SUA CARAVELA CHEGOU AO PORTO DA BAHIA EM 1553. LOCAL TIDO COMO UM "PARAÍSO TERRESTRE".
O JOVEM JOSÉ ENCANTOU-SE COM A TERRA DE SANTA CRUZ. FEZ DA CONVERSÃO DA GENTE DA
TERRA A SUA META. VIVEU COMO MISSIONÁRIO, AGIU COMO HERÓI, MORREU COMO SANTO.
O JOVEM JOSÉ ENCANTOU-SE COM A TERRA DE SANTA CRUZ. FEZ DA CONVERSÃO DA GENTE DA
TERRA A SUA META. VIVEU COMO MISSIONÁRIO, AGIU COMO HERÓI, MORREU COMO SANTO.
Nos 44 anos que viveu no Brasil foi respeitado e
venerado por todos; índios, portugueses, espanhóis e brasileiros. Pelo
esplendor de suas virtudes: humildade, coragem, paciência, benevolência,
caridade, espírito de oração, pela fama de milagreiro e pelo culto que o povo
brasileiro sempre lhe prestou, o papa João Paulo II o proclamou Beato, no dia
22 de junho de 1980.
COM 19 ANOS, MISSIONÁRIO NA TERRA DE SANTA CRUZ
O moço de 19 anos que chegava à Terra de Santa Cruz
vinha com as melhores disposições espirituais possíveis para exercer sua
missão. Embora tão jovem e não tendo ainda sido ordenado sacerdote, Irmão
José era dos primeiros missionários jesuítas que se estabeleciam na nova terra.
Sua meta era conquistar almas para Cristo.
Ele fazia parte da comitiva do segundo Governador
Geral do Brasil Dom Duarte da Costa e chegou a Salvador, na Bahia de Todos os
Santos, no dia 13 de julho do ano de 1553.
Da Terra de dimensões continentais em que aportou
nunca mais saiu. Amou a Terra, amou seu povo. Evangelizou as "gentes
brasílicas", deu rumo a sua formação. Identificou-se com suas aspirações,
sem perder sua própria identidade.
ORIGENS DE ANCHIETA
Aquele jovem noviço tinha nascido em São Cristóvão,
Tenerife, uma das ilhas do Arquipélago das Canárias, a 19 de março de 1534, dia
da festa litúrgica de São José, fato determinante para que ele também recebesse
esse nome no batismo: José de Anchieta.
José de Anchieta pertencia a uma próspera família. Seu
pai, Juan Lopes de Anchieta, era da província de Guipuscoa, no País Basco. Por
precaução, Juan havia mudado para as Canárias. E ele tinha lá suas razões para
isso: ele tomou parte na Revolta dos Comuneiros, feita contra o imperador
espanhol Carlos V e havia sido condenado à morte.
Juan Lopes acabou sendo salvo da pena capital por
intercessão de um ilustre parente militar, o capitão Inácio de Loyola, que,
mais tarde, veio a ser o fundador dos jesuítas, os religiosos da Companhia de
Jesus. Sua mãe foi Dona Mência Dias de Clavijo y Llarena. Ela era natural das
próprias Ilhas Canárias. Seu avô havia sido um dos conquistadores espanhóis.
FORMADO NUM TEMPO DE TURBULÊNCIA
Quando ainda criança, Anchieta teve oportunidade de
estudar com religiosos. Ao completar 14 anos, juntamente com um irmão de maior
idade, ele já estava iniciando seus estudos na célebre Universidade de Coimbra.
Cursou ali o renomado Colégio de Artes. Recebeu nessa ocasião uma educação
própria de seu tempo, com uma formação principalmente filológica e literária
para que aperfeiçoasse a língua latina e já visando um aperfeiçoamento futuro.
Maiores ciências ele as adquiriu nas escolas dos padres da Companhia de Jesus.
Cresceu nelas de tal maneira que em breve tempo estava bem formado em todo
gênero de humanidades.
Foi com 17 anos de idade que José de Anchieta
ingressou na Companhia de Jesus, a Ordem Religiosa fundada por Santo Inácio em
1539 e que foi aprovada pelo Papa Paulo III com a publicação da bula
"Regimini Militantis Eclesiae", de 1540. Também foi por essa ocasião
que José de Anchieta --ainda estudante de 17 anos-- fez seu voto particular de
castidade diante do Altar de Nossa Senhora, na Catedral de Coimbra.
Na época do estudante José de Anchieta o mundo
ocidental estava vivendo uma crise: passava por uma autêntica e profunda
revolução cultural e religiosa. O Renascimento, aproveitando-se de tendências
latentes no homem decadente do fim da Idade Média, manejava as idéias,
influenciando e marcando profundamente os acontecimentos nas artes e
mentalidades. No campo religioso, a reforma protestante, codificada por um
frade apóstata e seguindo a esteira da renascença, produzia devastações no seio
da unidade do cristianismo.
Foi num mundo assim conturbado que no ano de 1553, no
final de seu noviciado, José de Anchieta fez seus primeiros votos como
jesuíta. Com esses votos, seus receios de não poder permanecer na Ordem de
Santo Inácio foram dissipados.
AÇÃO PRETERNATURAL OU FATO PROVIDENCIAL?
