encorajamento para os pobres, saúde para os enfermos e rosto maternal de Deus
para todos nós! Vela pelas crianças, mantém na harmonia as famílias de nossa
Pátria, vela pela paz no campo e nas cidades!
Senhora
Aparecida, protege a Santa Igreja em terras brasileiras! Roga pelo clero, pelos
religiosos, por todo o povo de Deus!
Ajuda-nos,
Mãe de Deus-Jesus e Mãe nossa, ajuda-nos a construir um Brasil mais cristão,
mais justo, mais pacífico e solidário… e que, pelas tuas preces maternas, jorre
para nós o vinho bom da alegria e sejamos todos, um dia, herdeiros do Reino dos
céus. Amém!