As parábolas que ouvimos neste domingo nos falam da realidade do Reino
de Deus no mundo, até o dia da consumação final.
Enquanto este dia não chega, vivemos o tempo da Igreja, que nasce como uma pequena semente que se espalha sobre a terra e produz muitos frutos.
Enquanto este dia não chega, vivemos o tempo da Igreja, que nasce como uma pequena semente que se espalha sobre a terra e produz muitos frutos.
Homilia de Padre
Marcos Belizário Ferreira no
16º Domingo do
Tempo Comum, 2014 - Ano A
A pedagogia
litúrgica nos conduziu, durante três celebrações, nos caminhos do discipulado.
Nas duas celebrações anteriores, do 14º e 15º Domingos deste Tempo Comum que
estamos vivendo, contemplamos Jesus Mestre.
Inicialmente, ele se mostra um Mestre com coração bondoso, que não
carrega seus discípulos com pesos insuportáveis, mas ajuda a levar a vida de
modo suave, com leveza e com amor.
No Domingo passado, consideramos Jesus como Mestre que ensina contando parábolas.
Assim, Jesus não ensina com conceitos ou normas, mas chama atenção para momentos específicos da vida e de como viver.
Sempre no Domingo passado, meditávamos que Jesus é Mestre que semeia a semente da Palavra no coração dos discípulos e das discípulas, fazendo de seus corações sementeiras evangelizadas e evangelizadoras.
Hoje, a pedagogia Litúrgica nos apresenta o discipulado como tempo para cultivar a semente da Palavra. Isto está presente nas três parábolas contadas por Jesus, no Evangelho deste Domingo: do joio, do grão da mostarda e do fermento.
Jesus volta a falar em parábolas para falar do discipulado, do seu seguimento e de como acontece o seu seguimento.
Volta a dizer que a semente precisa ser cultivada. Mas, hoje, Jesus alerta para um fato: a semente da Palavra não é a única semente semeada no coração dos discípulos e discípulas.
Também o inimigo semeia sementes e às vezes, bem parecidas com a semente da Palavra. No início joio e trigo se assemelham, a ponto de ser difícil distinguir um do outro, mas com o tempo, com a floração e com os frutos começa-se a notar a diferença entre uma semente e outra.
Também o inimigo semeia sementes e às vezes, bem parecidas com a semente da Palavra. No início joio e trigo se assemelham, a ponto de ser difícil distinguir um do outro, mas com o tempo, com a floração e com os frutos começa-se a notar a diferença entre uma semente e outra.
Muitas vezes, somos tentados a arrancar o joio, a usar de violência contra nós mesmos, para cultivar unicamente o trigo, mas Jesus chama atenção para o risco, porque assim podemos estragar a plantação da vida nova que existe dentro de cada um de nós.
De onde o conselho de Jesus para deixar as duas sementes crescerem juntas, até o aparecimento dos frutos, que permitirá a opção entre o trigo e o joio.
De onde o conselho de Jesus para deixar as duas sementes crescerem juntas, até o aparecimento dos frutos, que permitirá a opção entre o trigo e o joio.
Considerando os frutos, a gente pode optar em ser ou não discípulo e discípula de Jesus. É pelos frutos que a pessoa pode se decidir entre cultivar a semente do Reino ou a outra semente, aquela semeada pelo inimigo. A optar entre queimar o joio ou colher o trigo da Palavra conservando-o no celeiro do coração.
A própria Igreja é um campo, dentro da qual crescem junto o trigo e o joio, bons e maus. A Igreja não é um “jardim fechado”; ou antes como a arca de Noé, na qual somente para alguns poucos há salvação neste naufrágio geral.
O mundo não se divide em filhos das trevas e filhos da luz; pelo certo, somos todos filhos das trevas, todos somos joio, destinados porém – se o quisermos, a nos tornar filhos da luz e trigo bom, acolhendo o Reino e convertendo-nos.
Nada de fixo e de fatal, nada de castas de homens eleitos e de condenados.
O campo é, sim, o mundo, mas é também a Igreja: lugar em que há espaço para crescer, converter-se e, sobretudo, para imitar a paciência de Deus.
O campo é, sim, o mundo, mas é também a Igreja: lugar em que há espaço para crescer, converter-se e, sobretudo, para imitar a paciência de Deus.
No mais, a paciência de Deus não é simples paciência, isto é, ficar aguardando o dia do juízo para depois punir com maior satisfação. Esta é, muitas vezes, a falsa paciência dos homens. A de Deus é a longanimidade.
É misericórdia, é vontade de salvar. Ele é como foi cantado no salmo responsorial: “um Deus de piedade, cheio de compaixão, lento para a cólera e cheio de amor, um Deus fiel”.
Surpreendente ver com que frequência Jesus se dirige a seus discípulos para adverti-los contra falsa “impaciência messianica” que não sabe respeitar o ritmo da ação discreta, mas vigorosa, de Deus.
Aos que esperam que Ele dê início a um movimento contundente e arrojado, capaz de terminar com outras correntes e alternativas, Jesus lhes fala de uma ação mais humilde e respeitosa de Deus. O mundo é um campo de sementeiras opostas. E o Reino de Deus cresce aí na densidade dessa vida às vezes tão ambígua e complexa.
Aí está Deus salvando o ser humano: nesses comportamentos coletivos, animados umas vezes por grandes ideias e outras vezes por obscuros egoísmos; nesses mil gestos que fazemos cada dia e onde se mescla a generosidade com as mesquinharias mais inconfessáveis.
Àqueles que esperam o desenrolar imediato de algo espetacular e poderoso, Jesus lhes fala de um reinado de Deus mais simples e discreto.
Àqueles que esperam o desenrolar imediato de algo espetacular e poderoso, Jesus lhes fala de um reinado de Deus mais simples e discreto.
Algo
que não visa desencadear movimentos grandiosos de massa. O Reino de Deus já esta atuando, mas a modo de um grão de mostarda
minúsculo e quase irrisório que germina com humildade, ou como uma porção quase
imperceptível de fermento que se perde na massa fermentando-a totalmente.
O Reino de Deus é um “fermento de humanidade” que cresce em qualquer
rincão obscuro do mundo, onde ama o ser humano e onde se luta por uma
humanidade mais digna.
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