quinta-feira, agosto 14, 2014

PAPA FRANCISCO EM VIAGEM À CORÉIA DO SUL

O Papa Francisco chegou na manhã desta quinta-feira (14) a Seul, na primeira visita de um Sumo Pontífice à Coreia do Sul em 25 anos, destinada a reforçar o crescimento do catolicismo na Ásia.
 Francisco chega à Coréia para "se dirigir a todos os países do continente" com uma mensagem sobre "o futuro da Ásia", O Papa celebrará uma missa "pela paz e a reconciliação" na península coreana na catedral Myeong-dong de Seul, em 18 de agosto, quinto e último dia de sua visita à Coreia do Sul.

Os católicos representam 10,7% da população sul-coreana. O Papa fará um apelo à reconciliação entre as duas Coreias, divididas desde 1953, e se encontrará com delegações da juventude católica asiática.
Segundo a Santa Sé, os três objetivos da visita são: a mensagem para a evangelização da Ásia, a beatificação de 124 mártires do início do cristianismo na Coreia - uma maneira de honrar a resistência dos cristãos asiáticos diante de numerosas perseguições - e lançar uma mensagem pela reconciliação entre o sul capitalista e o norte comunista, onde há uma "Igreja do silêncio", que sofre controle e perseguições.
EM SEU PRIMEIRO DISCURSO OFICIAL, NO PALÁCIO PRESIDENCIAL DE SEUL, O PAPA RECORDOU QUE "UM POVO GRANDE E SÁBIO NÃO SE LIMITA A AMAR AS SUAS TRADIÇÕES ANCESTRAIS, MAS VALORIZA TAMBÉM OS SEUS JOVENS"

No Palácio Presidencial de Seul, o Santo Padre explicou que a sua presença no País asiático "tem lugar por ocasião da VI Jornada Asiática da Juventude, que reúne jovens católicos" de todo o continente "para uma jubilosa celebração da fé comum". 
E, no entanto, disse o Papa, durante a visita ele vai proclamar beatos "alguns coreanos que morreram como mártires da fé cristã: Paul Yunji-chung e os seus 123 companheiros" Duas celebrações que - para usar as mesmas palavras usadas pelo Papa na manhã de hoje – “se completam mutuamente”. 

Para os católicos, de fato, é bem viva a importância que, em primeiro lugar, se deve à honra dos antepassados ​​que sofreram o martírio por causa da fé, “porque - disse Francisco - se prontificaram a dar a vida pela verdade em que acreditaram e de acordo com a qual procuraram viver".  Eles são, para nós hoje, um modelo de vida plenamente vivida "por Deus e para o bem dos demais".

No entanto, "um povo grande e sábio - disse o Papa - não se limita a amar suas antigas tradições, mas valoriza também os jovens", a quem transmite "a herança do passado que aplica aos desafios do presente". 
Um evento como a Jornada da Juventude é uma "oportunidade valiosa" para ouvir "as esperanças e as preocupações" dos jovens. E, dado o contexto histórico atual - acrescentou o bispo de Roma - é "muito importante" refletir sobre a necessidade de "transmitir aos nossos jovens o dom da paz."
No segundo discurso na Coreia, o Papa Francisco alertou os bispos para que não caiam na tentação do clericalismo, uma vez que os fundadores da Igreja coreana eram leigos. Recomendou que os bispos estejam sempre próximos aos párocos e aos sacerdotes, dando apoio no serviço pastoral. 

