Um dos nomes dados à Celebração eucarística é o de
“Missa”, “porque a liturgia na qual se realizou o mistério da salvação
termina com o envio (= missio) dos fiéis para que cumpram a vontade de Deus na
sua vida cotidiana” (Catecismo, 1332). “Ide!” – é a última palavra de Missa.
Ide para testemunhardes o que vivestes, o que celebrastes! Acabastes de escutar
o Senhor que vos falou nas Escrituras; acabastes de comer e beber com ele e o
reconhecestes ao partir o pão (cf. Lc 24,35). Agora, deveis levantar-vos e ir
adiante, testemunhando que o Senhor está vivo, que ele caminha conosco! Eis o
sentido do termo “missa”. A missa termina com o envio à missão de testemunhar o
Cristo com nossa palavra e com nossa vida.
Ao participar do Banquete eucarístico, no qual Cristo
entrega-se pelo mundo inteiro, no qual as realidades deste mundo, pão e vinho,
são transfiguradas no Corpo e no Sangue do Senhor, o cristão tem o dever
sagrado de consagrar o mundo para o Senhor. Isto se realiza assumindo com amor
e responsabilidade as tarefas e desafios de cada dia, procurando, nas
realidades temporais, testemunhar e edificar o Reino de Deus que Cristo pregou
e inaugurou pela sua existência humana, até a morte e ressurreição.
O anúncio missionário de Jesus não se faz somente com
a palavra e a pregação, mas também com o engajamento do testemunho concreto dos
cristãos nos grandes desafios e problemas do mundo atual: “Muitos são os
problemas que obscurecem o horizonte do nosso tempo. Basta pensar quanto seja
urgente trabalhar pela paz, colocar sólidas premissas de justiça e
solidariedade nas relações entre os povos, defender a vida humana desde a
concepção até ao seu termo natural. E também que dizer das mil contradições dum
mundo ‘globalizado’, onde parece que os mais débeis, os menores e os mais
pobres pouco podem esperar? É neste mundo que tem de brilhar a esperança
cristã! Foi também para isto que o Senhor quis ficar conosco na Eucaristia,
inserindo nesta sua presença sacrificial e comensal a promessa duma humanidade
renovada pelo seu amor.
Alimentando-se da Eucaristia, os cristãos nutrem a sua vida e tornam-se vida que sustenta o mundo, dando assim sentido cristão à vida, que é sentido sacramental. Estas missão e responsabilidade são tanto mais urgentes no mundo atual, sufocado pela perda do sentido de Deus e do sagrado; mundo atolado no seu próprio fechamento, que já não consegue perceber a existência à luz do desígnio de Deus. Pois bem, é deste sacramento que provém, para o cristão a experiência mais forte de um sentido da vida como dom de Deus e parceria com o Senhor. Também da Eucaristia brota o dom da caridade e da solidariedade em relação ao mundo, pois o Sacramento do altar não pode separar-se do mandamento novo do amor recíproco.
Esse Sacramento bendito nos impele para o mundo, “para
as águas mais profundas”, no testemunho daquele Senhor a quem vimos e ouvimos.
Eis por que a Eucaristia é a força que nos transforma, enche de santa certeza e
entusiasmo, e fortalece as nossas virtudes; estimula a nossa caminhada na
história, lançando uma semente de ativa esperança na dedicação diária de cada
um aos seus próprios deveres, na família, no trabalho, no empenho político.
Desta nota social da Eucaristia, a missão de cada um na Igreja recebe força e
confiança.
Santo Inácio de Antioquia definia os cristãos como
aqueles que“vivem de acordo com o Domingo”, na fé da ressurreição do Senhor e
da sua presença na Celebração eucarística. Viver “de acordo com o Domingo”, dia
de Eucaristia, é viver na esperança da presença e da vinda do Senhor, o que faz
do cristão um construtor do mundo novo a ser consagrado a Cristo Jesus!
A narrativa do encontro do Senhor Jesus com os
discípulos de Emaús. Desanimados e abatidos pela dura realidade da vida, eles
se renovam e sentem o coração arder quando o Senhor caminha com eles e, na
estrada da vida, explica-lhes nas Escrituras o sentido dos acontecimentos.
Ouvindo o Senhor, a dura realidade vai tomando nova feição e novo sentido. Este
itinerário se completa quando o Ressuscitado senta-se com eles para a Fração do
Pão. Então, seus olhos se abrem e eles reconhecem o Senhor. Detalhe importantíssimo
é que os dois discípulos já não conseguem ficar parados e inativos. “Naquela
mesma hora, levantaram-se... e narraram os acontecimentos do caminho e como o
haviam reconhecido na Fração do Pão” (Lc 24,33.35). Também a Comunidade
celebrante não pode ficar parada, inerte, ante tão profunda experiência de
escutar o Senhor nas Escrituras e com ele partir o Pão e repartir o Cálice.
Deve levantar-se, deve correr ao mundo, deve anunciar o Senhor!
Essa sede missionária é uma medida muito importante da fecundidade e da verdade das eucaristias de nossas comunidades.
Essa sede missionária é uma medida muito importante da fecundidade e da verdade das eucaristias de nossas comunidades.
CATÓLICOS
Dom Henrique Soares
da Costa