CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA DO CENTENÁRIO DA IGREJA SÃO CONRADO E SOLENIDADE DO SAGRADO CORAÇÃO
DE JESUS, PRESIDIDA
POR PADRE MARCOS BELIZÁRIO FERREIRA
O
tema “Igreja” iluminou quase todas as celebrações do Tempo Pascal, com
reflexões ponderando especialmente a Igreja como continuadora do projeto
divino, trazido à terra por Jesus.
Agora, queremos iluminar esta celebração
considerando que a proposta divina só é plenamente compreendida no contexto da
misericórdia divina, ou seja, o projeto divino realiza-se no contexto da
misericórdia divina.
BÊNÇÃO DO CÁLICE DO CENTENÁRIO DA IGREJA SÃO CONRADO |
A compreensão deste aspecto, do ponto de vista
eclesiológico, encontra no Coração de Jesus a expressão simbólica do amor
misericordioso de Deus.
A
Igreja, comunidade dos discípulos e discípulas de Jesus, inspira-se na
misericórdia divina para ser comunidade com um coração como de seu Mestre Jesus (Evangelho).
A Igreja, comunidade de fé, não se caracteriza pelo poder numérico, mas pela
força do amor (1ª leitura).
Não há, por exemplo, necessidade de se
preocupar tanto com estatísticas, mas em viver os mandamentos divinos, pois
pela vivência dos mandamentos, a comunidade eclesial faz pulsar o coração
divino em tudo que realiza.
Pela vivência dos mandamentos, a Igreja conhece os
caminhos de Deus, tornando-se sempre mais paciente, bondosa e compassiva (salmo
responsorial). Isto a impede de ser uma instituição fria ou simples prestadora
de serviços religiosos, mas misericordiosa.
Papa
Francisco faz questão de lembrar, de tempos em tempos, que a Igreja não é uma
ONG piedosa, porque ela existe em vista do projeto divino.
Em algumas
oportunidades, Papa Francisco lembra que a Igreja não tem espírito empresarial,
com fins lucrativos, porque seu Espírito é divino e a conduz nos caminhos da
misericórdia, e a misericórdia não considera lucros, mas a gratuidade para ir
ao encontro das periferias, onde vivem os afadigados (Evangelho).
A
Igreja recebeu o Espírito de Deus para que nós — Corpo de Cristo — vivamos como
Jesus, ou seja, fazendo o bem (At 10,38).
A Igreja existe para fazer o bem
espelhando-se no Coração de Jesus.
Se assim é, à medida que a Igreja vive no
contexto do amor, pulsa nela o mesmo Coração de Jesus, uma vez que é no amor e
pelo amor que vivemos em Deus e Deus permanece em nós (2ª leitura).
Entendemos, assim, que a Igreja é uma comunidade fundada no amor divino e
chamada a testemunhar, através das obras, o amor divino. O simbolismo
sacramental deste amor é o Coração de Jesus.
Na festa do
Sagrado Coração de Jesus, o papa Francisco declarou na homilia que Deus pede
que o homem se faça pequeno para poder comunicar a ele o seu amor.
Deus não espera:
Ele doa; não fala, mas age. O Santo Padre fala do coração de Jesus, celebrado
na liturgia de hoje. Deus, disse Francisco, “nos dá a graça, a alegria de
celebrar no coração do seu Filho as grandes obras do seu amor.
Podemos dizer
que hoje é a festa do amor de Deus em Jesus Cristo, do amor de Deus por nós”.
“Existem dois
aspectos do amor. Primeiro, o amor está mais em dar do que em receber. Segundo:
o amor está mais nas obras do que nas palavras.
Quando dizemos que está mais em
dar do que em receber, é porque o amor se comunica: sempre comunica. E é
recebido pelo amado. E quando dizemos que está mais nas obras do que nas
palavras, é porque o amor sempre dá a vida, faz crescer”.
Para entender o
amor de Deus, o homem tem que procurar uma dimensão inversamente proporcional à
imensidão: a pequenez, “a pequenez do coração”.
Moisés, disse o
papa, explica ao povo judeu que eles foram escolhidos por Deus porque eram “o
menor de todos os povos”. E Jesus, no evangelho, louva o Pai porque Ele
“escondeu as coisas divinas dos doutos e as revelou aos pequenos”.
Deus busca o
homem, portanto, numa “relação papai-filhinho”, o acaricia e lhe diz: “Eu estou
contigo”.
“Esta é a
ternura do Senhor, em seu amor; Ele nos comunica isto e nos dá a força da sua
ternura. Mas, se nos sentimos fortes, nunca teremos a experiência da carícia do
Senhor, as carícias tão belas do Senhor... tão belas”.
“‘Não temas, eu
estou contigo e te dou a mão...’. São palavras do Senhor que nos fazem sentir
aquele misterioso amor que Ele tem por nós. E quando Jesus fala de si mesmo,
Ele nos diz: ‘Eu sou manso e humilde de coração’. Ele também, o Filho de Deus,
se abaixa para receber o amor do Pai”.
Outra prova
particular do amor de Deus, indicou o pontífice, é que Ele nos amou primeiro,
Ele sempre chega antes de nós e nos espera.
O papa Francisco
terminou a homilia pedindo a Deus a graça “de entrarmos neste mundo tão
misterioso, de nos aniquilarmos e de termos este amor que se comunica, que nos
dá alegria e que nos conduz pelo caminho da vida, como crianças levadas pela
mão”.
“Quando nós
chegamos, Ele já está lá; quando nós o buscamos, Ele nos buscou primeiro. Ele
sempre está diante de nós, nos espera para nos receber no seu coração, no seu
amor.
E estas duas coisas podem nos ajudar a entender este mistério do amor de Deus por nós. Para se expressar, Ele precisa da nossa pequenez, do nosso abaixamento. E também precisa do nosso assombro quando o buscamos e o encontramos lá, esperando por nós” (Zenit)
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