NÃO SE PODE VIVER COM PROFUNDIDADE PERANTE DEUS, A NÃO SER EM ATITUDE SIMPLES E HUMILDE. COMO PODE VIVER UMA PESSOA QUE,
DE ALGUMA MANEIRA, EXPERIMENTOU A DEUS, A NÃO SER COM HUMILDADE?
O núcleo da verdadeira fé é a humildade. É
esta a nossa experiência diária.
Deus é luz, mas, ao mesmo tempo, nos é demasiado
obscuro. Está próximo, mas está oculto. Ele nos fala, mas temos que suportar
seu silêncio. É paz, mas uma paz que gera intranquilidade e inquietude.
Por isso, quem se aproxima de Deus com
sinceridade o faz como aquele centurião romano que se aproximou de Jesus com
estas palavras: "Eu não sou digno de que entres em minha casa". Quem
pronuncia estas palavras a partir do fundo de seu ser está se aproximando de
Deus com verdade e dignidade.
Quanto mais a pessoa penetra no fundo do
seu coração, melhor descobre que o caminho para encontrar-se com Deus é o da
humildade, da verdade e da transparência.
O ser humano não é "deus". E o
melhor que podemos fazer é reconhecer isso. Talvez a própria cultura moderna já
nos esteja convidando a renunciar a um poder "divino", para
encontrar nossa verdadeira dignidade no reconhecimento de um Deus que não é
nosso "inimigo", mas quem melhor nos pode ajudar a viver com
sentido, responsabilidade e esperança.
Como aquele centurião de Cafarnaum que ,
embora consciente de seu poder e autoridade, não duvidou em reconhecer sua
limitação para acolher Jesus com fé e receber dele aquilo que não podia obter
com suas próprias forças.
O EXEMPLO DO CENTURIÃO
Põe em relevo algo simples, cuja imensa
eficácia muitas vezes passa despercebida aos nossos olhos: a oração cheia de
fé. Sua força impetratória é tal que nos faz participar da própria onipotência
divina, como afirma Jesus: “Tudo o que pedirdes com fé na oração, vós o recebereis”
(Mt 21, 22).
Portanto, devemos nos compenetrar da
necessidade de nos dirigirmos a Nosso Senhor em nossas dificuldades — tanto
espirituais, quanto temporais —, com a certeza de que nossa fé moverá sua
infinita misericórdia a nos atender. E assim como a gentilidade não foi motivo
para o centurião recear ser ouvido por Cristo, nossa confiança em sua ação deve
passar por cima das nossas próprias insuficiências, certos de que diante d’Ele
não é preciso merecer, mas apenas pedir com fé.
Imortalizada pelo Evangelho e
recolhida pela Liturgia da Igreja a fim de predispor convenientemente todos
aqueles que vão receber a comunhão eucarística, a prece do centurião atravessou
os séculos como modelo de perfeita atitude de alma de um fiel, ao encontrar-se
diante do Salvador: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada,
mas dizei uma palavra e serei salvo”. Entretanto, há uma substancial diferença
entre a oração dirigida a Jesus em Cafarnaum e a que se eleva a Ele em todos os
recantos do mundo, junto ao altar: nos lábios do centurião, expressava o desejo
de uma alma que, crendo de modo extraordinário no poder d’Ele e julgando-se
indigna de recebê-Lo, pedia-Lhe que não fosse à sua casa, curando seu servo à
distância. Ao brotar de nosso coração católico, a mesma súplica também confessa
a indignidade de receber a Cristo; não obstante, implora, ao mesmo tempo, que
Ele venha à nossa alma e, nessa visita, nos diga uma palavra interior que cure
nossas misérias e nos restaure inteiramente.
EM VERDADE EU VOS DIGO O QUE PEDIRDES
EM ORAÇÃO, CREDE QUE O RECEBEREIS, E VOS SERÁ CONCEDIDO, DIZ O SENHOR. Mc 11, 23-24
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