Homilia de Padre Marcos Belizário no 30º
Domingo do Tempo Comum – Ano B
Quando pensamos na nossa civilização atual, nos nossos
valores, exaltando a eficiência, a riqueza, o conforto, o bem-estar, o vigor e
forma física, a saúde…
Como os critérios de Deus são diferentes! Israel é
imagem da Igreja e é imagem de cada um de nós, membro do povo de Deus da nova
Aliança. À medida que descobrirmos nossas pobrezas pessoais e eclesiais,
podemos também ter certeza que o Senhor não nos abandona: ele nos chama, ele
nos reúne, ele nos salva: “Entre eles há cegos e aleijados, mulheres grávidas e
parturientes”, gente fraca, gente sem força, gente incapaz de se defender… Mas,
Deus é nossa defesa: defesa da Igreja, defesa de cada um de nós!
Se
caminharmos, muitas vezes, chorando, semeando com lágrimas o caminho de nosso
seguimento de Cristo, haveremos de voltar cantando, na força e na graça do
Senhor: “Mudai a nossa sorte, ó Senhor, como torrentes no deserto. Os que
lançam as sementes entre lágrimas, ceifarão com alegria. Chorando de tristeza
sairão, espalhando suas sementes; cantando de alegria voltarão, carregando os
seus feixes”.
Somente pode experimentar isso aqueles que sabem e experimentam
que são pobres diante de Deus, aqueles que sentem sua própria fraqueza! Esta é
a experiência que o cristão deve fazer sempre na sua vida, seja pessoalmente,
seja como Igreja! Somos pobres, mas Deus é nossa riqueza; somos fracos, mas
Deus é nossa força!
Agora podemos deter-nos no Evangelho de hoje, que
mostra de modo maravilhoso essa experiência cristã de ser salvo por Deus em
Jesus Cristo. Jesus está saindo de Jericó, já está perto de Jerusalém, onde
morrerá. Uma multidão o acompanha: barulho, empurra-empurra, aglomeração,
aperreio… À beira do caminho, havia um cego mendigo… Ele era ninguém, nem nome
tinha… Marcos só diz que era o “bar-Timeu”, o filho de Timeu… Cego, incapaz de
caminhar sozinho, esmolando, sentado à margem do caminho de Jericó e da vida.
Este cego é a humanidade; este cego é cada um de nós! Mas, ele ouve o rumor, a
confusão no caminho e quando ouviu dizer que Jesus estava passando, não perde
tempo; é a chance de sua vida! Ele grita alto: “Jesus, filho de Davi, tem
piedade de mim!” Repreendem o cego, mas ele grita com voz mais forte!
Ele sabe
que é a chance da sua vida. Santo Agostinho dizia: “Eu temo o Cristo que
passa”… É preciso não perder a chance, é preciso gritar… não deixar o Cristo
passar em vão no caminho da nossa existência!