As caravelas do novo Governador Geral Duarte da Costa
traziam cerca de 250 pessoas. Além do noviço José de Anchieta, fazia parte da
esquadra o também jesuíta Padre Manuel da Nóbrega que era seu superior e seria
acompanhado por Anchieta no início de sua missão.
Os dois jesuítas já tinham destino certo. Eles apenas
passariam por Salvador e logo deveriam dirigir-se para a Capitania de São
Vicente. Ali exerceriam a missão de catequizar colonos e nativos.
A viagem até a "terra de missão" era
difícil. Não havia outro meio de realizá-la a não ser por mar. Duas naus saíram
de Salvador com destino a São Vicente levando Anchieta, Nóbrega e outros padres
jesuítas. Ainda no Sul da Bahia uma tempestade gigantesca surpreendeu as duas
embarcações. Uma delas foi arremessada contra os rochedos e espatifou-se. Por
milagre, ninguém morreu. A nave em que estava Anchieta, acabou ficando
encalhada nos recifes, ainda inteira.
Foi uma noite de terror para os viajantes. Gigantescas
ondas ameaçavam destruir a nau que ainda havia restado. No dia seguinte, o mar
amanheceu calmo e os viajantes conseguiram chegar à terra. Parece até que uma
fúria de origem preternatural, diabólica, antevendo os sucessos que teriam os
missionários, tentava impedir que eles chegassem a seu destino.
Pior para o demônio: Ali mesmo Anchieta começou sua
missão... com sucesso. Ao procurar comida em terra firme, encontrou-se com
índios do lugar. Ao chegar na aldeia deles, viu uma indiazinha muito doente, já
à beira da morte. Anchieta a instruiu e batizou dando-lhe o nome de Cecília.
Logo depois, a primeira indiazinha brasileira batizada por Anchieta morreu.
Enquanto o barco era consertado, Anchieta ainda esteve
outras vezes na aldeia para ensinar o evangelho aos índios. Chegando a
hora da partida, com a consciência tranquila, Anchieta pensava: "O
acidente com o barco foi uma obra permitida pela Providência Divina para salvar
a inocente Cecília, que estava predestinada." E ele tinha razão.
Sua vida está cheia de fatos semelhantes que indicam
os desígnios de Deus Nosso Senhor de tê-lo como instrumento de salvação para
muitas almas. Aquele jovem franzino, doente, tinha a alma maior que o corpo.
Sua fé exuberante, acalentava uma esperança que, por amor a Deus, seria capaz
de evangelizar um país, formar um povo, salvar um país inteiro.
UM APÓSTOLO NA CAPITANIA DE SÃO VICENTE
O missionário José de Anchieta chegou a Salvador em
junho de 1553 e logo dirigiu-se a São Vicente.
Em pouco tempo ele já estava colocado no centro das
atividades da missão. Com seus dotes inatos de comunicador, e com sua sede de
almas, conseguiu com os índios um amplo entendimento. Tornou-se logo amigo de
indígenas e colonizadores e por ambos era respeitado.
Não limitou seu trabalho às redondezas da pequena São
Vicente. Subiu a Serra que costeava a Capitania e chegou ao planalto que estava
depois dela. O Planalto de Piratininga era povoado por milhares de índios que
viviam em aldeias distintas. Para Anchieta elas eram almas redimidas pelo
sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo e sua missão consistiria em conquistá-las
para Cristo, conduzi-las para a Igreja para serem instruídas, formadas,
civilizadas.
Sua ação era ligeira, meticulosa, apostólica,
eficiente. Tinha metas audaciosas, plantava bases para o futuro. Assim foi que
em 1554, no dia 25 de janeiro, festa da Conversão de São Paulo Apóstolo,
Anchieta participou da fundação do colégio da vila de São Paulo de Piratininga,
onde também foi professor. Junto ao colégio foi edificada uma capela provisória
na qual foi celebrada a primeira missa em 25 de agosto.
Estava nascendo o núcleo de uma cidade que se tornaria
uma das maiores metrópoles do mundo: São Paulo. Anchieta construiu ainda um
seminário perto do Colégio de Piratininga e nele também dava aulas. Tanta ação,
tanto fruto já colhido e não havia passado seis meses desde que ele chegara à
Capitania.
FALAVA O PORTUGUÊS, O CASTELHANO, O LATIM E A
LÍNGUA BRASÍLICA.
Decifrar o tupi foi uma das tarefas que Nóbrega deu a
Anchieta. Em apenas seis meses, ele conseguiu entender e falar a língua dos
índios. Em um ano ele a dominava com perfeição a ponto de criar uma gramática.
Além da gramática indígena, Anchieta dedicava seus dias a ensinar o latim e o
português a curumins e índios adultos. Aos irmãos jesuítas, ensinava a língua
tupi.
Depois de cumprir suas obrigações religiosas e de
exercer todo o trabalho que tocava a ele executar, ainda estava longe a hora do
repouso para ele. Era à noite, quando todos já dormiam, que ele escrevia
manuais para os alunos, cartas sobre o trabalho dos jesuítas e obras diversas,
entre elas um dicionário de tupi e um tratado sobre a flora, a fauna e o clima
da Capitania de São Vicente.