Com uma expressão solene para contrastar sua
personalidade, muitas vezes alegre, Papa Francisco deu início a uma vigília de
oração de quatro horas diante de milhares de pessoas na Praça de São
Pedro.
O evento começou com uma saudação litúrgica do Papa. Ele
foi seguido pela entronização do Salus Populi Romani , o ícone
bizantino da Madonna venerado pelos romanos.
“Deus viu que isso era bom” (Gn 1,12.18.21.25). A
narração bíblica da origem do mundo e da humanidade nos fala de Deus que olha a
criação, quase a contemplando, e repete uma e outra vez: isso é bom. Isso nos
permite entrar no coração de Deus e recebermos a sua mensagem que procede
precisamente do seu íntimo. Podemos nos perguntar: qual é o significado desta
mensagem? O que diz esta mensagem para mim, para ti, para todos nós?
Simplesmente nos diz que o nosso mundo, no coração e
na mente de Deus, é “casa de harmonia e de paz” e espaço onde todos podem
encontrar o seu lugar e sentir-se “em casa”, porque é “isso é bom”. Toda a
criação constitui um conjunto harmonioso, bom, mas os seres humanos em
particular, criados à imagem e semelhança de Deus, formam uma única família, em
que as relações estão marcadas por uma fraternidade real e não simplesmente de
palavra: o outro e a outra são o irmão e a irmã que devemos amar, e a relação
com Deus, que é amor, fidelidade, bondade, se reflete em todas as relações
humanas e dá harmonia para toda a criação. O mundo de Deus é um mundo onde cada
um se sente responsável pelo outro, pelo bem do outro.
Esta noite, na reflexão,
no jejum, na oração, cada um de nós, todos nós pensamos no profundo de nós
mesmos: não é este o mundo que eu desejo? Não é este o mundo que todos levamos
no coração? O mundo que queremos não é um mundo de harmonia e de paz, em nós
mesmos, nas relações com os outros, nas famílias, nas cidades, nas e entre as
nações? E a verdadeira liberdade para escolher entre os caminhos a serem
percorridos neste mundo, não é precisamente aquela que está orientada pelo bem
de todos e guiada pelo amor?
Mas perguntemo-nos agora: é este o mundo em que
vivemos? A criação conserva a sua beleza que nos enche de admiração; ela
continua a ser uma obra boa. Mas há também “violência, divisão, confronto,
guerra”. Isto acontece quando o homem, vértice da criação, perde de vista o
horizonte da bondade e da beleza, e se fecha no seu próprio egoísmo.
Quando o homem pensa só em si mesmo, nos seus próprios
interesses e se coloca no centro, quando se deixa fascinar pelos ídolos do
domínio e do poder, quando se coloca no lugar de Deus, então deteriora todas as
relações, arruína tudo; e abre a porta à violência, à indiferença, ao conflito.
É justamente isso o que nos quer explicar o trecho do Gênesis em que se narra o
pecado do ser humano: o homem entra em conflito consigo mesmo, percebe que está
nu e se esconde porque sente medo (Gn 3, 10); sente medo do olhar de Deus;
acusa a mulher, aquela que é carne da sua carne (v. 12); quebra a harmonia com
a criação, chega a levantar a mão contra o seu irmão para matá-lo. Podemos
dizer que da harmonia se passa à desarmonia? Não. Não existe a “desarmonia”: ou
existe harmonia ou se cai no caos, onde há violência, desavença, confronto,
medo...
É justamente nesse caos que Deus pergunta à
consciência do homem: "Onde está o teu irmão Abel?". E Caim responde "Não sei.
Acaso sou o guarda do meu irmão?" (Gn 4, 9). Esta pergunta também se dirige a
nós, assim que também a nós fará bem perguntar: - Acaso sou o guarda do meu irmão? Sim, tu és o guarda
do teu irmão! Ser pessoa significa sermos guardas uns dos outros! Contudo,
quando se quebra a harmonia, se produz uma metamorfose: o irmão que devíamos
guardar e amar se transforma em adversário a combater, a suprimir. Quanta
violência surge a partir deste momento, quantos conflitos, quantas guerras
marcaram a nossa história! Basta ver o sofrimento de tantos irmãos e irmãs. Não
se trata de algo conjuntural, mas a verdade é esta: em toda violência e em toda
guerra fazemos Caim renascer. Todos nós! E ainda hoje prolongamos esta história
de confronto entre irmãos, ainda hoje levantamos a mão contra quem é nosso
irmão.
Ainda hoje nos deixamos guiar pelos ídolos, pelo
egoísmo, pelos nossos interesses; e esta atitude se faz mais aguda:
aperfeiçoamos nossas armas, nossa consciência adormeceu, tornamos mais sutis as
nossas razões para nos justificar. Como fosse uma coisa normal, continuamos a
semear destruição, dor, morte! A violência e a guerra trazem somente morte,
falam de morte! A violência e a guerra têm a linguagem da morte!