"Queridos irmãos, um testemunho profético do Evangelho apresenta alguns desafios especiais para a Igreja na Coreia, uma vez que esta vive e trabalha no meio duma sociedade próspera mas cada vez mais secularizada e materialista. 
Em tais circunstâncias, os agentes de pastoral são tentados a adotar não apenas modelos eficazes de gestão, programação e organização, inspirados no mundo dos negócios, mas também um estilo de vida e uma mentalidade guiados mais por critérios mundanos de sucesso e até mesmo de poder do que pelos critérios enunciados por Jesus no Evangelho. Ai de nós, se a cruz ficar esvaziada do seu poder de julgar a sabedoria deste mundo (cf. 1 Cor 1, 17)! Exorto-vos, a vós e aos vossos irmãos sacerdotes, a rejeitar esta tentação em todas as suas formas. Queira o Céu que possamos salvar-nos da mundanidade espiritual e pastoral que sufoca o Espírito, substitui a conversão com a condescendência e acaba por dissipar todo o fervor missionário (Exort. ap. Evangelii gaudium, 93-97).
 A beatificação de Paul Yun Ji-chung e dos seus companheiros é uma ocasião para agradecer ao Senhor que, a partir das sementes lançadas pelos mártires, fez brotar uma colheita abundante de graça nesta terra. Vós sois os descendentes dos mártires, herdeiros do seu heroico testemunho de fé em Cristo. Além disso, sois herdeiros de uma tradição extraordinária, que teve início e cresceu amplamente graças à fidelidade, perseverança e trabalho de gerações de leigos. É significativo que a história da Igreja na Coréia tenha começado por um encontro direto com a Palavra de Deus. Foi a beleza intrínseca e a integridade da mensagem cristã – o Evangelho e o seu apelo à conversão, à renovação interior e a uma vida de caridade – que impressionaram a Yi Byeok e aos nobres anciãos da primeira geração, sendo a essa mesma mensagem, à sua pureza, que a Igreja na Coréia olha, como num espelho, para se descobrir autenticamente a si mesma.
 Hoje, a fecundidade do Evangelho na terra coreana e a grande herança transmitida por vossos antepassados na fé podem-se reconhecer no florescimento de paróquias ativas e movimentos eclesiais, nos sólidos programas de catequese, na solicitude pastoral pelos jovens e nas escolas católicas, nos seminários e nas universidades. A Igreja na Coreia é estimada pelo seu papel na vida espiritual e cultural da nação e pelo seu vigoroso impulso missionário: de terra de missão.
Vós e os vossos irmãos sacerdotes ofereceis a esperança com o vosso ministério de santificação, que não apenas conduz os fiéis às fontes da graça na liturgia e nos sacramentos, mas constantemente os impele a agir em resposta a Deus que chama a tender para a meta.
 Como podemos ser guardiões de esperança, se negligenciamos a memória, a sabedoria e a experiência dos idosos e as aspirações dos jovens? A este respeito, quero pedir-vos que cuideis de modo especial da educação dos jovens, sustentando na sua indispensável missão não apenas as universidades, mas também as escolas católicas de todos os graus, a começar pelas escolas primárias, onde as mentes e os corações jovens são formados no amor de Deus e da sua Igreja, no bem, no verdadeiro e no belo, para serem bons cristãos e honestos cidadãos.
Ser guardiões da esperança implica também garantir que o testemunho profético da Igreja na Coréia continue a expressar-se na sua solicitude pelos pobres e nos seus programas de solidariedade especialmente a favor dos refugiados e migrantes e daqueles que vivem à margem da sociedade. 
O ideal apostólico de uma Igreja dos pobres e para os pobres encontrou uma expressão eloquente nas primeiras comunidades cristãs da vossa nação. Espero que este ideal continue a moldar o caminho da Igreja coreana na sua peregrinação para o futuro. Estou convencido de que, se sobressair na Igreja o rosto do amor, cada vez mais jovens se sentirão atraídos para o coração de Jesus, sempre inflamado de amor divino na comunhão do seu místico Corpo.
Queridos Irmãos Bispos, com estas reflexões sobre a vossa missão como guardiões da memória e da esperança, quis encorajar-vos nos vossos esforços por aumentar a unidade, santidade e zelo dos fiéis na Coréia. Possam as súplicas de Maria, Mãe da Igreja, levar ao seu pleno florescimento nesta terra as sementes lançadas pelos mártires, irrigadas por gerações de fiéis católicos e transmitidas a vós como uma promessa para o futuro do país e do mundo. A vós e a quantos estão confiados ao vosso cuidado pastoral e à vossa guarda, concedo de coração a Bênção Apostólica.


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