A notícia da canonização do jesuíta José de Anchieta surpreendeu, principalmente, os brasileiros. Depois de mais de quatro séculos da sua morte, o reconhecimento oficial da santidade de Anchieta por toda a Igreja, toca profundamente não somente o coração da nação brasileira, mas também exultam de alegria a Espanha e Portugal.
Uma porque foi berço do jesuíta e o alimentou até os seus 14 anos e a outra porque guarda em seu solo as pegadas do início da sua juventude. Contudo, foi o Brasil quem o abrigou por 44 anos em seu chão. Foi este País, que ainda menino, recebeu das mãos de José de Anchieta as primeiras sementes da Evangelização.
POETA NO SOFRIMENTO E NA ALEGRIA
Ao largo dos 44 anos que Anchieta viveu no Brasil, não faltaram dificuldades na vida do missionário. Desde sua enfermidade, que carregou consigo perto da sua vida, até inúmeros riscos de morte através de suas intervenções em favor da paz nas constantes guerras e conflitos. Uma das ocasiões mais arriscadas da vida de Anchieta, foi o exílio que viveu em Iperuí, atual cidade de Ubatuba.
Naquele lugar, o apóstolo, que contava com 29 anos de idade, experimentou um dos momentos mais difíceis de sua existência. Recebia freqüentes ameaças de morte e tentações contra a castidade. Diante de toda essa situação, através de sua alma artística, prometeu compor uma poesia à Virgem Maria. Escreveu nas areias da praia de Iperuí e memorizou quase 6.000 versos, nos quais relatou a história da Mãe de Deus. Deste modo, a arte na vida de Anchieta, se tornava redenção.
No Colégio de Coimbra, o missionário havia adquirido enorme admiração pelo teatrólogo português Gil Vicente. Nesse sentido, com sua sensibilidade e gosto pelo teatro, Anchieta compôs inúmeras peças que passaram a ser apresentadas por todo o Brasil com o objetivo de evangelizar e difundir os bons costumes entre nativos e colonos. Além do célebre poema à Virgem, são muitas as composições feitas por ele, das quais se destacam os seus poemas eucarísticos. Produziu gramática, vocabulário e catecismo na lingua Tupi. Escreveu inúmeras cartas que se tornaram relevantes para a história do Brasil. Por todos esses portentos, Anchieta, além de ser considerado o pai do teatro e da literatura brasileira, é ainda estimado como o primeiro promotor da cultura no País.
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FIDELIDADE ATÉ OS ÚLTIMOS DIAS
Se é possível resumir a vida de Anchieta em apenas algumas palavras, estas seriam: amor e serviço até o fim. São inúmeros os relatos de seus dons colocados a serviço de todos, principalmente em favor dos nativos indígenas. Além de oferecer-lhes a catequese, foi atento a todas as suas necessidades. Aprendeu da sabedoria indígena a utilizar dos recursos naturais para a cura de enfermidades. Não raramente alcançava tais curas por intervenção direta do Altíssimo. São muitos os relatos de milagres realizados, ainda em vida, através de seu clamor a Deus. Como sacerdote, devotou-se, sem cansaço, a percorrer lugares longínquos a fim de oferecer os sacramentos e atender as diversas necessidades dos mais sofredores.
Foi um apóstolo que moldou sua vida Segundo o genuíno carisma jesuítico: o cuidado pela salvação das almas. Como provincial e superior dos jesuítas do Brasil, foi um amigo sempre presente, conservando as qualidades da docilidade e firmeza. Diante das paupérrimas condições de viagem, não fazia caso de sua enferma condição, percorrendo largas distancias através do mar ou com os pés na areia para visitar as missões jesuíticas e os indígenas que ele tanto amava.
Foi ele quem enviou jesuítas para as missões do Rio da Prata que posteriormente deram origem as famosas reduções do Paraguai. Era um incansável apóstolo que encontrava a Deus nas situações aparentemente mais banais da vida e fazia questão de relatá-las detalhadamente em suas cartas. Era um homem de imensa cultura e sabedoria, e esta a colocava sempre a serviço, para o bem da nova Nação.
Os últimos momentos da vida de Anchieta foram vividos na sua querida aldeia de Reritiba no estado do Espírito Santo, cidade que hoje leva o seu nome.
Era o dia 9 de junho de 1597. Com 63 anos de idade, terminava sua travessia por este mundo o incansável missionário José de Anchieta. Ao receber esta triste notícia, aqueles a quem o Pe. Anchieta havia, por toda sua vida, servido, protegido e defendido, aclamavam: «Morreu o nosso pai. O que nos amava como filhos. O que deu a vida por nós!» Estes seus amados indígenas conduziram com imenso pranto e lágrimas o corpo de Anchieta até a cidade de Vitória, onde foi sepultado.
Durante a Missa de corpo presente, este missionário jesuíta que já era amado e tido como santo por todos, foi aclamado, através das palavras do Bispo Dom Bartolomeu, como «Apóstolo do Brasil».
No dia 22 de junho de 1980, o Papa João Paulo II o declarou Bem Aventurado. E agora, brasileiros, espanhóis, portugueses e todo o mundo, temos a imensa felicidade de receber do Papa Francisco a notícia da canonização de José de Anchieta.
O apaixonado e incansável apóstolo que, com apenas 19 anos e limitado por sua enfermidade, aportou seus sonhos em cais brasileiros e semeou as primícias do Evangelho no maior país católico do mundo.
São José de Anchieta, SJ
«o Apóstolo do Brasil»
Bruno Franguelli, SJ
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Ouça a Missa indígena
"Kewere: Rezar", com versos cristãos de José de Anchieta e textos da
liturgia. Com a voz de Marlui
Miranda, a "Kewere: Rezar" foi apresentada na ocasião dos 400 anos da morte do padre Anchieta, e inspirada
em motivos de diversos povos indígenas com coral de 90 vozes e participação da
Orquestra Jazz Sinfônica.
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