Quando estava em Roma, no ano 2001, assisti admirado,
na Praça de São Pedro, à chegada de milhares de fiéis do
movimento Kolping, vindos da Alemanha, sobretudo homens, cantando com
entusiasmo contagiante. Comentei então com um Cardeal alemão que estava ao meu
lado: “Diante disso, Eminência, não se pode dizer que a Alemanha não seja um
país católico!” Ele, porém, observou, acalmando um pouco o meu entusiasmo: “É,
mas a Fé sempre corre perigo!”. Era o Cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da
Congregação para a Doutrina da Fé.
O Papa tem se mostrado preocupado com a crise da Fé:
“Desde o princípio do meu ministério como Sucessor de Pedro, lembrei a
necessidade de redescobrir o caminho da fé para fazer brilhar, com evidência
sempre maior, a alegria e o renovado entusiasmo do encontro com Cristo...
Sucede não poucas vezes que os cristãos sintam maior
preocupação com as consequências sociais, culturais e políticas da fé do que
com a própria fé, considerando esta como um pressuposto óbvio da sua vida
diária. Ora, tal pressuposto não só deixou de existir, mas frequentemente acaba
até negado. Enquanto, no passado, era possível reconhecer um tecido cultural
unitário, amplamente compartilhado no seu apelo aos conteúdos da fé e aos
valores por ela inspirados, hoje parece que já não é assim em grandes sectores
da sociedade devido a uma profunda crise de fé que atingiu muitas
pessoas. Não devemos aceitar que o sal se torne insípido e a luz fique
escondida... Devemos readquirir o gosto de nos alimentarmos da Palavra de Deus,
transmitida fielmente pela Igreja, e do Pão da vida, oferecidos como sustento
de quantos são seus discípulos...” (Carta Apostólica Porta Fidei, pela
qual Bento XVI proclama o Ano da Fé).
Nesse momento, reúne-se com o Santo Padre em Roma a
XIII Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, tendo por tema “A nova
evangelização para a transmissão da fé cristã”.
O que moveu o Papa a essa nova evangelização ele já
havia lembrado no discurso inaugural da Conferência do CELAM, em Aparecida:
“Percebe-se certo enfraquecimento da vida cristã no conjunto da sociedade e da
própria pertença à Igreja Católica”. Na mesma linha, os Bispos do CELAM
escreveram: “O Santo Padre nos responsabilizou ainda mais, como Igreja, na
grande tarefa de proteger e alimentar a fé do povo de Deus...
Nas últimas décadas vemos com preocupação, que
numerosas pessoas perdem o sentido transcendental de suas vidas e abandonam as
práticas religiosas... Não resistiria aos embates do tempo atual uma fé
católica reduzida a uma bagagem, a um elenco de algumas normas e de proibições,
a práticas de devoção fragmentadas, a adesões seletivas e parciais das verdades
da fé, a uma participação ocasional em alguns sacramentos, à repetição de
princípios doutrinais, a moralismos brandos ou crispados que não convertem a
vida dos batizados. Nossa maior ameaça é o medíocre pragmatismo da vida
cotidiana da Igreja, no qual, aparentemente, tudo procede com normalidade, mas
na verdade a fé vai se desgastando e degenerando em mesquinhez” (Documento de
Aparecida, n. 7, 12, 100 f ).
*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São
João Maria Vianney