Neste ponto, me pergunto: É possível percorrer outro caminho? Podemos sair desta espiral de dor e de morte? Podemos aprender de novo a caminhar e percorrer o caminho da paz? Invocando a ajuda de Deus, sob o olhar materno da Salus Populi romani, Rainha da paz, quero responder: Sim, é possível para todos! Esta noite queria que de todos os cantos da terra gritássemos: Sim, é possível para todos! E mais ainda, queria que cada um de nós, desde o menor até o maior, inclusive aqueles que estão chamados a governar as nações, respondesse: - Sim queremos! A minha fé cristã me leva a olhar para a Cruz. Como eu queria que, por um momento, todos os homens e mulheres de boa vontade olhassem para a Cruz!
Neste ponto, me pergunto: É possível percorrer outro caminho? Podemos sair desta espiral de dor e de morte? Podemos aprender de novo a caminhar e percorrer o caminho da paz? Invocando a ajuda de Deus, sob o olhar materno da Salus Populi romani, Rainha da paz, quero responder: Sim, é possível para todos! Esta noite queria que de todos os cantos da terra gritássemos: Sim, é possível para todos! E mais ainda, queria que cada um de nós, desde o menor até o maior, inclusive aqueles que estão chamados a governar as nações, respondesse: - Sim queremos! A minha fé cristã me leva a olhar para a Cruz. Como eu queria que, por um momento, todos os homens e mulheres de boa vontade olhassem para a Cruz!
Na cruz podemos ver a resposta de Deus: ali à
violência não se respondeu com violência, à morte não se respondeu com a
linguagem da morte. No silêncio da Cruz se cala o fragor das armas e fala a
linguagem da reconciliação, do perdão, do diálogo, da paz.
Na cruz podemos ver a resposta de Deus: ali à
violência não se respondeu com violência, à morte não se respondeu com a
linguagem da morte. No silêncio da Cruz se cala o fragor das armas e fala a
linguagem da reconciliação, do perdão, do diálogo, da paz. Queria pedir ao
Senhor, nesta noite, que nós cristãos, os irmãos de outras religiões, todos os
homens e mulheres de boa vontade gritassem com força: a violência e a guerra
nunca são o caminho da paz!
Que cada um olhe dentro da própria consciência e
escute a palavra que diz: sai dos teus interesses que atrofiam o teu coração,
supera a indiferença para com o outro que torna o teu coração insensível, vence
as tuas razões de morte e abre-te ao diálogo, à reconciliação: olha a dor do
teu irmão e não acrescentes mais dor, segura a tua mão, reconstrói a harmonia
perdida; e isso não com o confronto, mas com o encontro! Que acabe o barulho
das armas! A guerra sempre significa o fracasso da paz, é sempre uma derrota
para a humanidade. Ressoem mais uma vez as palavras de Paulo VI: "Nunca mais
uns contra os outros, não mais, nunca mais... Nunca mais a guerra, nunca mais a
guerra!"
(Discurso às Nações Unidas, 4 de outubro de 1965: ASS 57 [1965], 881).
"A paz se afirma somente com a paz; e a paz não separada dos deveres da
justiça, mas alimentada pelo próprio sacrifício, pela clemência, pela
misericórdia, pela caridade"
(Mensagem para o Dia Mundial da Paz, de 1976: ASS
67 [1975], 671).
Perdão, diálogo, reconciliação são as palavras da paz: na amada
nação síria, no Oriente Médio, em todo o mundo! Rezemos pela reconciliação e
pela paz, e nos tornemos todos, em todos os ambientes, em homens e mulheres de
reconciliação e de paz. Amém.
Cidade do Vaticano
(RV)
NA VIGÍLIA PELA PAZ, ADESÕES DE
TODO O MUNDO E PROTESTOS CONTRA O ATAQUE MILITAR A SÍRIA
É sempre maior e sem fronteiras as adesões ao Dia de
Oração e Jejum pela paz na Síria, indicado pelo Papa Francisco para este
sábado, 7 de setembro. Novas adesões públicas chegam a cada momento.
As seguintes Instituições do Vaticano divulgaram mensagem por ocasião da
iniciativa: Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos,
Pontifício Conselho para o Diálogo Interreligioso, Comissão para as Relações
Religiosas com o Judaísmo, Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e
as Sociedades de Vida Apostólica e o Pontifício Conselho para as Famílias.
Manifestantes
carregam cartazes, em frente à Casa Branca, em protesto contra intervenção
militar americana na Síria NICHOLAS KAMM / AFP
Aderiram publicamente à iniciativa a Pontifícia Faculdade Teológica São
Boaventura, o Seraphicum, o Centro de Estudos Europa 2010, as Obras de Promoção
da Alfabetização no mundo (OPAM), o Patriarca da Babilônia dos Caldeus, Louis
Raphael I Sako, o Patriarca Ecumênico de Constantinopla Bartolomeo I,
Patriarcas e líderes cristãos do Oriente Médio, o Grão Mufti da Síria Ahmad
Badreddin Hassou, o Arcebispo Metropolita Sírio-ortodoxo de Jazirah e Eufrates
Matta Roham, Comunidades maronitas libanesas, o Sacro Convento de Assis, a
Companhia de Jesus, a Ordem de Santo Agostinho, os Salesianos, as Irmãs
Carmelitas descalço na Terra Santa, a Congregação de Dom Orione.
