Todos
os pais têm a preocupação em ensinar aos seus filhos que digam "por favor" e "obrigado".
Isso faz parte da boa educação. Mas estas duas palavras estão carregadas de um
sentido que a criança deve descobrir progressivamente: ninguém consegue
sozinho, todos temos necessidade dos outros. Reconhecer que, sozinho, não posso
fazer tudo; tenho necessidade de receber, de pedir. E dizendo obrigado aos
outros, reconheço que me fizeram bem. Enfim, estas palavras, que parecem tão
banais, exprimem a dimensão social do ser humano. A comunidade humana e a
comunidade cristã constroem-se através destas relações, destes contatos
quotidianos nos quais cada um se reconhece, em todos os sentidos desta palavra.
Hoje, Jesus convida-nos a recordar tudo isso na nossa relação com Deus. Os dez
leprosos vieram até Ele porque reconheciam n'Ele um mestre, um enviado de Deus.
Ousam pedir o que ninguém podia dar naquela época: a cura da lepra. Pedem um
favor que ultrapassa as forças humanas. É a Deus que se dirigem através de
Jesus. Pedem a Jesus e Ele cura-os. Mas um só vem dizer "obrigado".
Um estrangeiro, um samaritano. Talvez os outros pensassem que tinham o direito
de serem curados por serem judeus... O estrangeiro, esse, reconhece que a sua
cura é dom gratuito da bondade de Deus. Volta junto de Jesus para
"reconhecer" este dom. Entra numa relação plena com Deus. Veio com a
sua pobreza, para pedir; regressa, com a sua gratidão, para reconhecer que
Jesus respondeu ao seu pedido. O ato central, fonte e cume da vida cristã, a
Eucaristia, significa "ação de graças". Eis o pedido supremo que
podemos dirigir a Deus: que nos dê a sua presença em Jesus ressuscitado e o
nosso "obrigado", o mais perfeito possível que possamos dizer a Deus.
Aí, estamos bem no coração da nossa fé e do nosso amor.
OBS:
É
claro que em momentos de crise, como em doenças graves, nós corremos e gritamos
para que Deus venha em nosso socorro. Foi o que fizeram os dez leprosos ao
verem Jesus passar. Rezaram gritando por um milagre, intercedendo a cura. Jesus
não reprova a intercessão aos gritos, sua admiração foi pela falta de
consideração, falta de gratidão para com a cura recebida de Deus. E, tem ainda
outro detalhe, relacionado ao modo como Jesus cura. Pede para caminhar e se
apresentar ao sacerdote. Elizeu, na 1ª leitura, pediu a Naamã para caminhar até
o rio e se banhar. A cura, seja na 1ª leitura como no Evangelho, acontece
fazendo o caminho. Nada de teatro, nada de gritos, nada de invocações
histéricas. É no caminho, uma atividade simples da vida, que a cura acontece.
Este caminho pode ser uma conversão espiritual, pode ser uma terapia médica,
pode ser uma mudança de vida.