Assim é Santo Antônio de Pádua, frei franciscano português, que
trocou o conforto de uma abastada família burguesa pela vida religiosa.
“Doutor da Igreja”, “Martelo dos Hereges”, “Doutor Evangélico”, “Arca do
Testamento”, “Santo de todo o mundo” – são alguns dos títulos com que os
Soberanos Pontífices honraram aquele cuja vida foi, no dizer de um de seus
biógrafos, um milagre contínuo.
É o santo dos milagres, tal a quantidade de fatos extraordinários e
sobrenaturais, obtidos através de sua oração, que acompanhavam a sua
pregação. Sua língua está miraculosamente conservada em Pádua, há
775 anos. A sua devoção no Brasil foi uma rica herança dos portugueses.
Natural de Lisboa onde nasceu em 15 de agosto 1195, Ele era o filho
único herdeiro dos nobres Martinho de Bulhões e Teresa Taveira, o futuro santo
recebeu no batismo o nome de Fernando. De boa índole, inclinado à piedade e às
coisas santas, sua formação espiritual e intelectual foi confiada aos cônegos
da Catedral de Lisboa por seu pai, oficial no exército de D. Afonso. Reservado,
Fernando preferia a solidão das bibliotecas e dos oratórios às discussões
religiosas.
Segundo alguns de seus biógrafos, na adolescência Fernando foi acometido
por violenta tentação contra a pureza. Para aplacá-la, estando na catedral, o
jovem traçou uma cruz com os dedos, numa coluna de mármore, ficando nela
impressa como em cera. Avaliando nessa ocasião os perigos que corria, o
adolescente quis entrar para o mosteiro de São Vicente de Fora, dos Clérigos
Regulares de Santo Agostinho, nos arredores da capital portuguesa, quando
contava 19 anos de idade.
Ali permaneceu dois anos, findos os quais, por ser muito procurado por
parentes e amigos, pediu aos superiores que o transferissem para o mosteiro
Santa Cruz de Coimbra, casa-mãe do Instituto.
Foi ordenado sacerdote em 1220. Frei Fernando, entretanto, almejava
abraçar um gênero de vida mais perfeito e mais de acordo com suas íntimas
aspirações.
TRANSFERÊNCIA
PARA A ORDEM FRANCISCANA
Quando chegaram a Coimbra os restos mortais dos cinco protomártires
franciscanos, que deram sua vida pela Fé no Marrocos, Frei Fernando sentiu
imenso desejo de imitá-los, vertendo também seu sangue por Cristo.
Um dia, no verão de 1220, quando dois franciscanos foram ao seu mosteiro
pedir esmola, Frei Fernando perguntou-lhes se, passando ele para sua Ordem, o
enviariam à terra dos mouros para lá sofrer o martírio. Eles deram resposta
afirmativa. No dia seguinte, depois de obter, a duras penas, autorização de seu
Superior, mudou-se para o eremitério franciscano, onde se tornou um filho de
São Francisco de Assis.
Frei Fernando mudou então seu nome para o do onomástico do eremitério,
Antonio, que ele imortalizaria.
Conforme o combinado, Frei Antonio foi enviado no fim desse mesmo ano à
África. Entretanto não estava nos planos da Providência que ele ilustrasse a
Igreja como mártir, mas com suas pregações e santa vida.
Assim, chegando ao continente africano, foi atacado de terrível doença,
que o reteve no leito por longo período. Os superiores decidiram que, para
curar-se, Frei Antonio deveria voltar a Portugal.
GUIADO PELA MÃO
DA DIVINA PROVIDÊNCIA.
A mão da Providência, no entanto, desejava-o em outro campo de luta. O
navio em que estava o convalescente, levado pela tempestade, foi parar nas
costas da Itália, onde o santo encontrou abrigo em Messina, na Sicília. Lá
soube que o seráfico São Francisco havia convocado um Capítulo em Assis, para
maio de 1221. Antonio poderia, enfim, ver o pai e fundador dos franciscanos e
contemplar sua angélica virtude.
Naquela grande assembléia o Provincial da Romênia resolveu levá-lo
consigo. Homem de oração, Santo Antônio (que se tornou santo porque
dedicou toda a sua vida para os mais pobres e para o serviço de Deus.)
sentiu a necessidade de se retirar para um local afastado e ali sentir Deus.
Frei Antonio obteve dele licença para permanecer no eremitério do Monte
Paulo a fim de entregar-se ao isolamento e à contemplação. Ali viveu como
eremita; partilharam desta mesma idéia alguns dos seus companheiros de hábito
Franciscano. O quarto onde dormia era simples, teciam a própria roupa, faziam
os serviços mais humildes. Foi um período de aproximadamente um ano.
