TODOS NÓS BUSCAMOS UM "DEUS" PARA VIVER, ALGO QUE
INCONSCIENTEMENTE TRANSFORMAMOS, FELICIDADE A TODO CUSTO... CADA UM SABE O
NOME DE SEU “DEUS PRIVADO”, AO QUAL ENTREGA SECRETAMENTE SEU SER. POR ISSO,
QUANDO, NUM GESTO DE “INGÊNUA LIBERDADE”, FAZEMOS ALGO “PORQUE NOS DÁ
VONTADE”, PRECISAMOS PERGUNTAR-NOS O QUE É QUE NAQUELE MOMENTO NOS DOMINA E A
QUEM ESTAMOS OBEDECENDO NA REALIDADE.
O convite de Jesus é provocativo. Só há um caminho
para crescer em liberdade, e só o conhecem aqueles que se atrevem a seguir
Jesus incondicionalmente, colaborando com ele no projeto do Pai: construir um
mundo justo e digno para todos.
Carregar a cruz fazia parte do ritual de execução: o
réu era obrigado a atravessar a cidade carregando a cruz e levando o “titulus”,
um cartaz onde aparecia seu delito.
Desta maneira, era mostrado como culpado
perante a sociedade, excluído do povo como indigno de continuar vivendo entre
os seus.
Foi esta a verdadeira cruz de Jesus. Ver-se rejeitado
pelos dirigentes do povo e aparecer como culpado diante de todos, precisamente
por sua fidelidade ao Pai e seu amor libertador aos homens.
Sem menosprezar outros aspectos da vida cristã, nós
crentes precisamos recordar que o seguidor de Jesus deve estar disposto a
sofrer as reações, rejeições e condenações de seu próprio povo, de seus amigos
e até de seus familiares, provocadas precisamente por sua fidelidade a Deus a
ao Evangelho.
Mais cedo ou mais tarde, todos nós teremos que
sofrer. Uma doença grave, um acidente inesperado, a morte de um ente querido,
desgraças e dilacerações de todo tipo nos obrigam um dia a tomar posição diante
do sofrimento.
O que fazer?
Alguns limitam-se à revolta, é uma atitude
explicável: protestar, revoltar-se diante do mal. Quase sempre esta reação intensifica ainda
mais o sofrimento. A pessoa se crispa e se exaspera. É fácil terminar nos esgotamento e no
desespero.
Outros se fecham no isolamento. Vivem dobrados sobre sua dor, relacionando-se apenas com suas tristezas e sofrimentos. Não se deixam consolar por ninguém. Não aceitam alívio algum. Por esse caminho, a pessoa pode autodestruir-se.
Há os que adotam a postura de vítimas e vivem compadecendo-se de si mesmos. Precisam mostrar seus sofrimentos a todo mundo: “Vejam com sou infeliz”, “Vejam como a vida me maltrata”. Esta maneira de manipular o sofrimento nunca ajuda a pessoa a amadurecer.
A atitude do cristão é diferente. O cristão não ama
nem busca o sofrimento, não o quer nem para os outros nem para si mesmo.
Seguindo os passos de Jesus, luta com todas as suas forças para arrancá-lo do
coração da existência. Mas, quando é inevitável, sabe “carregar sua cruz” em
comunhão com o Crucificado.
Esta aceitação do sofrimento não consiste em
dobrar-nos diante da dor porque ela é mais forte do que nós: isso seria
fatalismo. O crente tampouco procura “explicações” artificiosas, considerando
o sofrimento um castigo, uma prova ou uma purificação que Deus nos envia. O
Pai não é nenhum “sádico” que encontra prazer especial em ver-nos sofrer.
Tampouco tem motivo para exigi-lo, como que a contragosto, para que fique
satisfeita sua honra ou sua glória.
O cristão vê no sofrimento uma experiência na qual,
unido a Jesus, ele pode viver sua verdade mais autêntica. O sofrimento continua
sendo mau, mas precisamente por isso se transforma na experiência mais realista
e profunda para viver a confiança radical em Deus e a comunhão com os que
sofrem.
Vivida assim a cruz é o que há de mais oposto ao pecado.
Por quê? Porque pecar é buscar egoísticamente a própria felicidade, rompendo
com Deus e com os outros. “Carregar a cruz”em comunhão com o Crucificado é
exatamente o contrário: abrir-se confiantemente ao Pai e solidarizar-se com os
irmãos precisamente na ausência de felicidade.
Cf "”O Caminho aberto por Jesus" , José
Antonio Pagola, Ed Vozes , páginas 250-253.
----