Manifestantes
caminham pelas ruas do centro de Londres contra possível ataque à Síria OLIVIA
HARRIS / REUTERS
Também os movimentos da Renovação Carismática, Comunhão e Libertação,
Focolares, Pax Christi Itália, Mesa da Paz, Comunidade de Santo Egídio.
Aderiram ainda a Unitalsi, Pime, Auser, Fundação João Paulo II para a Juventude. Comunidade de Vida Cristã, Liga Missionária de estudantes, Fórum Internacional da Ação Católica, Ação Católica italiana.
Aderiram ainda a Unitalsi, Pime, Auser, Fundação João Paulo II para a Juventude. Comunidade de Vida Cristã, Liga Missionária de estudantes, Fórum Internacional da Ação Católica, Ação Católica italiana.
Arquidiocese do Rio de Janeiro, de Belo Horizonte e São Paulo, de Corrientes, Argentina,
Arquidiocese de Santiago, Chile, Diocese de Hong Kong, diversas Arquidioceses e
Dioceses italianas.
Conferências Episcopais do Brasil, Filipinas, Bulgária, Suíça, Índia, Uruguai, Canadá, Egito, Estados Unidos, Irlanda.
Conferências Episcopais do Brasil, Filipinas, Bulgária, Suíça, Índia, Uruguai, Canadá, Egito, Estados Unidos, Irlanda.
Cáritas italiana e Ambrosiana. Instituto Budista italiano Soka Gakkai, Comunidade muçulmana do sul das Filipinas,
Comunidade do Mundo Árabe na Itália, Refugiados sírios cristãos e islâmicos no
Líbano no Campo Maj el Kok.
Manifestantes
seguram cartazes durante protesto contra a intervenção militar na Síria no
centro de Londres . Legisladores britânicos rejeitaram a proposta do
primeiro-ministro David Cameron para o envolvimento britânico em ataques
militares destinadas a punir o regime sírio pelo uso de armas químicas OLIVIA
HARRIS / REUTERS
Além de diversas Prefeituras, Sindicatos e instituições laicas italianas.
Na pequena localidade cristã de Maaloula, ao norte de Damasco, símbolo dos cristianismo na Síria e local de peregrinação para fiéis cristãos e muçulmanos, já se reza pela paz, mesmo com ameaças de grupos armados.
A importância que tem para a comunidade local a proximidade do Papa Francisco é testemunhada também pelo Padre Nawras Sammour, responsável pelo Oriente Médio e o Norte da África dos ‘Jesuítas para ao Refugiados’, que num telefonema à ‘Ajuda à Igreja que sofre’ de Aleppo, condena a possibilidade de uma intervenção armada, recordando que as palavras do Papa foram muito apreciadas também pelo Grão Mufti do país, Ahmad Badreddin Hassou, que manifestou o desejo de rezar junto na Praça São Pedro, no sábado.
Na pequena localidade cristã de Maaloula, ao norte de Damasco, símbolo dos cristianismo na Síria e local de peregrinação para fiéis cristãos e muçulmanos, já se reza pela paz, mesmo com ameaças de grupos armados.
A importância que tem para a comunidade local a proximidade do Papa Francisco é testemunhada também pelo Padre Nawras Sammour, responsável pelo Oriente Médio e o Norte da África dos ‘Jesuítas para ao Refugiados’, que num telefonema à ‘Ajuda à Igreja que sofre’ de Aleppo, condena a possibilidade de uma intervenção armada, recordando que as palavras do Papa foram muito apreciadas também pelo Grão Mufti do país, Ahmad Badreddin Hassou, que manifestou o desejo de rezar junto na Praça São Pedro, no sábado.
Protestos na Times Square contra intervenção militar americana na
Síria após o presidente Obama discursar na Casa Branca Craig Ruttle / AP
Também Maria Saadeh, Greco-católica e deputada no Parlamento de Damasco,
sente-se próxima ao Papa e à “Santa Sé que conhece bem a nossa cultura e pode
apoiar os nossos esforços pela paz e para cessar a violência”.
O ‘grito’ pela paz também se eleva forte em diversas partes do mundo. Na Indonésia, católicos e muçulmanos rezam unidos em comunhão com o Santo Padre, reiterando que “as armas não representam a solução para resolver conflitos”. (JE)
O ‘grito’ pela paz também se eleva forte em diversas partes do mundo. Na Indonésia, católicos e muçulmanos rezam unidos em comunhão com o Santo Padre, reiterando que “as armas não representam a solução para resolver conflitos”. (JE)
VATICAN.VA
--