Homilia de Padre
Marcos Belizário Ferreira
Domingo passado, caso não tivéssemos a festa da Assunção de Maria
transferida para o XX Domingo do Tempo Comum, teríamos proclamado e ouvido a
passagem do Evangelho da “mulher cananeia”; “Ó mulher, grande é a tua fé”.
Hoje a pergunta de Jesus não nos pede simplesmente nossa opinião, mas
nos interpela principalmente sobre a nossa atitude diante dele. E
essa atitude não transparece só em nossas palavras, mas sobretudo em nosso
seguimento concreto de Jesus.
As palavras de
Jesus pedem uma opção radical. Ou Jesus é para nós um personagem a mais, ao
lado de muitos outros da história, ou Ele é a Pessoa decisiva que nos traz a
compreensão última da existência, a orientação decisiva para a nossa vida e
nos oferece a esperança definitiva.
A pergunta “e
vós, quem dizeis que Eu sou?” adquire então um conteúdo novo. Não é mais
apenas uma questão sobre Jesus, mas sobre nós mesmos. Quem sou eu? Em quem eu
creio? A partir de que oriento a minha vida? A que se reduz minha fé?
Todos temos de
lembrar sempre de novo que a fé não se identifica com as fórmulas que
pronunciamos. Para compreender melhor o alcance “do que eu creio”, é necessário
verificar como vivo, a que aspiro, em que me comprometo.
Por isso, a pergunta de Jesus, mais do que um exame sobre nossa
ortodoxia, deveria ser um apelo a um modo de vida cristão. Não
se trata evidentemente de dizer ou crer qualquer coisa sobre Cristo.
Mas também não fazer solenes profissões de fé ortodoxa, para viver depois muio longe do espírito que essa mesma proclamação de fé traz consigo.
Confessamos a
Cristo por costume, por piedade ou por disciplina , as vivemos na maioria das
vezes sem captar a originalidade de sua vida, sem escutar a novidade de seu
apelo, sem deixar-nos atrair por seu amor apaixonado, sem contagiar-nos por
sua liberdade e sem esforçar-nos em seguir sua trajetória.
Nós o adoramos
com 'DEUS', mas Ele não é o centro de nossa vida. Nós o confessamos como
“SENHOR”, mas vivemos de costas para seu projeto, sem saber muito bem qual era
esse projeto e o que pretendia. Nós o chamamos de “MESTRE”, mas não vivemos
motivados pelo que motivava a vida dele.
Vivemos como membros de uma
religião,mas não somos discípulos de
Jesus.
Paradoxalmente , a “ortodoxia” de nossas fórmulas doutrinais pode
dar-nos segurança, dispensando-nos de um encontro mais vivo com Jesus.
Não devemos
enganar-nos. Cada um de nós deve colocar-se diante de Jesus, deixar-se olhar
diretamente por Ele e escutar do fundo do seu ser esta pergunta que Ele nos
faz:
Quem sou eu realmente para vós?
Responde-se a esta pergunta muito mais
coma vida do que com palavras sublimes.
cf Pagola, José Antonio
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