Todos nós tropeçamos em
muitas coisas. Aquele que não peca no uso da língua é um homem perfeito”
Na audiência geral de 22 de maio último, na qual estive presente, Sua
Santidade o Papa Francisco ensinou que em Babel tiveram início a dispersão e a
confusão das línguas, fruto da soberba e orgulho do homem; o efeito, porém, da obra do Espírito Santo é a
unidade e a comunhão: “Em Pentecostes, estas divisões são superadas.
“Não é raro encontrar nas comunidades grupos que lutam para impor a hegemonia de seu pensamento e de sua preferência. Isso costuma acontecer quando a caritativa abertura ao próximo é suprida por ideias de cada um. Já não se defende o todo da família, e sim a parte que me toca. Já não se adere à unidade que vai configurando o corpo de Cristo, e sim ao conflito que divide, parcializa, debilita...” (Jorge Mario Bergoglio, S.J., Sobre a acusação de si mesmo).
Já não há orgulho em relação a Deus,
nem fechamento de uns aos outros, mas abertura a Deus, saída para anunciar a
sua Palavra: uma língua nova, do amor, que o Espírito Santo derrama nos
corações (cf.Rm 5, 5)... A
língua do Espírito, do Evangelho, é a língua da comunhão, que convida a superar
fechamentos e indiferenças, divisões e oposições.
Cada um deve se perguntar:
como me deixo guiar pelo Espírito Santo, de modo que a minha vida e o meu
testemunho de fé seja de unidade e comunhão? Levo a palavra de reconciliação e
amor, que é o Evangelho, aos ambientes onde vivo? Às vezes parece repetir-se
hoje o que aconteceu em Babel: divisões, incapacidade de compreensão,
rivalidades, inveja e egoísmo. Que faço na minha vida? Crio unidade ao meu
redor? Ou divido com mexericos, críticas e inveja. O que faço?”.
É uma preocupação recorrente na pregação do nosso Papa,
desde os tempos de Cardeal: o vício de acusar, apontar e condenar com a língua,
grande fator de divisão. Em espanhol, é cotillear; em bom português,
fofocar. Ele citava Santo Agostinho: “Há homens de juízo temerário, detratores,
maldizentes, murmuradores, suspeitosos do que não veem, procurando acusar do
que nem mesmo suspeitam” (Sermão 47).
E continuava: “O falatório nos leva a
nos concentramos nas faltas e defeitos dos outros; desta maneira, acreditamos
nos sentir melhores. A oração do publicano no Templo ilustra essa realidade (Lc
18, 11-12), e Jesus já nos havia advertido sobre ver o cisco no olho do outro,
ignorando a trave em nosso próprio”.
“Falar mal dos outros é um mal para a
Igreja toda, pois não fica ali, no mero comentário, passa para a agressão (pelo
menos no coração). Santo Agostinho chama o murmurador de ‘homem sem remédio’:
‘os homens sem remédio são aqueles que deixam de cuidar de seus próprios
pecados para reparar nos dos outros. Não buscam o que se há de corrigir, e sim
o que podem criticar. E, ao não poder escusar a si mesmos, estão sempre
dispostos a acusar os outros’ (Sermão 19)”.“Não é raro encontrar nas comunidades grupos que lutam para impor a hegemonia de seu pensamento e de sua preferência. Isso costuma acontecer quando a caritativa abertura ao próximo é suprida por ideias de cada um. Já não se defende o todo da família, e sim a parte que me toca. Já não se adere à unidade que vai configurando o corpo de Cristo, e sim ao conflito que divide, parcializa, debilita...” (Jorge Mario Bergoglio, S.J., Sobre a acusação de si mesmo).
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
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