Saímos hoje da liturgia dominical envolvidos no suave
perfume da bem-aventurança com a qual rezamos: “FELIZ DAQUELE QUE FOI PERDOADA
A CULPA E ABSOLVIDO O PECADO.” (SALMO 31),
as histórias de culpa e de graça e juízo e de perdão que escutamos não
são acontecimentos de outros tempos, mas são vivas e atuais para a vida de cada
crente, marcada pela astúcia do próprio mal e surpresa do prodígio estupendo da
misericórdia do Senhor.
A Palavra anunciou-nos que Deus é maior que o nosso
coração, que a sua benevolência tem entranhas maternas e é mais forte que o
nosso pecado.
É difícil para nós, no contexto social em que vivemos,
deixar que a Palavra do Senhor ponha a nu a nossa verdade mais profunda até
fazer-nos confessar: “pequei” (II Samuel) . Demasiadas justificações
psicológicas, demasiados condicionamentos sociais, pretendem tornar
desatualizada esta obrigatória “confessio vitae”, quando inclusive não
apresentam motivos que legitimam o mal que verificamos dentro e fora de nós. E
no entanto precisamente este reconhecimento sincero da nossa culpa, o
conhecimento da nossa cumplicidade no mal que existe no mundo, a liberdade de a
manifestarmos a Deus e aos irmãos não são um ato de degradação mas podem ser, o
começo de uma vida reencontrada e renovada.
Como Davi, aceitarmos a palavra como poder de juízo,
ela nos fará experimentar a sua força de salvação. Acaso Jesus não se apresenta
como aquele que pode apagar o passado de uma pessoa, abrir o seu coração para
receber um dom novo, fazer desencadear um amor indizível?
Jesus sonhava com um “ser humano novo”, um ser
empenhando em transformar a vida e
torná-la melhor, um ser chamado a desfrutar a Vida eterna.
O perdão de Jesus a mulher pecadora não é um rito
rotineiro de absolvição de pecados. Diante da visão legalista do fariseu,
Simão, que busca tudo, menos o bem real da mulher, Jesus, que só quer para ela
a vida liberta-a de sua humilhação, devolve-lhe sua dignidade, renova-a por
dentro e abre-lhe um novo horizonte: “Tua fé te salvou. Vai em paz.”
Mt 5,38-42 – O espírito de mansidão – (Lu
6,29-30) – Como em Mt 5,25-26, a mansidão e a conciliação são dons decorrentes
da caridade, do amor que tudo perdoa. É o novo mandamento do amor, da
misericórdia e da justiça. Jesus veio abolir a vingança proposta pelo
antigo ‘olho por olho dente por dente’. Isso não quer dizer que tenho
que ser passivo com o mal. Como é difícil não resistir àquele que nos quer
bater, roubar e até matar? Só com a graça do alto poderemos vencer a natural
reação que se manifesta em nós ao reclamar de quem nos ofende de quem toma o
que é nosso. Realmente não é fácil viver cristamente. Como é dura, já
diziam os apóstolos, como extremada a proposta de Jesus: ‘se te batem na face
direita, oferece a esquerda... se te tiram a túnica, dá o manto” e assim por
diante.
Dá-lhe
um amor que ela nunca tinha recebido, um amor gratuito, para a fazer nascer ela
própria. Ele transforma a água suja dos seus pecados em fonte purificadora,
transfigurada pelo fogo do amor divino. Porque a pecadora recebeu um perdão
infinito e gratuito, pôde, por sua vez, mostrar um grande amor, e nascer para a
vida. É isso que Jesus nos convida a viver quando vamos até Ele!
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