Entretanto a mão de Deus velava sobre ele, e chegou o tempo em que aquela
luz deveria brilhar para o bem do mundo inteiro.
INICIA
A VIDA APOSTÓLICA COMO GRANDE PREGADOR
Foi enviado a Forli com alguns franciscanos e dominicanos que deveriam
receber as ordens sacras. O Padre guardião do convento em que se hospedavam
pediu que algum dos presentes dissesse algo para a glória de Deus e edificação
dos demais. Um a um, foram todos escusando-se por não estarem preparados.
Restava Antonio. Sem muita convicção, o Superior mandou-lhe então que falasse,
à falta dos demais.
Era a primeira vez que Antonio falava em público, e então viu-se a
maravilha: de sua boca saíram palavras de fogo, demonstrando profundo
conhecimento teológico e das Escrituras, tudo exposto com uma lógica, clareza e
concisão que conquistou a todos.
Entusiasmado, o Guardião comunicou aquele sucesso ao Provincial, que
transmitiu a notícia a São Francisco. O Poverello mandou então que Frei Antônio
estudasse teologia escolástica para dedicar-se à pregação. Pouco depois, em
vista de seus progressos, ordenou-lhe S. Francisco que trabalhasse na salvação
das almas. Era o ano 1222.
FORÇA
IRRESISTÍVEL DE SUAS PALAVRAS.
Segundo seus biógrafos, ele tinha um exterior polido, gestos elegantes e
aspecto atraente. Sua voz era forte, clara, agradável, e sua memória feliz. A
essas vantagens, juntava uma ação cheia de graça.
Entretanto, seu traço característico, o milagre constante de sua
existência, é a força incontestável de sua pregação, o poder de sua voz sobre
os corações e as inteligências.
Quando ele fulminava os vícios e as heresias — das quais o mundo estava
então extremamente infectado — era como uma torrente de fogo que revira tudo, e
à qual ninguém pode resistir. Freqüentemente, se bem que falasse (durante o
sermão) uma só língua, era entendido por pessoas de toda espécie de países. Daí
seu sucesso extraordinário, tanto na Itália quanto na França. Por isso, o
Provincial o encarregou da ação apostólica contra os hereges na região da
Romanha e no norte da Itália quando se tornou extraordinário pregador popular.
Após alguns anos de frade itinerante, foi nomeado, por carta, por São
Francisco, o primeiro Leitor de Teologia da Ordem. Mas, este
magistério de teologia para os franciscanos de Bolonha demorou pouco porque o
Papa mobilizou todos os pregadores dominicanos e franciscanos para combater a
heresia albigense na França. Por isso, passou três anos, lecionando, pregando e
fazendo milagres no sul da França – Montpellier, Toulouse, Lê Puy, Bourges,
Arles e Limoges.
OS
MILAGRES.
As multidões acorriam, e até os comerciantes fechavam suas lojas para ir
ouvi-lo; a cidade e toda a redondeza literalmente paravam. Sendo pequenas as
igrejas para tanta gente — às vezes chegavam a juntar-se até 30 mil pessoas num
só sermão — ele falava nas praças públicas. Quando terminava, “era necessário
que alguns homens valentes e robustos o levantassem e protegessem das pessoas
que vinham beijar-lhe a mão e tocar-lhe o hábito”. O número de sacerdotes que o
acompanhavam era pequeno para depois ouvirem as confissões dos que, tocados por
seu sermão, queriam emendar-se de vida.
Seus sermões eram seguidos de milagres como não se viam desde o tempo
dos Apóstolos. Praticamente não havia coxo, cego ou paralítico que, depois de
receber sua bênção, não ficasse são. Numa ocasião converteu 22 ladrões, que por
curiosidade foram ouvi-lo. O número de hereges por ele convertidos não tem fim.
PREGAÇÃO
AOS PEIXES PARA CONFUNDIR OS INDIFERENTES.
Um dos milagres mais conhecidos de Santo Antonio foi sua pregação aos
peixes. Na cidade italiana em Rimini ao norte da Itália, os hereges
impediam o povo de ir aos seus sermões. Algumas pessoas correram na frente
de Antônio e preveniram o povo daquela cidade afirmando que o frei era
mentiroso e falso.
