"Além disso, veremos que a celebração de hoje abraça os inúmeros mártires anônimos, neste país e no resto do mundo, que, especialmente no século passado, ofereceram a sua própria vida por Cristo ou sofreram duras perseguições por causa do Seu nome".
Papa Francisco
Em Gwanghwamun, lugar símbolo de Seul, o Papa Francisco presidiu na manhã deste sábado e na presença de 800 mil fiéis, a missa de beatificação de 124 mártires. Durante a homilia, o Pontífice recordou a vitória e o testemunho de quem pagou com o sacrifício supremo a fé em Deus. Paulo Yun Ji-chung e seus companheiros selaram sua missão de precursores com o martírio e a partir deste veio uma primavera de novos cristãos na Coreia.
“O exemplo dos mártires tem muito a nos dizer, nós que vivemos em uma sociedade na qual, ao lado de imensas riquezas, cresce de maneira silenciosa a mais abjeta pobreza; na qual raramente se escuta o grito dos pobres; na qual Cristo continua a chamar-nos a amá-Lo e servir estendendo a mão aos nossos irmãos e irmãs mais necessitados”. Na providência misteriosa de Deus, a fé cristã não chegou às costas da Coreia por intermédio de missionários; mas entrou através dos corações e das mentes do próprio povo coreano. Este foi estimulado à fé pela curiosidade intelectual, pela busca da verdade religiosa. Foi através dum encontro inicial com o Evangelho que os primeiros cristãos coreanos abriram as suas mentes a Jesus.
Queriam saber mais sobre este Cristo que sofreu, morreu e ressuscitou dos mortos; e este aprender algo sobre Jesus bem depressa levou a um encontro com o próprio Senhor, aos primeiros batismos, ao desejo duma vida sacramental e eclesial plena e aos inícios dum compromisso missionário. Além disso, frutificou em comunidades que se inspiravam na Igreja primitiva, onde os fiéis formavam verdadeiramente um só coração e uma só alma, sem olhar às diferenças sociais tradicionais, e possuíam tudo em comum (cf. Act 4, 32).
Esta história é muito elucidativa sobre a importância, a dignidade e a beleza da vocação dos leigos. Dirijo a minha saudação a tantos fiéis leigos aqui presentes, especialmente às famílias cristãs que diariamente, com o seu exemplo, educam os jovens para a fé e o amor reconciliador de Cristo. De modo especial, saúdo os inúmeros sacerdotes aqui presentes: através do seu ministério generoso, transmitem o rico património de fé cultivado pelas passadas gerações de católicos coreanos.
O Evangelho de hoje contém uma mensagem importante para todos nós. Jesus pede ao Pai que nos consagre na verdade e nos guarde do mundo. Antes de mais nada, é significativo que Jesus, ao pedir ao Pai que nos consagre e guarde, não Lhe pede para nos tirar do mundo. Sabemos que envia os seus discípulos para serem fermento de santidade e verdade no mundo: o sal da terra e a luz do mundo. Nisto, os mártires mostram-nos o caminho.
Algum tempo depois que as primeiras sementes de fé foram lançadas nesta terra, os mártires e a comunidade cristã tiveram que escolher entre seguir Jesus ou o mundo. Tinham escutado a advertência do Senhor, ou seja, que o mundo os odiaria por causa d’Ele (cf. Jo 17, 14); sabiam qual era o preço de ser discípulo. Para muitos, isso significou a perseguição e, mais tarde, a fuga para as montanhas, onde formaram aldeias católicas.
Hoje, muitas vezes, experimentamos que a nossa fé é posta à prova pelo mundo, sendo-nos pedido de muitíssimas maneiras para condescender no referente à fé, diluir as exigências radicais do Evangelho e conformar-nos com o espírito do tempo. Mas os mártires chamam-nos a colocar Cristo acima de tudo, considerando todas as demais coisas neste mundo em relação a Ele e ao seu Reino eterno. Os mártires levam-nos a perguntar se há algo pelo qual estamos dispostos a morrer.
Além disso, o exemplo dos mártires ensina-nos a importância da caridade na vida de fé. Foi a pureza do seu testemunho de Cristo, manifestada na aceitação da igual dignidade de todos os batizados, que os levou a uma forma de vida fraterna que desafiava as rígidas estruturas sociais do seu tempo. Foi a sua recusa de separar o duplo mandamento do amor a Deus e do amor ao próximo que os levou a tão grande solicitude pelas necessidades dos irmãos. O seu exemplo tem muito a dizer a nós que vivemos numa sociedade onde, ao lado de imensas riquezas, cresce silenciosamente a pobreza mais abjeta; onde raramente se escuta o grito dos pobres; e onde Cristo continua a chamar, pedindo-nos que O amemos e sirvamos, estendendo a mão aos nossos irmãos e irmãs necessitados.
Hoje é um dia de grande alegria para todos os coreanos. O legado do Beato Paulo Yun Ji-chung e dos seus Companheiros – a sua retidão na busca da verdade, a sua fidelidade aos supremos princípios da religião que tinham escolhido abraçar, bem como o seu testemunho de caridade e solidariedade para com todos – tudo isso faz parte da rica história do povo coreano. O legado dos mártires pode inspirar todos os homens e mulheres de boa vontade a trabalharem harmoniosamente por uma sociedade mais justa, livre e reconciliada, contribuindo assim para a paz e a defesa dos valores autenticamente humanos neste país e no mundo inteiro.
Possam as orações de todos os mártires coreanos, em união com as de Nossa Senhora, Mãe da Igreja, obter-nos a graça de perseverar na fé e em toda a boa obra, na santidade e pureza de coração e no zelo apostólico de testemunhar Jesus nesta amada Nação, em toda a Ásia e até aos confins da terra.
KKOTTONGNAE
(COTONÉ)
Durante sua passagem por Kkottongnae (Cotoné) neste sábado, Papa
Francisco deteve-se em oração silenciosa diante das cruzes que representam as
crianças que jamais puderam ver a luz do mundo.
O Papa Francisco, em geral, evita pronunciar-se sobre temas como o aborto, argumentando que a doutrina da Igreja para a santificação da vida é bastante conhecida e que ele prefere enfatizar outros aspectos do ensinamento da Igreja.No entanto, o Papa fez, neste sábado, um forte pronunciamento, apesar de silencioso, contra o aborto, ao reter-se em oração diante de um monumento para crianças que jamais viram a luz do mundo. O local faz parte da comunidade dedicada aos cuidados de pessoas com deficiências genéticas que, frequentemente, são utilizadas para justificar os abortos.
O Papa baixou a cabeça em oração diante das centenas de cruzes brancas do
monumento e conversou com um ativista anti-aborto que não tem nem os braços e
nem as pernas.
Zenit/Radio Vaticano/Romereports
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