Durante seu sermão, o povo se mantinha indiferente. Então, apelou
para o milagre abandonando seus ouvintes, foi pregar à beira-mar. Milhares de
peixes de vários tipos e tamanhos puseram a cabeça fora da água para ouvir o
santo. Antônio elogiou a participação dos peixes na história da salvação. Assim
daria uma lição ao povo do vilarejo, e alguns que viram o acontecimento, tinham
sido testemunha, para o restante da população. Este milagre invadiu a cidade
com entusiasmo e os hereges ficaram envergonhados.
Santo Antonio foi cognominado “Martelo dos Hereges”, porque a heresia
não teve inimigo mais formidável. Sua mais antiga biografia, conhecida pelo
nome de Assídua, relata: “Dia e noite tinha discussões com os hereges;
expunha-lhes com grande clareza o dogma católico; refutava vitoriosamente os
preceitos deles, revelando em tudo ciência admirável e força suave de persuasão
que penetrava a alma dos seus contrários”.
O
TESTEMUNHO NA PRESENÇA REAL DE JESUS NA SANTÍSSIMA EUCARISTIA.
Um herege negava a Presença Real no Santíssimo Sacramento.
Para acreditar, dizia, queria um milagre.
E propôs o seguinte:
Deixaria sua mula sem comer durante três dias. Depois disso,
oferecer-lhe-ia feno e aveia, e Frei Antonio a Hóstia consagrada. Se a besta
deixasse a comida para ir adorar a Hóstia, ele
creria, disse.
Isso foi feito diante de toda a cidade.
E a mula faminta, tendo que escolher entre o alimento e o respeito à Hóstia
consagrada, foi ajoelhar-se diante desta, que o santo Antônio segurava
nas mãos.
Desde a mais tenra infância Antonio fora devoto de Nossa Senhora, e Ela
várias vezes o socorreu. Um dia, por exemplo, em que o demônio não podia mais
suportar o bem que o santo fazia, agarrou-o pelo pescoço tão violentamente, que
o enforcava. Antonio mal pôde balbuciar as palavras da antífona a Nossa
Senhora, “O Gloriosa Domina”. No mesmo instante o
demônio fugiu apavorado. Recomposto, Antonio viu a seu lado a Rainha do Céu
resplandecente de glória.
A MORTE
DE SANTO ANTÔNIO
Em 1229, foi morar com os seus irmãos franciscanos, perto de Pádua, no
convento de Arcella, em Camposampiero. Antônio estava muito doente. Tinha
hidropisia.
Apos as pregadas da Quaresma de 1231, sentiu-se cansado e esgotado.
Precisava de repouso. Os frades fizeram para ele um quarto em cima de uma
árvore, mas mesmo assim o povo o procurava e Antônio já muito debilitado falava
ao povo de cima de uma nogueira em Camposampiero.
Decidiram então levá-lo a Pádua. (Pádua está situada na Região de
Veneto, norte da Itália, rica em belezas naturais, obras de arte e arquitetura.
Antiga cidade universitária que possui uma ilustre história acadêmica).
Agasalharam o frei e colocaram em um carro puxado por bois. A viagem era
longa. Antônio foi piorando. Pararam em um povoado que havia um convento
franciscano. Antônio piorava, precisava ficar sentado pois sofria de falta de
ar. Recebeu os sacramentos e se despediu de todos e ainda cantou o bendito:
"Ó Virgem gloriosa que estais acima das estrelas..." Depois ergueu os
olhos para o céu e disse "Estou vendo o Senhor". Pouco depois morreu.
Era dia 13 de junho de 1231. Frei Antônio tinha 36 anos de idade.
Imediatamente as crianças de Pádua saíram espontaneamente pelas ruas
gritando: “O santo morreu! O santo morreu!”. Ao mesmo tempo, em Lisboa, sua
cidade natal, os sinos puseram-se a repicar por si sós, e o povo saiu às ruas.
Somente mais tarde é que souberam do ocorrido.
Santo Antônio é o santo padroeiro dos casamentos.
A
CANONIZAÇÃO DE SANTO ANTÔNIO.
Foi tanta a repercussão de sua morte e tantos os milagres, que, onze
meses após sua morte, é canonizado pelo Papa Gregório IX em 1232; Foi o
processo mais rápido da história da igreja .
Em 1263, quando seu corpo foi exumado, sua língua estava intacta e
continua intacta até hoje, numa redoma de vidro, na Basílica de Santo Antônio,
em Pádua, onde estão seus restos mortais.
Em 1946 é oficialmente proclamado Doutor da Igreja por Pio XII,
sendo-lhe atribuído o epíteto de Evangélico pelo vasto conhecimento das
Sagradas Escrituras patente nos seus Sermões.
commons.wikimedia.org
derradeirasgracas.com
catholictradition.org
--
--